17/08/2012
Ano 16 - Número 800
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
ANTOLOGIA DE CORDEL |
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Houve época em que antologias eram poucas e se resumiam às coletâneas clássicas,
usadas quase sempre nas escolas. Hoje existe um verdadeiro “boom” de antologias
de todos os gêneros, reunindo contos, crônicas ou poemas de um ou de vários
autores. Algumas editoras se especializaram nesse tipo de publicação e a
produzem em série. O objetivo da antologia é divulgar a obra de seus
participantes, partindo do princípio de que, distribuindo seus exemplares, cada
autor estará, ao mesmo tempo, divulgando os demais. Mas na prática não é isso
que costuma acontecer e as antologias em geral não têm merecido resenhas ou
manifestações da crítica. É verdade que a maioria delas tem pouco ou nenhum
significado literário.
Deve-se, em grande parte, a Edgard Cavalheiro (1911/1958), o maior biógrafo de
Monteiro Lobato, a popularização das antologias entre nós. A par de sua
considerável obra pessoal, ele organizou antologias da melhor qualidade de
contos e poemas, avultando as “Maravilhas do Conto”, em onze volumes, colocando
ao alcance do leitor brasileiro muitos autores de difícil acesso. Nessa coleção
foram publicados contistas franceses, alemães, ingleses, italianos, russos,
espanhóis, portugueses, norte-americanos, hispano-americanos, brasileiros e
brasileiros modernos, procurando oferecer o melhor da produção de cada um, em
traduções esmeradas, com notas críticas e biográficas para bem orientar o
leitor. Entre as realizações de Cavalheiro está também o volume “Testamento de
uma Geração”, no qual incluiu entrevistas dos maiores nomes do mundo cultural
brasileiro na época, livro que é um documento da maior importância para conhecer
a evolução das idéias no país. Como biógrafo de Monteiro Lobato, Cavalheiro
produziu “Monteiro Lobato – Vida e Obra”, em dois alentados volumes, até hoje
insuperada e uma das melhores biografias da literatura nacional. Segundo os que
o conheceram, tal foi o empenho dele na realização de obra tão vasta e complexa
que teria influído em sua saúde, precipitando sua morte aos 46 anos de idade.
Também tem sido frequente a publicação de antologias contendo literatura de
cordel. Ela ganhou esse nome por serem os folhetos contendo poesias populares
exibidos nas feiras e mercados acavalados sobre cordéis estendidos, semelhando
bandeirolas. Existe aqui no sul geral desconhecimento do gênero e, às vezes,
certa reserva por se tratar de produção eminentemente popular. O desinteresse,
no entanto, não se justifica porque esse gênero literário veio da Europa com as
naus cabralinas, onde já era uma das mais antigas manifestações poéticas do
povo. Aqui no Brasil se desenvolveu de maneira admirável, tanto em qualidade
como em quantidade.
Embora o suporte do cordel seja, por excelência, o folheto impresso em papel
jornal, muitas vezes em gráficas de fundo de quintal, exibindo nas capas
clichês, gravuras ou xilogravuras alusivas ao assunto abordado, nada impede que
receba um tratamento mais sofisticado e apareça em antologias. Exemplo bem
recente é a “Antologia Brasileira de Literatura de Cordel”, cujo volume 18 me
foi oferecido pelo amigo Cícero Pedro de Assis, poeta e cordelista, autor de
obra considerável. Publicada pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel,
com sede no Rio de Janeiro, reúne trabalhos selecionados de diversos poetas,
dentre eles o referido Cícero, dos mais variados recantos do país. Na parte
final ainda fornece preciosas informações sobre o gênero e seus autores,
destacando os grandes expoentes, entre os quais alguns que se tornaram célebres
pela mestria na arte de versejar, pela rapidez do pensamento nos desafios e pela
largueza da imaginação. Gonçalo Ferreira da Silva, fundador e presidente da ABLC,
João Martins de Athayde, Leandro Gomes de Barros, considerado o maior de todos,
Patativa do Assaré, reconhecido até no exterior, e Manoel Monteiro da Silva, meu
dileto amigo, tido como o mais importante cordelista brasileiro em atividade,
são alguns dos autores homenageados no livro. Trata-se, pois, de uma publicação
interessante e que revela aos leitores um gênero literário que possui cultores
da melhor qualidade.
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Santa Teresa – CEP 20241-330 – Rio de Janeiro
(17 de agosto/2012)
CooJornal nº 800
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
Direitos Reservados
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