29/06/2012
Ano 16 - Número 793
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
ESCRITOR PARA MULTIDÕES |
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Este é o Ano Jorge Amado. No dia 9 de agosto acontecerá o centenário de
nascimento do escritor, ocorrido em Ferradas, então distrito de Itabuna, na
Bahia, na região do cacau, e que inspiraria vários de seus romances. Dentre as
inúmeras matérias que têm sido publicadas a respeito do assunto, merece um
comentário a reportagem feita por importante revista de cunho cultural e
educativo sob o título de “Um escritor para multidões”(*). Segundo ela, Jorge
Amado (1912/2001) “continua cultuado como um dos grandes da literatura do Século
XX.” E não é para menos, porque calcula-se que foram vendidos 30 milhões de
exemplares de suas obras, em todo o mundo, traduzidas para 48 idiomas
diferentes, fato extraordinário na carreira de qualquer escritor, ainda mais em
se tratando de um latino-americano e brasileiro. Só a Companhia das Letras (SP)
vendeu 240 mil volumes das 37 obras que editou. Não existe exagero, portanto, em
considerá-lo um escritor para multidões.
A par da constante atividade de escritor, escrevendo e escrevendo, Jorge Amado
viveu com intensidade a vida profissional e teve uma existência repleta das mais
variadas e muitas vezes inesperadas aventuras. Muito cedo foi residir com a
família em Ilhéus, onde seu pai, que fôra vítima de uma tocaia, se sentia mais
seguro. Lá viveu anos da infância, aqueles que costumam ser fundamentais para
qualquer escritor e por isso se considerava um legítimo “grapiúna.” Enviado para
o internato, em Salvador, não se ajusta aos regulamentos e foge, realizando uma
caminhada solitária de dois meses, através do sertão, até Sergipe, onde residia
o avô. “Pelo caminho fui parando e fazendo amizades”, lembrava ele, cheio de
saudades. Depois, convencido pelo pai, retorna a Salvador e, mais tarde, ao Rio
de Janeiro, onde se bacharela em Direito, ainda que nunca tivesse a menor
intenção de fazer uso do canudo. Anos mais tarde foi eleito deputado federal por
São Paulo e teve o mandato cassado. Exilado, refugiou-se em Paris, de onde foi
expulso, e então foi parar na antiga Tchecoslováquia, onde residiu num castelo
adaptado para abrigar exilados, período que é relatado em minúcias por Zélia
Gattai em um de seus livros. Serenadas as coisas, fixa-se afinal em Salvador, na
célebre casa do Rio Vermelho, à Rua Alagoinhas, número 33.
Com a publicação de sua obra, pouco a pouco, se transforma em escritor universal
– como acentua a equipe da revista. Seus livros se espalham pelo mundo, ainda
que muitos tenham sido queimados em praça pública, em autênticos autos-de-fé,
pelos agentes da ditadura. Torna-se amigo de figuras de renome mundial, como
Sartre, Simone de Beauvoir, Picasso, Illya Ehrembug, Neruda (seu compadre) e
muitos outros. Recebe inúmeros prêmios e honrarias, é eleito para a Academia
Brasileira de Letras e sua obra é adaptada para o cinema, o teatro e a
televisão. “Não pretendi nem tentei jamais ser universal senão sendo brasileiro
e cada vez mais brasileiro. (...) E, se meus livros foram felizes pelo mundo
afora, se encontram acolhimento e estima dos escritores e leitores estrangeiros,
devo essa estima à condição brasileira daquilo que escrevi, à fidelidade mantida
para com meu povo, com quem aprendi tudo quanto sei e de quem desejei ser
intérprete” – afirmou o escritor (pp. 59/60).
A Fundação Casa de Jorge Amado, com sede no coração do Pelourinho, por ele
eternizado, é a guardiã de sua obra e de sua memória. Especialistas conhecedores
e dedicados se esmeram nos cuidados ao precioso acervo, visitado por brasileiros
e estrangeiros em quantidade cada vez maior.
Neste ano do centenário de seu nascimento, o grande Jorge Amado, que tão longe
levou o nome do país, merece nossas homenagens.
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(*) Revista “Agitação”, publicação do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE),
São Paulo, Número 103, pp. 56 a 60.
(29 de junho/2012)
CooJornal nº 793
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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