04/11/2011
Ano 15 - Número 760
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
MARINHEIRO A CAVALO
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O escritor norte-americano Jack London desfrutou de imensa
popularidade e chegou a ser o mais vendido e lido de sua época em todo o mundo,
inclusive no Brasil, onde conquistou incontáveis admiradores, muitos deles fiéis
até hoje. Filho de um pai que jamais reconheceu a paternidade e de uma mãe
desequilibrada, sempre envolvida em confusões, adotou desde cedo o sobrenome do
padrasto, por quem nutria grande admiração. Misto de aventureiro e escritor, mas
acima de tudo escritor, Jack London teve vida breve mas pontilhada de
inacreditáveis aventuras. Como escreveu Genolino Amado, tradutor de sua
biografia escrita por Irving Stone, “o novelista é mais impressionante do que
todos os tipos de suas novelas. Nenhuma história que tenha inventado, com o seu
prodigioso poder de unir a fantasia à realidade, vale tanto como a história que
deixou de si mesmo... Jack London é a expressão de um mundo que ainda
tinha esperança...” E de fato, a experiência de vida do menino-prodígio de
Oackland, é de tirar o fôlego.
Mesmo passando a infância e a juventude na miséria, entregue às mais árduas
ocupações, como operário braçal, faxineiro, entregador de jornais e coisas do
gênero, sempre encontrou tempo para se lançar em aventuras e frequentar a
biblioteca pública, onde chamava atenção pelo estado deplorável de suas roupas.
Durante algum tempo foi vagabundo da estrada de ferro, viajando como clandestino
nos trens, na companhia de outros desocupados. Num pequeno barco, adquirido a
duras penas, realizou as mais perigosas incursões pela baía de São Francisco.
Juntou-se a grupos de piratas de ostras, viajou como grumete de navios a
distantes lugares do mundo, envolveu-se na cata do ouro no Alasca, cobriu
guerras para a imprensa, planejou uma viagem ao redor do mundo num barco por ele
construído e que acabou se transformando num dos mais sérios problemas de sua
vida. Todas essas experiências lhe valeram vasto material para futuros livros,
reportagens e artigos que viria a escrever. Tão logo se manifestou a vocação e
decidiu ser escritor, tornou-se um dos mais bem pagos do país e seus trabalhos
alcançavam preços elevados. Generoso em excesso, gostava de ajudar as pessoas, e
daí resultou uma imensidade de gente que dependia dele e que ajudava de todas as
formas possíveis. Em qualquer circunstância, porém, doente ou são, no mar ou na
terra, no campo ou na cidade, nas melhores ou piores condições, jamais deixava
de escrever pelo menos mil palavras diárias (o equivalente a dois artigos como
este) e da mais esmerada qualidade literária. Dessa produção incessante resultou
uma obra volumosa, rica e variada. Parte de sua vida foi rascunhada num esboço
de memórias com o título de “Marinheiro a cavalo”, fonte de muitas biografias
escritas sobre ele. Explica-se o título porque, no correr dos anos, ele se
tornou fazendeiro e deixou de lado as atividades marinheiras.
Entre as mais conhecidas obras de Jack London estão os romances “O lobo do mar”,
“A estrada”, “Uma odisséia no norte”, “Caninos brancos”, “O Chamado da Selva”,
“Antes de Adão”, “O cruzeiro do Snarck” (onde narra as aventuras com seu
infortunado naviozinho) e “John Barleycorn” (como chamava as bebidas alcoólicas
e relata suas relações com elas), além de muitas outras. Vitorioso como poucos
nas letras, Jack London foi vítima de muitos infortúnios pessoais e nuca foi
poupado pela imprensa em face de suas posições independentes. Entre suas maiores
derrotas inscreve-se o incêndio criminoso de sua casa, no mesmo dia em que ficou
pronta e na véspera da mudança para suas instalações. Uma de suas melhores
biografias é “A vida errante de Jack London”, de Irving Stone, publicada entre
nós pela José Olympio.
(04 de novembro/2011)
CooJornal no 760
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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