22/06/2012
Ano 16 - Número 792
ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio
O MAIS QUERIDO |
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É opinião mais ou menos geral que Jorge Amado (1912/2001) foi o mais querido dos
escritores brasileiros. Embora outros escritores tenham desfrutado de grande
prestígio, como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Luís da Câmara Cascudo,
Érico Veríssimo, Gilberto Freyre, Fernando Sabino e mais alguns, o autor de
“Gabriela, Cravo e Canela” realizou a difícil proeza de penetrar em todas as
camadas sociais e ser lido por todo tipo de gente. Sua simpatia pessoal e modo
de vida despojado contribuíram em muito para a concretização de um fenômeno tão
difícil quanto raro num país de reduzidos leitores. Mas o fato é que Jorge
Amado, em seus romances, fala ao povo, atinge o coração das pessoas e povoa o
inconsciente coletivo.
Nesse sentido, importante revista de cunho cultural acaba de publicar
interessante matéria merecedora de um comentário (*). “Buscando criar uma
literatura original e que atendesse aos anseios do povo, - afirma a equipe da
revista – o baiano tornou-se o mais querido escritor brasileiro. Foi superado em
número de vendas e traduções apenas por Paulo Coelho, mas ainda é o artista
símbolo do imaginário popular e defensor das massas como fontes criadoras. Autor
de livros realistas, embora de forte conteúdo poético e apelo fantástico,
conseguiu tocar nos problemas sociais, trazendo sempre a força de superação do
homem comum” (p. 22). Na obra de Jorge Amado está sempre presente a preocupação
de criar uma identidade nacional e, segundo o crítico Eduardo de Assis Duarte,
“a maior aspiração dele era escrever para o povo e formar um público para a
literatura brasileira. Buscava o romance como um veículo das utopias de seu
tempo, a maior delas, a da igualdade” (idem).
E, de fato, os personagens que criou são sempre pessoas comuns do povo. Coronéis
da política, fazendeiros de cacau, marinheiros, estivadores, policiais,
malandros, mulheres e todos os demais, cada qual com sua mentalidade e sua
formação, são sempre retratados como brasileiros medianos e simples, inclusive
os estrangeiros que vêm viver aqui e que logo se vão abrasileirando ou, quase
diria, acaboclando. Em consequência, muitas dessas figuras saltaram das páginas
impressas e passaram a conviver no dia-a-dia com a população, ou seja, passaram
a integrar o universo cultural do país. Tantas foram as adaptações para o
cinema, a televisão, o teatro, a música popular, a literatura de cordel, a
dança, as artes plásticas, as revistas em quadrinhos e até mesmo os enredos de
carnaval que só mesmo alguém desinformado ao extremo ou alienado por completo
não conhece Jorge Amado e muitas de suas criaturas. Como informa a publicação,
“até mesmo em musicais na Broadway os romances do escritor baiano ganharam o
mundo em diversos formatos. Além disso, a obra amadiana é, sem dúvida, a que
mais teve versões audiovisuais” (p. 24). Não é demais lembrar que a obra de
Jorge Amado foi traduzida, publicada e vendida aos milhões de exemplares em todo
o mundo.
Entre os tipos criados pelo escritor, a revista relaciona alguns dos mais
conhecidos: Antônio Balduíno, de “Jubiabá”; Guma, de “Mar Morto”; Pedro Bala, de
“Capitães da Areia”; Gabriela, de “Gabriela, Cravo e Canela”; Quincas Berro
d’Água, de “A morte e a morte de Quincas Berro d’Água”; Dona Flor, de “Dona Flor
e seus dois maridos”; Vadinho, de “Dona Flor e seus dois maridos” e Tieta, de
“Tieta do Agreste” (p. 25). Gabriela, por exemplo, se tornou tão conhecida que
se confunde com outras figuras femininas do escritor, a tal ponto que alguns
críticos se referem às muitas Gabrielas de Jorge Amado. Existem ainda tipos que
não foram relacionados mas também são bastante conhecidos. É o caso de Teresa
Batista, para lembrar um deles. Mesmo pessoas reais por ele abordadas em
escritos de outros gêneros ganharam invulgar notoriedade, como aconteceu com
algumas retratadas no livro póstumo “A hora da guerra.” Apesar de todos os
méritos que tenha como escritora, é claro que o carisma do marido influiu de
maneira decisiva no sucesso da obra de Zélia Gattai.
Embora produzindo em país de poucos leitores, Jorge Amado viveu na plenitude a
vida do escritor, superando críticas impiedosas, perseguições injustas e até o
exílio, e se realizou como bem poucos brasileiros na carreira das letras.
Contam-se nos dedos outros casos brasileiros: Gilberto Freyre, Érico Veríssimo,
Luís da Câmara Cascudo e poucos mais. A imensa maioria é forçada a derivar para
o jornalismo, as carreiras jurídicas, o funcionalismo, o magistério e as
profissões liberais em geral.
Nascido em 9 de agosto de 1912, neste ano se comemora o centenário de nascimento
de Jorge Amado. Inúmeros eventos têm acontecido e muitos outros estão previstos
para comemorar o ano cultural a ele dedicado – o Ano Jorge Amado.
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(*) “Revista E”, publicação do SESC/SP, S. Paulo, número 9, março de 2011, pp.
22 a 25.
(22 de junho/2012)
CooJornal nº 792
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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