20/09/2013
Ano 16 - Número 858
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
|
Enéas Athanázio
UMA OBRA NECESSÁRIA
|
|
Depois de longos anos de intensas pesquisas e anotações, o Prof. Celestino
Sachet deu a público uma obra que se fazia necessária em nosso Estado e que
veio preencher uma lacuna há muito sentida pelos interessados em Literatura
Catarinense. Trata-se de “A Literatura dos Catarinenses – Espaços e caminhos
de uma identidade”, publicado pela Editora da Unisul (Palhoça – 2012 – 630
págs.) e premiado pela Academia Catarinense de Letras no ano passado. Quanto à
escolha do título – esclarece o Autor – ela se deve ao fato de que a obra
literária é produzida pelas pessoas, no caso os catarinenses, e não pela
entidade fictícia onde habitam, o Estado.
Pela amplitude da obra, pode-se dizer que constitui verdadeiro balanço da
produção literária em nosso território, não escapando autor algum, mesmo
aqueles de escassa obra, revelando-se um levantamento surpreendente pela
abrangência, conferindo ao livro um caráter unificador e uma visão panorâmica
nunca antes realizada da produção literária de nossos conterrâneos. É, enfim,
um livro que veio para ficar e que será, daqui em diante, indispensável a
todos que procurem informações a respeito das letras aqui praticadas.
Poema, prosa e teatro são abordados de maneira ampla e sistemática. Os títulos
em que se divide a obra dão ao leitor uma ideia do conteúdo: ecos da Europa
nos cantos de louvor, lances de inovação estética, espírito acadêmico,
liberdade para pensar e escrever, torturas da forma literária, fascínio pelo
exercício poético, intimismo psicossocial, vozes de culto aos ancestrais,
ousadias e resignificações, exorcização das inquietudes, magias da
transrealidade e palcos da alteridade. Aí se inclui, num panorama geral, tudo
que ocorreu em nossas letras no passado e o que acontece na atualidade. Apesar
de tudo quanto tem sido produzido, a conclusão é a de que inexiste a rigor uma
Literatura Catarinense ou, por outra, ela ainda busca uma identidade que lhe
confira o selo de uma característica própria. Creio que isso se deve, em
parte, ao fato de Santa Catarina ser ainda hoje um Estado desintegrado,
dividido em três regiões que persistem em gravitar em torno de três capitais
diferentes. Para completar, padecemos da ausência de crítica para divulgar e
analisar nossa produção, apontando a correção dos rumos e orientando num
sentido positivo. A regra, no entanto, tem sido o silêncio, de sorte que as
novas publicações caem no vazio e muitas vezes desaparecem sem que sejam ao
menos comentadas. Examinando-se o livro, encontram-se apenas quatro
verdadeiros críticos: Nereu Corrêa, Salim Miguel, Lauro Junkes e Celestino
Sachet. Por hercúleo que fosse seu esforço, não poderiam jamais examinar tudo
que veio a lume. E o primeiro deles, pelo que me parece, escreveu pouco sobre
nossos autores.
Por tudo isso, é ainda mais louvável o empenho do Autor na realização deste
livro exigente e difícil, inclusive pela ausência de elementos de informação.
De sua leitura se constata, até mesmo com surpresa, que estão presentes
inúmeros autores desconhecidos do público leitor e que amargavam completo
ostracismo, ainda que muitas vezes injusto. Entre estes encontrei, por
exemplo, João Guilherme Russo, o popular Chumbita, que conheci na infância, em
Porto União, autor de um único livro muito comentado (“Convém casar?”); João
Batista Amazonas, o poeta J. Amazonas, um dos poucos escritores catarinenses a
ser consagrado como nome de rua, em Caçador; o novelista e historiador José
Finardi, em geral pouco lembrado e autor de uma obra bastante valorizada na
Itália, e ainda o meu velho amigo, poeta e crítico de artes plásticas, Vilson
do Nascimento. Além de muitos e muitos outros com os quais tive contato de uma
forma ou outra, inclusive comentando seus feitos nesta mesma coluna. É
destacado também meu antigo cúmplice da advocacia e das letras, grande
jurista, contista e poeta, desembargador Edson Ubaldo.
Quanto a mim próprio, não poderia o Autor ser mais generoso. Não bastassem as
diversas referências, dedicou-me nada menos que quatro páginas das quais peço
vênia para transcrever o seguinte trecho: “A produção intelectual do Autor (EA)
constitui uma das maiores e mais diversificadas bagagens da Literatura dos
catarinenses. O acervo integra o amplo e rico mosaico das terras e das gentes
do Planalto e dos Campos Gerais, retratando usos, costumes, tradições, valores
sociais, folclore, mitologia, adagiário, formação psicológica de políticos,
fazendeiros e peões. A linguagem rica e expressiva da região entra precisa em
cada texto tanto no uso quanto na recriação de termos regionais” (p. 378).
Esse reconhecimento do grande crítico me deixa feliz, inclusive porque
ressalta o meu empenho em colocar os Campos Gerais no mapa literário do
Estado.
(20 de setembro/2013)
CooJornal nº 858
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
Direitos Reservados
|
|