Enéas Athanázio
A LÍNGUA NOSSA DE CADA DIA
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A língua é o maior patrimônio cultural de um povo e por isso merecedora
do maior respeito. É uma entidade viva e complexa, em constante mutação.
Algumas florescem e se impõem ao uso de milhões de pessoas; outras, ao
contrário, declinam, fenecem e até morrem. Exemplo marcante é o do Latim,
idioma de imensa influência em tempos antigos e que caiu em desuso e
desapareceu, ainda que deixando vários “filhotes.”
Toda língua tem
suas normas e regras que precisam ser conhecidas para que possa ser manejada
com segurança e correção. O estudo desses temas constitui objeto da ciência
denominada Filologia e os estudiosos que a ela se entregam são os filólogos
ou gramáticos. O Brasil sempre teve e ainda tem estudiosos da língua
portuguesa de reconhecida competência científica. Dentre os atuais, em
franca atividade, muitos estão integrados à Academia Brasileira de
Filologia, com sede no Rio de Janeiro, dos quais destaco, sem demérito dos
demais, os nomes de Deonísio da Silva, vice-presidente, Antônio Martins de
Araújo, editor da revista, Cunha e Silva Filho, professor e escritor, e
Manoel Pinto Ribeiro, redator-chefe, porque os conheço melhor.
Manoel
Pinto Ribeiro é autor, entre outras obras, de uma “Gramática Aplicada da
Língua Portuguesa”, que já se encontra na 23ª. edição, sempre atualizada,
eis que foi lançada em 1976, (Metáfora Editora – Rio de Janeiro – 2017).
Trata-se de uma obra monumental, daquelas que Monteiro Lobato chamava de
livro para morar porque pode ser lido, relido, treslido e consultado
infinitas vezes sem jamais se esgotar. Foi acrescida de um segundo volume
designado Livro de Respostas. Nem é necessário dizer que é um livro
completo, abordando todas as facetas da língua e dando ao leitor uma visão
integral do Português e seus mistérios. Tudo exposto de maneira clara e
objetiva, sempre calcado em sólidas fontes e com centenas de exemplos
explicativos. Um manancial inesgotável de informações, além de abordar temas
correlatos, tornando a leitura mais interessante e mais viva.
Segundo
Hernani Donato, a palavra escrita foi uma das mais importantes conquistas do
homem, só equiparada à do fogo. Sem elas, viveríamos hoje como nossos
antepassados. Ela, a palavra, expressa nosso pensamento, nosso sentimento e
nossas ideias, preservando-os no espaço e no tempo.
O autor
prestigia os textos literários e até jornalísticos para ilustrar suas
exposições, acentuando as características de cada um. Aborda de forma
científica a distinção entre língua e linguagem, fonética e fonologia, a
sociolingüística, ortografia, morfologia, sintaxe, pontuação, estilística,
versificação, semântica e vários outros capítulos não menos importantes ao
perfeito domínio da língua portuguesa. Dedica atenção aos vocábulos
homônimos, ao apóstrofo, à crase (via crucis dos que escrevem), aos
neologismos, prefixos gregos e latinos, numerais, pontuação etc. Aborda
ainda, em capítulos especiais, a versificação, a estilística, a absorção de
palavras estrangeiras, em especial do inglês, e fornece um grande elenco de
expressões latinas de uso corrente, cuja leitura me trouxe à lembrança os
estudos de Direito Romano. A técnica da redação oficial, incluindo
abreviaturas, a linguística teatral e muitos outros aspectos são expostos
para tornarem o livro um mestre inigualável na arte de bem falar e escrever
o Português, Como aconselhou alguém, “Torne-se perito no falar porque por
esse meio poderá elevar-se. A língua do homem é arma e a fala é mais
poderosa que o combate.” (Frase encontrada no túmulo de um faraó, escrita há
três mil anos – p. 467).
Em outro livro, indispensável para quem
escreve, o Prof. Manoel P. Ribeiro analisa o Novo Acordo Ortográfico que
entrou em vigor em 2013 visando unificar a língua portuguesa nos países
lusófonos (Metáfora Editora – Rio de Janeiro – 2012 – 2ª. edição). Com
idêntica clareza e segurança, o autor esmiúça as normas impostas pelo
acordo, as alterações e novidades dele decorrentes, sempre exemplificando
com exercícios que afastam as dúvidas do leitor estudioso. A ortografia é da
maior importância em uma língua para expressar com perfeição o pensamento
humano. “A luta contra o erro tipográfico – escreveu Lobato – tem algo de
homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente
invisíveis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos,
verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um
mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar” (p. 11).
As
obras do Prof. Manoel P. Ribeiro foram consagradas pela mais categorizada
crítica. Com elas, só fala e escreve errado quem quer.
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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