10/02/2012
Ano 15 - Número 773
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
ANDANÇAS GAÚCHAS
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Convidado a participar do III
Manifesto Nheçuano, na cidade de Roque Gonzáles, no Rio Grande do Sul, estudei
a melhor forma de realizar a complicada viagem e, com minha mulher a tiracolo,
dei início a essa curiosa incursão pelas terras missioneiras. Em conjunto com
a paciente Luciana, agente da Marjotur, estabelecemos o roteiro e partimos de
Navegantes tomados pelo espírito de aventura e pela curiosidade de rever
aqueles pagos já antes visitados há vários anos.
Partindo à tardinha, voamos até Porto Alegre, pousando no Salgado Filho, onde
mudamos de terminal e embarcamos num pequeno avião Let 410, da NHT Linhas
Aéreas, com capacidade para 19 passageiros, com destino a Santo Ângelo, a
cidade de onde partiu a célebre Coluna Prestes que tanto impressionou o país.
O avião fez uma escala em Santa Maria e lá se esvaziou, permanecendo a bordo
apenas minha mulher e eu. Foi uma situação curiosa e que muito nos divertiu.
Afinal não é sempre que um avião faz um longo trecho para conduzir apenas um
casal em voo exclusivo. Vez por outra o comandante tirava a cabeça para fora
da cabine e trocava algumas palavras conosco. Embora barulhento e um tanto
lerdo, o aviãozinho viajou com bom tempo e ventos favoráveis, entregando-nos
ilesos no destino por volta da meia-noite. Altivo, motorista do aeroporto,
cidadão simpático e conversador, nos conduziu ao hotel e com ele combinamos
outras andanças para os dias seguintes.
No outro dia, conduzidos pelo Altivo, rumamos para São Luiz Gonzaga, onde
estabelecemos nosso acampamento. Instalados num hotel situado na ampla e
arborizada praça central, percorremos a cidade e visitamos seus pontos mais
importantes. Pela tarde, agora levados pelo motorista Jones, estivemos no
Santuário do Caaró, local onde os índios guaranis, revoltados, eliminaram dois
sacerdotes jesuítas. Em meio a um belo bosque existem uma igreja e mais
instalações, além do marco no ponto onde teria ocorrido a morte dos religiosos
e uma fonte cujas águas são famosas pelas propaladas propriedades curativas.
Em seguida visitamos São Miguel das Missões, local das célebres ruínas da
igreja jesuítica-guarani que centralizava uma das reduções dos 7 Povos das
Missões. O que restou da igreja está preservado e permite uma ideia da
grandiosidade daquele templo. Como conseguiram erigir tamanha obra sem ferro,
cimento e outras técnicas modernas é de fato admirável. Vãos imensos e
recurvos, pilares espessos, paredes tão largas que permitiam caminhar dentro
delas, segundo afirmam. A torre remanescente ergue-se a uma altitude
considerável e todo o monumento se destaca de maneira impressionante em meio
ao vasto jardim gramado e florido. Nas cercanias existe o Museu das Missões
(Pavilhão Lúcio Costa) e a Casa do Artesanato, local onde são vendidas
incontáveis peças elaboradas pelos artistas populares da região. Tudo agora
está sob administração do IPHAN e muito bem cuidado. É um local que reaviva na
lembrança o que foram as Missões Jesuíticas e sua tentativa de catequizar os
indígenas, resultando na imensa tragédia que acabou dizimando uma raça.
Nas noites de 11 e 12 de novembro participamos do Manifesto em Roque Gonzáles.
O encontro foi muito concorrido e contou com a presença de escritores,
historiadores, poetas e músicos, estendendo-se as sessões até tarde. Entre os
que compareceram estavam Ruy Nedel, médico e historiador, ex-deputado; Odécio
ten Caten, professor e escritor, homem de grande erudição; Ivaldino Tasca,
jornalista e radialista; Antonio Cabrera, historiador e professor de guarani;
Renato Schorr, advogado e escritor; Nelson Hoffmann, professor e escritor,
orientador e consultor do movimento, além de sua filha Inês, poeta. Sem falar,
é claro, dos organizadores, os jovens Giani, Marco, Júlio e Adriano. Nos
debates foram abordados os objetivos maiores do Manifesto, quais sejam a
revisão crítica da história regional e, em segundo plano, incentivar a cultura
em todas suas manifestações. Ao final dos debates, deram-me a honra de fazer o
encerramento.
No dia seguinte, o último na região, visitamos o monumento à Coluna Prestes,
em Santo Ângelo, obra de Oscar Niemeyer, a estação ferroviária, onde funciona
o Memorial e ponto de partida da Coluna, e a catedral da cidade, imenso prédio
em estilo barroco e cor ocre, situado em meio a ampla praça. O motorista que
nos conduziu residiu em Blumenau e passou o tempo todo suspirando de doloridas
saudades.
Embarcados no aviãozinho da NHT, sobrevoamos os campos verdejantes e já com
uma saudadinha dos dias passados entre gente tão acolhedora e simpática.
Valeu!
(10 de fevereiro/2012)
CooJornal nº 773
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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