07/09/2012
Ano 16 - Número 803
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
MERECIDA HOMENAGEM |
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Artemio Zanon, autor de vasta obra, em prosa e verso, prestou uma homenagem tão
comovente quanto rara no mundo das letras catarinenses. Como criativo poeta e
ex-integrante de nosso Ministério Público, teve a sensibilidade de evocar em
esmerado ensaio a figura de outro poeta e também ex-integrante do Ministério
Público. Refiro-me a “Idade 21 – Walmor Cardoso da Silva sessenta anos depois”
(Editora Secco – Florianópolis – 2011).
Nascido na capital, em 1927, Walmor Cardoso da Silva se integrou ao chamado
Grupo Sul, movimento de jovens que se propunha a implantar aqui no Estado os
ideais modernistas de 1922 e, ao mesmo tempo, sacudir o marasmo em que se
encontrava o meio intelectual. Como bem registra a história, o movimento teve
larga repercussão e exerceu influência renovadora em vários campos, tais como o
teatro, o cinema, as artes plásticas e, acima de tudo, a literatura. Inúmeros
valores novos vieram à tona, dentre eles Walmor Cardoso da Silva, que teve
significativa atuação no teatro experimental, secretariou a revista publicada
pelo grupo e deu a público numerosos poemas modernistas, tanto na própria
revista como em jornais ilhéus. Teve início então a publicação dos chamados
Cadernos Sul, o primeiro dos quais foi justamente “Idade 21”, do próprio Walmor
Cardoso da Silva, em 1949, coincidindo o título com a idade do autor na época e
também com o número de poemas publicados nele. É sobre essa publicação que
incide o ensaio de Zanon, ainda que investigue também outras publicações onde
foram estampados poemas e alguns textos em prosa do autor. Numa atitude bastante
rara, Walmor Cardoso da Silva, após essa publicação, adotou o silêncio de
Rimbaud, ou seja, abandonou para sempre a poética e passou a se dedicar de
maneira integral ao Ministério Público e ao magistério superior. Talvez, como
aquele pintor, personagem de Érico Veríssimo, tivesse enterrado os pincéis por
entender que já havia criado sua obra-prima. Imagino cá com os comigos de mim,
como dizia Pessoa, que a crítica negativa e contundente de Salim Miguel possa
ter influído na decisão do poeta, espírito tímido e modesto.
Como escreveu Lauro Junkes, incansável pesquisador de nossa literatura, “a
poesia de Walmor Cardoso da Silva é decididamente modernista, tanto na forma
como na temática. Escreveu sempre em versos livres, brancos, geralmente curtos,
não raro constituídos de frases nominais, em construção leve, e direta de
parataxe. Os poemas normalmente são breves, de poucos versos, bastante
sintéticos. Sua poesia é intensamente lírica, voltada para o eu, embora não
deixe de conter reflexão, meditação, afluxo de idéias” (p. 45) É sobre essa
poesia que Zanon se debruça, submetendo a exame cada um dos poemas publicados na
plaquette, assim como outros aparecidos em diferentes periódicos. E nesse
trabalho analítico revela intensa penetração crítica e inegável erudição,
dominando como poucos a teoria poética.
O ensaísta transcreve, na íntegra, todos os poemas que constituíam o opúsculo,
permitindo ao leitor um contato direto, o que seria difícil, talvez impossível,
em face da raridade de uma publicação tão antiga (pp. 66 a 78). Observa o autor
“a presença constante como que de um estado de melancolia” a perpassar nos
poemas de “Idade 21” (p. 83). E, pelo que recordo da leitura de outros críticos,
esse estado de espírito foi mais ou menos comum nos poetas daquela geração,
expresso em suas respectivas obras. Registra ainda o ensaísta que Walmor não
desconhece o soneto e que sua produção em verso livre foi de livre opção (p.
100).
Concluindo estas breves notas, direi que o trabalho de Artemio Zanon faz justiça
a um grande poeta esquecido e foi elaborado em elevado nível. Com ele, o livro
de Walmor Cardoso da Silva retorna e permanece diante dos olhos dos leitores,
sessenta anos após sua publicação e quando seu autor conta 81 anos de idade. “E
essa permanência, nele e em todos, está a celebrar mais de oitenta e um anos de
idade. Daí que se pode dar à vida de Walmor Cardoso da Silva – ao livro da vida
– o título de “Idade 81” – conclui o ensaísta (p. 89).
(07 de setembro/2012)
CooJornal nº 803
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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