Enéas Athanázio
OS 100 ANOS DE DINAH
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Como tantos escritores brasileiros, Dinah Silveira de
Queiroz (1911/1982) anda esquecida. E, no entanto, desfrutou de grande
popularidade, tornando-se uma das autoras mais lidas de sua época, além de ter
obras traduzidas para outros idiomas e recebido diversos prêmios importantes.
Neste ano em que se comemora o seu centenário de nascimento, importante revista
de cunho cultural lhe dedicou interessante matéria, quebrando o lamentável
silêncio a respeito do assunto (*).
Paulistana, Dinah teve uma carreira literária longa, que se estendeu por 44
anos, período em que escreveu obras de diversos gêneros, como romances
psicológicos e históricos, contos, biografias, literatura infanto-juvenil,
crônicas, peças teatrais e praticou intenso jornalismo cultural. Creio, porém,
que foi no romance que ela se superou. Em 1939, publicou seu primeiro romance,
“Floradas na Serra”, que fez rápido sucesso e se consagrou como uma das obras
literárias mais lidas e divulgadas, tornando-se autêntico best-seller. O romance
é ambientado em Campos do Jordão, para onde eram enviadas as vítimas da chamada
peste branca, a tuberculose, numa época sem antibióticos. O tema tocava de perto
a autora porque ela havia perdido a mãe, muito jovem ainda, acometida pela
doença também conhecida como mal do século. O romance mereceu aplausos de
críticos e escritores, entre eles José Lins do Rego e Silveira Peixoto,
esgotando-se a primeira edição em pouco tempo. Recebeu um prêmio da Academia
Paulista, foi vertido para o espanhol e, mais importante ainda, virou filme
feito pela Vera Cruz com a célebre Cacilda Becker como protagonista, além de
outros atores de renome, como Jardel Filho, Ilka Soares, John Herbert, Célia
Helena e Renato Consorte. Foi adaptado para novela radiofônica, similar das
televisivas de hoje, para história em quadrinhos e transformada em minissérie
pela TV Cultura em 22 capítulos. Enfim, uma obra que alcançou o mais completo
sucesso e se integrou aos clássicos da literatura nacional.
Dinah era filha de Alarico Silveira, advogado e figura de relevo na Paulicéia da
época, grande amigo de Monteiro Lobato. Com a perda prematura da mãe, foi
residir com a avó, pessoa que muito a influenciou, inclusive despertando nela o
gosto pelas letras. Casou-se duas vezes, na segunda com um diplomata em cuja
companhia residiu em vários países. Seu primeiro marido foi Narcélio de Queiroz,
um dos juristas da comissão que elaborou o Código Penal de 1940, com quem teve
duas filhas. O segundo foi o embaixador Dário Moreira de Castro Alves.
Publicou depois “A Sereia Verde” (contos), “Margarida La Rocque” (romance
histórico), “A Muralha” (romance histórico), “Os Invasores” (ensaio histórico) e
“Verão dos Infiéis” (romance). Segundo a crítica, revolucionou ao escrever uma
“autobiografia” de Cristo, em primeira pessoa, num inusitado e surpreendente
exercício de psicologia e autoficção ambientado em período histórico muito
distante e que exigiu profundas pesquisas. Outras obras se seguiram, além da
grande quantidade de trabalhos esparsos na imprensa.
Dinah foi a segunda mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL),
depois de Rachel de Queiroz, em 1981. Recebeu da mesma instituição o Prêmio
Machado de Assis, maior láurea literária nacional. Outros trabalhos seus foram
traduzidos e lançados em diversos países. O romance “A Muralha” também ganhou a
televisão e foi transformado em novela pela TV Excelsior. “Dinah sempre será
lembrada e celebrada graças à intensa pulsação poética da linguagem” – concluiu
o crítico Ivan Junqueira.
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(*) “Agitação”, revista do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE),
S. Paulo, Número 97, 2011, págs. 56/58.
Outras fontes: “Enciclopédia de Literatura Brasileira”, Afrânio Coutinho e J.
Galante de Sousa, Rio de Janeiro, MEC, 1990;
“Dicionário Literário Brasileiro”, Raimundo de Menezes, Rio/S. Paulo, LTC, 2ª.
ed., 1978.
(18 de novembro/2011)
CooJornal no 762