15/03/2013
Ano 16 - Número 831
ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio
UMAS E OUTRAS |
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Confesso que às vezes me acomete uma sensação de irrealidade diante de certos
fatos que acontecem neste mundo velho sem porteira. É que eles violentam de
maneira frontal minha concepção do que seja certo e errado e contrariam os mais
elementares princípios jurídicos que a muito custo aprendi na Faculdade e na
vida profissional.
Vendo as solenidades da posse de Barack Obama para o segundo mandato, relembrei
os altos e baixos de sua primeira gestão e me veio à mente a celebração que ele
encenou pelo assassinato de Osama Bin Laden, tirando proveito político de um ato
inominável. Aos olhos de todo o mundo, o exército da maior potência do planeta
invade um país estrangeiro sem autorização, violando sua soberania, penetra na
casa de um homem, (local que é o asilo inviolável da pessoa em qualquer
sociedade razoavelmente desenvolvida), mata-o de maneira sumária, sem qualquer
julgamento ou, pelo menos, permitir que diga algo em sua própria defesa. Feito
isso, ainda posa de herói e comemora com seus correligionários. Ora, não se nega
que Bin Laden constituía um perigo, mas existiam meios legais e jurídicos para
prendê-lo e julgá-lo sem praticar semelhante arbitrariedade, tirando proveito da
fraqueza do país invadido. Imperou a lei do mais forte, como na selva bruta.
O famigerado Lampião, terrível como foi, jamais agiria dessa maneira. Ele não
atacava ninguém de surpresa e desarmado, ainda mais dentro de sua própria casa.
Não estava nos seus costumes, tanto que repetia sempre não existir mérito algum
em atacar um homem desarmado e sem lhe conceder o direito de defesa. Mas Lampião
foi um bandido e os americanos são os supercivilizados donos do mundo.
Agora, em notícia mais recente, informam os jornais que o príncipe Harry, filho
caçula do príncipe Charles, da Inglaterra, acaba de retornar do Afeganistão,
onde combateu por alguns meses, sagrado como herói. Para geral constrangimento,
afirmou que matou combatentes do Talebã, naquele país, embora não informe
quantos. E revelou estar ansioso para se tornar tio, com o nascimento do filho
de seu irmão. Membro da família real inglesa, integrou o exército do país e com
ele invadiu uma nação estrangeira para interferir numa guerra que não lhe diz
respeito e ainda se julga no direito de matar pessoas, como se estivesse
brincando num vídeo-game ou outro joguinho da espécie. É de arrepiar! Não
obstante, está encantado com a hipótese de se tornar tio de um novo rebento com
sangue azul. Fosse um assaltante de rua, seria um bandido, mas sendo quem é,
merece as honras do herói.
Enquanto isso, o primeiro ministro japonês, em manifestação pública, lamentou
pelos velhos japoneses continuarem vivendo. Deveriam, segundo ele, partir sem
demora para o setepés, aliviando assim a previdência social e a saúde pública.
Criado no respeito aos idosos, merecedores de toda consideração e de uma vida
tranqüila, fiquei estarrecido. Uma declaração desse tipo se espalha como
rastilho de pólvora e as conseqüências poderão ser funestas. É verdade que, mais
tarde, ele se desculpou, alegando – como sempre fazem – que foi mal
interpretado.
Para concluir, informam os jornais que os brasileiros gastaram, no ano passado,
a bagatela de 22 bilhões de dólares no exterior, provocando um rombo recorde nas
contas externas. Parece que o nosso pessoal não está nem de longe preocupado com
o futuro do país e a crise mundial.
(15 de março/2013)
CooJornal nº 831
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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