06/09/2013
Ano 16 - Número 856
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
A VIDA BREVE E VERTIGINOSA
DO CANGACEIRO MASSILON
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A existência do célebre cangaceiro Massilon se envolve em mistérios e lendas.
Nem sempre é possível separá-los da realidade biográfica. As dificuldades
começam pelo nome. Para alguns seria Antônio Massilon Leite, para outros
Massilon Leite, Massilon Diógenes, Macilon ou Benevides. O historiador Honório
de Medeiros, depois de longas pesquisas e intensa peregrinação no rastro do
cangaceiro, chegou à conclusão de que ele, na verdade, se chamava Floriano
Gomes de Almeida, conforme certidão do registro de óbito obtido em cartório e
na qual constam os nomes corretos de seus país (*). Não obstante, foi como
Massilon que fez carreira no cangaço e se tornou conhecido.
Os pesquisadores Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena, em livro muito
minucioso, descrevem o cangaceiro, integrante do bando de Lampião, como uma
figura singular no cangaço. Dizem que Massilon foi um homem sofisticado,
sempre bem trajado, que usava bússola para se orientar na caatinga e sabia
dirigir automóvel. Segundo eles, depois que se desligou do grupo de Lampião
passou a assaltar fazendas, atividade em que se deu bem, e, com o dinheiro,
fugiu para o Rio Grande do Sul, onde mudou de nome, alistou-se na polícia e
chegou a oficial. Mais tarde, já nos anos 1950, teria sido visto no Ceará, num
caminhão novo, de sua propriedade, visitando parentes e amigos. Dizia na
ocasião residir em algum recanto remoto do Brasil central. Ao ingressar no
bando de Lampião, Massilon, oriundo do Rio Grande do Norte, já teria 26 ou 29
mortes nas costas por ter sido pistoleiro de aluguel. Foi um dos idealizadores
do frustrado ataque à cidade de Mossoró (**).
Embora instigante e curiosa, a historia de vida do cangaceiro é bem mais
singela. No livro mencionado, resultado de criteriosas pesquisas
bibliográficas, documentais, entrevistas e intensas visitas aos locais onde o
cangaceiro viveu e atuou, Honório de Medeiros chegou a conclusões muito
diversas e elencou, com base nos fatos, tudo que está comprovado a respeito
dele. Concluiu que a vida bandida de Massilon, embora vertiginosa, durou
apenas quatro anos e que todas as mortes que lhe atribuíam não ocorreram,
inclusive por falta de tempo, embora tenha cometido inúmeros homicídios,
assaltos a vilas, fazendas e sítios, tudo comprovado. Em 1927, Massilon ataca
Apodi, Gavião e Itaú, todas no Rio Grande do Norte, Estado onde não havia
cangaço. Foi bem sucedido e o sucesso serviu de estímulo para novas ações.
Nesse mesmo ano é apresentado a Lampião, que não o conhecia, e têm início as
sugestões para o saque de Mossoró, a segunda cidade do Estado e a mais rica do
interior. Lampião reluta. Tinha por norma só invadir cidades com uma só torre
de igreja apontando para o céu e Mossoró tinha quatro. Mas acabou cedendo e o
bando atacou a cidade. Mas a população, indignada, pegou em armas e se
defendeu com unhas e dentes. Fracassada a tentativa, com o orgulho ferido e o
rabo entre as pernas, Lampião e sua cabroeira se retiraram para Pernambuco. Na
luta morreu o cangaceiro Colchete e Jararaca, ferido e preso, foi executado,
havendo notícia de que teria sido sepultado vivo. Massilon se despede de
Lampião e ruma para o Maranhão. Em março de 1928, no Sítio Granjeiro, interior
do município de Caxias, Massilon morre em consequência de um “sucesso.”
Brincava com um amigo negro chamado Vicente, que dizia ter o corpo fechado, e
foi baleado de maneira mortal. Tinha presumíveis 30 anos de idade (1898/1928).
Media cerca de 1,60m de altura e raríssimas são suas fotos. O autor reproduz
apenas uma em que ele posa só, de fuzil em punho, e a célebre fotografia do
bando de Lampião, em Limoeiro, onde Massilon aparece. Na foto individual ele
está com um dos joelhos no chão, segurando a arma longa, e usa o chapéu de
couro típico dos cangaceiros, embora sem abas muito largas e enfeites. Tem o
rosto redondo, algo “bolachudo”. Nem de longe parece o sanguinário que foi.
O livro aborda inúmeros outros aspectos, inclusive analisando o fenômeno do
cangaço, e contém um delicioso conjunto de crônicas relatando as viagens do
autor na incansável busca pelo misterioso Massilon.
___________________________
(**) “Lampião e o estado-maior do cangaço”, Hilário Lucetti e Magérbio de
Lucena, Fortaleza, Gráfica Encaixe, 2ª. ed..;
(*) “Massilon – Nas veredas do cangaço e outros temas afins”, Honório de
Medeiros, Sarau de Letras, Natal, 2010.
(06 de setembro/2013)
CooJornal nº 856
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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