15/02/2013
Ano 16 - Número 827
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
O FUTURO DO LIVRO |
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É frequente a afirmação de que o livro impresso em papel está com os dias
contados e deverá desaparecer. Superado pela Internet, iria aos poucos
desaparecendo até sua extinção total. Embora tal previsão já venha de muitos
anos, não é isso que está acontecendo. Nunca se publicaram tantos livros em todo
o mundo, inclusive no Brasil e aqui no Estado, como nestes últimos anos. Aqui em
Santa Catarina, por maior que seja o esforço, se tornou impossível acompanhar e
comentar tudo que é lançado. E o mais interessante é que proliferam em toda
parte os volumes encorpados, calhamaços com numerosas páginas, quando se dizia
que não haveria público para essas publicações em virtude da falta de tempo dos
leitores de hoje.
Causou forte impacto, em dias recentes, a entrevista do americano William Joyce,
autor e ilustrador de livros infantis, homem envolvido há muito tempo com a
parafernália informática e até mesmo produtor de aplicativos que tiveram larga
repercussão. Para surpresa de muitos, ele fez uma enfática e apaixonada defesa
do livro impresso, afirmando não acreditar na morte do livro mas, ao contrário,
na sua evolução. O livro impresso jamais irá morrer – afirmou, - mesmo porque a
tendência é transpor para o livro impresso outras formas de expressão, inclusive
como meio mais seguro de conservá-las. “Um livro pode ser molhado, e ainda
poderá ser lido – disse ele. – Ele pode cair no chão, e ainda poderá ser lido.
Seu cachorro pode mastigá-lo, e ainda poderá ser lido. E tem mais: ele nunca
ficará sem bateria.” E mais adiante: “Fazer um livro é complicado, mas menos
complicado do que fazer um filme, um game, um aplicativo ou outras formas de
contar uma história. É mais simples por uma razão essencial: você depende só de
si mesmo.” Diante disso, - confessa, - tudo que faz no estúdio vê inicialmente
como livro, já prevendo seu destino final.
A resistência ao livro e à leitura é antiga, em especial no Brasil, onde pouco
se lê. É consequência da lei do menor esforço porque a leitura é uma atividade a
dois – o autor e o leitor. Exige concentração e algum esforço, certa dose de
imaginação e curiosidade. Não é possível ler ouvindo rock ou som em volume
elevado, com a televisão ligada ou uma turma conversando ao redor em voz alta. É
mais fácil e cômodo receber tudo pronto e acabado através de um filme,
dispensando qualquer esforço de imaginação. Basta olhar. Além disso, o
vocabulário mediano das pessoas ficou tão restrito que se torna difícil entender
os textos escritos. E por isso muita gente não lê e nem ao menos experimenta,
sem suspeitar do que está perdendo.
Por outro lado, o livro é um repositório de conhecimentos e de artes de toda
espécie e de grande durabilidade. Olhando para minha estante, avisto ali os
“Urupês”, de Monteiro Lobato, em sua primeira edição, de 1918, e, mais adiante
“Os Sertões”, de Euclides da Cunha, lançado em 1902. O primeiro se aproxima de
um século e o segundo conta com 110 anos de vida! Sem nenhum esforço, exceto o
gesto de apanhá-los, posso penetrar, a qualquer momento, no mundo maravilhoso
dos contos lobatianos ou recordar a bárbara epopéia de Canudos. E não precisarei
de energia elétrica, nem de fios, teclados, monitores e toda a barafunda criada
pela informática. Nem precisarei ouvir recados, em voz neutra e impessoal,
informando que “as definições de vírus foram atualizadas” (sic) ou que aguarde a
manifestação do “responsável pela edição do nosso conteúdo” (sic) ou, ainda, que
“há ícones não usados na área de trabalho” (sic), além de outras frases
esdrúxulas e destituídas de sentido, usando muitas vezes palavras que sequer
existem. Ainda por cima, para completar, não precisarei pagar nenhuma fatura no
fim do mês.
(15 de fevereiro/2013)
CooJornal nº 827
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
Direitos Reservados
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