Enéas Athanázio
LIMA BARRETO EM EVIDÊNCIA
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Afonso Henriques de Lima Barreto (13/05/1881 – 1º./11/1922) foi uma das
maiores figuras do pré-modernismo nas letras nacionais. Não obstante, foi em
vida um injustiçado. Embora outros escritores e muitos leitores
reconhecessem seu talento, nunca foi aceito pela sociedade em geral,
observado com desprezo e tido como um boêmio, o que não refletia a
realidade. Foi, na verdade, um intelectual sério e encarava com rara
consciência profissional sua carreira de escritor. Leitor incansável, lutou
com denodo para criar uma obra de valor, ainda que despindo-a da literatice
dominante e do hermetismo inacessível. Seu ideal ara uma literatura que
chegasse ao povo e pudesse ser absorvida por qualquer pessoa letrada.
Postura nem sempre compreendida. Suburbano, como dizia, morador do subúrbio
de Todos os Santos, mulato e pobre, nos últimos anos de vida se entregou ao
alcoolismo que o matou aos 41 anos de idade.
Lima Barreto cultivava
a simplicidade sem ser simplório. Escrevia de forma direta e sem rodeios,
expondo suas ideias com clareza e precisão. Com isso, contrariava a opinião
de muitos eruditos que viam a cultura em geral e até a alfabetização como um
privilégio das classes mais abonadas. O pensador francês Gustave Le Bon, que
exerceu grande influência no Brasil, sustentava que “havia evidências
estatísticas de que a criminalidade aumentava com a disseminação da educação
e de que a escolarização criava inimigos da sociedade.” Lima, ao contrário,
previa o surgimento da sociedade de massas e desejava que sua obra chegasse
até ela. Mais tarde, Anísio Teixeira e Monteiro Lobato sustentariam que
educação é um direito e jamais um privilégio. Além disso, nas suas
publicações em revistas e jornais, Lima Barreto praticava uma literatura
militante, desancando as mazelas dos políticos da Velha República.
Neste ano de 2017 os fados têm socorrido o escritor e vários acontecimentos
o colocaram em evidência. Foi o homenageado da FLIP (Festa Literária
Internacional de Paraty), onde sua obra foi debatida por estudiosos, entre
os quais Antônio Arnoni Prado, Lilia Moriiz Schwarcz, Felipe Botelho Corrêa,
Christian Schwartz, Beatriz Resende, Edmilson de Almeida Pereira e outros.
Seus livros foram vendidos e debatidos com o público e muitos episódios de
sua vida foram lembrados. Até mesmo o povão da cidade e dos arredores
aprovou a escolha do homenageado em quem via um igual. Muitas foram as
manifestações publicadas nos jornais nesse sentido. Durante todo o evento
foi o centro das atenções.
Além disso, foi dado a público o livro
“Lima Barreto – Triste Visionário”, de Lilia Moritz Schwarcz (Companhia das
Letras – S. Paulo – 2017), monumental biografia crítica do escritor e que
exigiu imensa pesquisa da autora ao longo de muitos anos. É um livro com 645
páginas, minucioso e fundamentado, desvendando todos os passos do biografado
e analisando toda sua obra. Lastreado em impressionante bibliografia, é bem
ilustrado e se impõe desde já como a biografia definitiva do escritor. Antes
dela, muito conhecida e aplaudida, destacava-se “A vida de Lima Barreto”, de
autoria de Francisco de Assis Barbosa.
Inspirado nesse livro, o
repórter Maurício Meireles, do jornal “Folha de S. Paulo”, realizou curiosa
reportagem de duas páginas visitando os lugares por onde andou Lima Barreto,
conversando com as pessoas e traçando um mapa do Rio de Janeiro de 1911. A
Ilha do Governador, a Central do Brasil, o bairro de Todos os Santos, o
Cemitério São João Batista, os trilhos da ferrovia, logradouros e ruas
palmilhados por Lima Barreto foram visitados, imaginando-se neles Clara dos
Anjos, Policarpo Quaresma, personagens do autor, e pessoas com quem
conviveu. Publicou interessantes ilustrações e fotos. Foi acompanhado na
excursão pela própria autora do livro.
No mesmo jornal, Christian
Schwartz e Felipe Botelho Corrêa estamparam o interessante ensaio “Inculta e
Bela – Lima Barreto e a busca de uma ficção popular”, onde analisam a obra
do carioca “que fez carreira num momento de expansão e de discussão sobre
formas de atingir o novo leitorado, opondo-se ao hermetismo e vendo no
advento da sociedade de massas a chance de propor mudanças de mentalidade.”
É um trabalho bem feito e que evidencia uma das antecipações de Lima
Barreto, como diria Gilberto Freyre.
Está de parabéns Lima Barreto
por tantas homenagens recebidas. Atos de pura justiça.
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
(1º de setembro, 2017)
CooJornal nº 1.043
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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