Enéas Athanázio
GÊNIO E REBELDE
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Tristan Tzara foi uma figura célebre e controversa na Paris da belle
époque. Frequentava o mesmo café onde se reuniam os membros da chamada
“geração perdida”, entre os quais Ernest Hemingway, em cujas obras se
encontram referências a ele. Nascido Samuel Rosesnstock (1896/1963), de
família judia, veio ao mundo na Romênia e faleceu em Paris. Adotou o
pseudônimo com que se tornou célebre, cuja tradução livre é “triste em meu
país.” Desde muito cedo se revelou um contestador e vanguardista,
colaborando em periódicos de seu país. Viveu na Alemanha, na Espanha e em
Paris, onde se fixou em definitivo, tendo adquirido a nacionalidade
francesa. Estudou Ciências Humanas e Filosofia em Zurique. Durante a II
Guerra Mundial sofreu perseguições antissemitas, obrigando-se a se refugiar
no sul da França, tendo participado da Resistência Francesa como elo de
ligação com intelectuais simpatizantes.
Com outros escritores, poetas
e artistas, criou o Movimento Dadaísta, cujo manifesto foi lançado em 1918
com intensa repercussão. Nele, o grupo investia contra a poesia
convencional, os valores estéticos, culturais e morais imperantes, propondo
a destruição dos cânones vigentes numa sociedade que considerava em franca
decomposição. Suas ideias revolucionárias teriam sido inspiradoras do
Surrealismo. Não obstante, é considerado um dos grandes expoentes da
literatura francesa do Século XX.
Para ele, a poesia haveria de ser
transgressora e rebelde, alheia aos significados lógicos da linguagem, mesmo
que não fosse entendida pelo vulgo. Propunha a associação de termos
incompatíveis entre si e uma sucessão de ritmos caóticos. Entre seus
princípios estavam: a abolição da lógica, de toda hierarquia, da memória,
das profecias, do futuro e das dores crispadas, dos grotescos e das
incongruências. O entrelaçamento dos contrários e de todas as contradições
eram alguns de seus postulados. Autor de uma obra vasta e complexa, aliava a
rebeldia agressiva a um socialismo utópico.
Para orientar os
interessados, forneceu a receita de um poema dadaísta. Leia um artigo de
jornal, - instruiu ele – depois use uma tesoura e o recorte. Em seguida, com
muito cuidado, recorte palavra por palavra, ponha tudo num saquinho e sacuda
de leve para misturar. Vá tirando e copiando cada uma das palavras e você
terá um poema muito parecido com você e repleto de sensibilidade, embora
ninguém o entenda e talvez nem mesmo seu autor (digo eu). Com base nessas
instruções, vamos construir um
POEMA DADÁ
Com prisões guerra deputado institucional Tendências
erramos disputa casas política Contato continuidade membros da justiça
Usurpar aproximou destroços gabinete segura Para xadrez a da chinês
judiciário Assembleia chegam ministério máximo final Paz debates mira
pacheco extra Zona da poder mais e para crítico Mesa alerta faltou é
do inovação Importantes xis minha história estrutura A em que o da ao
...
O leitor entendeu? Confesso que também não! Será mesmo parecido
comigo?
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Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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