Enéas Athanázio
NA BOCA DO POVO
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O excelente “Boletim C. S. C.”, do Rio de Janeiro, em seu número mais
recente, publicou interessante matéria sobre ditos populares que correm de
boca em boca e cujos significados e origens muitas vezes são desconhecidos.
É uma pesquisa das mais curiosas e que bem merece um comentário.
Jurar de pés juntos – A expressão deriva de torturas aplicadas durante a
Inquisição. O acusado de heresia tinha pés e mãos amarrados juntos e era
submetido a torturas até dizer a “verdade”, ou aquela que os torturadores
entendiam como verdade. Hoje é usada para afirmar a veracidade de uma
afirmação.
Tirar o cavalo da chuva – Antigamente o visitante chegava
a cavalo e o animal ficava amarrado numa cerca e na intempérie. Quando a
visita era longa, o dono da casa mandava recolher o cavalo ao galpão, ou
seja, tirá-lo da chuva. Significava que o visitante não deveria sair tão
logo. Com o passar do tempo, tirar o cavalo da chuva implica em negar alguma
coisa, provocar a desistência.
Dar com os burros n’água – Na época
dos transportes em lombo de burros por caminhos tortuosos, as tropas tinham
que varar rios e alagados. Muitas vezes os animais caíam ou afundavam sob o
peso das cargas, ou seja, os burros davam n’água. Hoje significa o fracasso
de alguém ao pretender realizar alguma coisa.
Guardar a sete chaves –
Os nobres guardavam suas jóias e documentos em baús com quatro chaves, cada
uma entregue a um alto funcionário de confiança. Com o tempo o número foi
aumentado para sete chaves em virtude do sentido místico desse número. Hoje,
guardar a sete chaves significa dizer que algo está muito bem guardado.
Para inglês ver – A Inglaterra exigia que o Brasil aprovasse leis proibindo
o tráfego de escravos. Mas todos sabiam que elas eram burladas e
desobedecidas. Eram, portanto, leis para inglês ver. Daí surgiu a expressão,
significando algo que vale apenas na aparência.
Rasgar seda – Elogio
exagerado é considerado uma rasgação de seda. Numa peça teatral de Martins
Pena um vendedor se põe a elogiar os tecidos que vende, tentando conquistar
uma moça. Percebendo o propósito dele, a moça diz: Não rasgue a seda que ela
esfiapa!
O pior cego é o que não quer ver – Quando foi feito o
primeiro transplante de córnea, na França, e o paciente passou a enxergar,
ficou tão horrorizado com o que viu que preferiu retornar à cegueira. O caso
foi parar nos tribunais e o ex-cego obteve ganho de causa. Desde então ficou
conhecido como o cego que não quis ver. Hoje significa aquele que se recusa
a ver a realidade.
Quem não tem cão, caça com gato – Significava, no
início, que quem não tem cão caça como gato, ou seja, esgueirando-se, com
astúcia, à traição, como fazem os gatos. Hoje significa que quem não tem o
mais deve se contentar com o menos.
Vai tomar banho! – Os
colonizadores não eram dados a banhos e, em consequência, cheiravam mal. Seu
bodum repugnava aos índios, acostumados ao banho diário e ao contato com a
água. Então os índios, fartos de lidar com os portugueses, os mandavam tomar
banho.
Pensando na morte da bezerra – Expressão pouco conhecida aqui
no Sul, vem do folclore hebraico onde os bezerros eram sacrificados para
Deus. Um filho do rei Absalão tinha grande apreço por uma bezerra que foi
sacrificada e quando ela morreu ficou pensando nela até morrer alguns meses
depois. Então, pensar na morte da bezerra é entristecer, sofrer, sucumbir ao
sofrimento.
Ok! (Okay!) – Significa algo positivo, que está bem.
Durante a Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, quando os soldados
retornavam dos combates sem baixas colocavam uma placa com os dizeres: “O
killed” (zero morto). Daí surgiu o termo OK!
A pesquisa foi realizada
por José Carlos do Amaral, de Minas Gerais.
E forró, de onde vem? –
Segundo se diz em Natal, durante a presença de tropas americanas na cidade,
no correr da II Guerra Mundial, os soldados organizavam bailes para todos,
ou for all. A expressão foi abrasileirada e virou forró.
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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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