Segundo o historiador Eric
Hobsbawn, o Século XX foi o mais curto da História, iniciando-se com a I
Guerra Mundial, em 1914, e terminando com a extinção da União Soviética, em
1989. Os anos anteriores ao início, em virtude da cultura e do ambiente
dominantes, ainda pertenceriam ao Século anterior, ao passo que os anos
posteriores, pelas mesmas razões, já se identificavam com o novo. Dizia ainda
que, enquanto o Século XX teria sido o das ideologias, este será o da
violência. Como só vimos até agora uma década do novo, não é possível afirmar
que a violência predominará, ainda que as amostras sejam muito convincentes.
Mas, com seus altos e baixos, o Século XX foi um período repleto de
acontecimentos, em inúmeras áreas, que tiveram influência decisiva na história
da humanidade, razão pela qual costuma fascinar estudiosos, pesquisadores e
pensadores, como aconteceu com o Prof. Geoffrey Blainey, cujo livro “Uma breve
história do Século XX”, publicado no Brasil pela Editora Fundamento (2009), se
tornou best-seller internacional. Em linguagem direta e acessível, ele faz um
balanço de tudo que ocorreu de importante entre 1900 e 2000, apontando com
precisão os avanços e recuos, fornecendo ao leitor uma visão panorâmica desses
anos tão conturbados e quase sempre tensos. Vale também como interessante
recapitulação dos acontecimentos para quem os acompanhou, pelo menos em parte,
no seu dia a dia.
Além de duas guerras mundiais, violentas e mortíferas como nunca, o Século XX
viveu os dias angustiantes da Guerra Fria e várias revoluções de graves
consequências, sem falar nas guerras localizadas em vários pontos do mundo.
Houve momentos em que o planeta esteve à beira da hecatombe nuclear e os dois
blocos em que se dividia o mundo pareciam inclinados a detonar seus arsenais
atômicos, mesmo conscientes de que não haveria vencidos e nem vencedores. Mas
o bom senso acabou prevalecendo, os recuos aconteceram a baixou a tensão.
Grandes revoluções mudaram a feição do mundo, entre elas a Revolução Russa de
1917, a Revolução Chinesa de 1949 e, no Brasil, a Revolução de 1930,
provocando alterações jamais esperadas no status quo vigente nos países e nas
regiões. Em função delas, o mapa mundi sofreu intensas alterações, países
desapareceram e sugiram, outros se fracionaram ou anexaram, enquanto o Brasil,
impávido, permanecia uno apesar de tudo, numa espécie de milagre que teve a
língua como importante elemento unificador. Num país continental é admirável
que seja falada a mesma língua, sem dialetos, embora com rica variação de
sotaques.
Em compensação, os avanços foram consideráveis em todas as áreas. As grandes
massas populacionais, antes rurais, se transferiram para as cidades, surgindo
um fenômeno novo – as megalópoles, exigindo a revisão dos conceitos de
urbanismo até então vigentes. As invenções e aperfeiçoamentos se sucederam em
grande velocidade. A aviação, o automóvel, a medicina, os medicamentos, as
diversas espécies de energia, o cinema, a televisão, os meios de comunicação,
a informática, a internet, as diversões, a pílula anticoncepcional, a
exploração do espaço, a alfabetização e numerosos outros setores se
desenvolveram “numa tempestade de mudanças” – como escreveu o autor –
alterando de maneira substancial a face do velho mundo. Até as línguas
sofreram mudanças e algumas desapareceram enquanto umas poucas de
universalizaram. As preocupações ecológicas entraram ma vida de todos,
conscientizando as pessoas desde a infância. As viagens se tornaram comuns,
rápidas e quase sempre seguras. A renda, ainda que de maneira desigual, tem
sido melhor distribuída e as reivindicações organizadas indicam novos avanços,
como também no reconhecimento de direitos sociais e trabalhistas. Enfim,
conclui o historiador, o Século XXI pode encarar o futuro com otimismo em
virtude da herança recebida de seu antecessor. Entretanto, enfatiza ele, “A
grande questão do Século XXI é justamente saber se a paz nuclear irá persistir
e, comparados a ela, todos os outros problemas perdem a importância” (pág.
309).
Ainda que permeado de indisfarçável americanismo (não admite, por exemplo, que
Santos Dumont inventou o avião) e um tanto superficial no trato de certas
matérias, o livro é uma leitura agradável e compensadora, justificando a sua
admirável aceitação.
(03 de fevereiro/2012)
CooJornal nº 772
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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