Enéas Athanázio
NOSSA LÍNGUA |
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O Prof. Durval de Noronha, presidente nacional da
União Brasileira de Escritores (UBE), publicou um livro da maior importância
para quem usa a língua portuguesa, falando ou escrevendo. Trata-se de
“Relembrando o Português com dicionário de anglicismos” (Observador Legal
Editora – S. Paulo – 1998) e constitui excelente lição em defesa de nossa
língua, o maior patrimônio cultural de um povo e merecedor de toda atenção.
Linguista de grande competência e erudição, dominando vários idiomas, é
autor também do “Dicionário Jurídico Noronha
Inglês-Português/Português-Inglês”, considerado pela crítica especializada,
brasileira e estrangeira, o melhor do mundo. Neste segundo livro ele faz um
alerta contra o perigo da deteriorização e do abastardamento da língua em
consequência da invasão absurda de vocábulos estrangeiros, ameaçando-a
inclusive de perder as características e se transformar num patoá
incompreensível. Essa invasão de palavras estrangeiras é, em sua maioria, do
idioma inglês, hoje dominante em todo o mundo graças ao poderio econômico
dos Estados Unidos, como aconteceu no passado com o francês, usado no Brasil
a ponto de merecer o repúdio de muitos intelectuais da época. O uso de
expressões estrangeiras, em princípio, nada tem de anormal porque os idiomas
sempre se comunicaram entre si, absorvendo vocábulos uns dos outros e até se
enriquecendo com isso. O problema surge com o uso indiscriminado e
desnecessário de palavras estrangeiras que têm equivalentes em português,
quase sempre mais indicados e precisos que os importados. Isso se deve
muitas vezes ao fato de considerarmos superior tudo que é estrangeiro, como
fruto de nosso velho complexo de inferioridade, ao esnobismo mal informado
e, acredito eu, ao espírito de imitação brasileiro, sempre pronto a
macaquear os costumes alheios, como dizia Monteiro Lobato. “Barbarismo ou
estrangeirismo é o emprego, na língua, de palavras estranhas na forma ou na
ideia, ou inteiramente desnecessárias ou contrárias à sua índole”, escreveu
o autor reportando-se ao Prof. Napoleão Mendes de Almeida.
Em
capítulos especiais e ilustrativos, o autor aborda a evolução histórica e a
formação das línguas inglesa e portuguesa, revelando sempre amplo domínio do
tema tratado. A leitura deixa nítida impressão de que ele possui rara
intimidade com cada um dos vocábulos, acreditando que seja inveterado leitor
de dicionários, como o foram Lobato e Euclides, em contato pessoal e direto
com cada uma das palavras. Lê e escreve o português, o inglês, o italiano e
o espanhol. Lê e escreve o latim e o francês. Lê o alemão e tem
conhecimentos aprofundados do tupi guarani e do quimbando.
Com tão
espantoso cabedal, reforçado pelo seguro conhecimento da história, mostra
como o inglês é devedor do latim, através do francês, apesar de persistir
“uma grande rivalidade e até uma certa animosidade entre as duas culturas”
(p. 83). Os orgulhosos ingleses não parecem nem um pouco inclinados a
reconhecer tal dívida. É curioso observar que a língua inglesa é a que mais
cresce no mundo, com exceção dos próprios Estados Unidos, onde a campeã é o
castelhano. Por incrível que pareça, o fato de ser falada em muitos pontos
do mundo põe o inglês em maior risco que outros idiomas, não apenas pelo
ingresso constante de vocábulos estrangeiros, como pela diferença abissal de
pronúncias e significados. A contribuição de Shakespeare à língua inglesa
foi substancial, estimando-se que ele introduziu nela cerca de 1700 palavras
novas.
Quanto ao nosso português, nascido do latim em decorrência da
ocupação romana da Península Ibérica, é hoje a língua nativa de 210 milhões
de pessoas. Camões, com “Os Lusíadas”, voltou às raízes latinas e renovou a
língua. Numerosos são os termos de sua lavra. Produziu sua obra quando
Shakespeare nascia. No Brasil, o português recebeu valiosa contribuição do
tupi guarani cujos vocábulos, em grande número, são de uso corrente entre
nós. Acentue-se ainda que nossa língua tem uma riqueza de nuances e recursos
que fazem dela o mais extraordinário e melodioso idioma do mundo. Cabe-nos o
dever imperioso de velar pela sua integridade. Na parte final, o autor
incluiu o dicionário de anglicismos, listando palavra por palavra os mais
usados no país. Fornece o seu significado em português e tupi (quando é o
caso), a forma usada nos Estados Unidos e no Reino Unido, a classificação da
palavra, alertando quando se trata de pseudo-anglicismo. Mostra ainda os
muitos usos errados, a atenção e o cuidado com que devem ser aplicados para
evitar equívocos grosseiros como tantos.
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(15 de julho, 2015)
CooJornal nº 944
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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