20/05/2011
Ano 14 - Número 736
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
CONTOS REUNIDOS
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Embora meu intercâmbio com Nilto Maciel venha de 35
anos, só duas vezes o encontrei em pessoa. A primeira foi em Brasília, na época
em que ele editava “Literatura – A revista do escritor brasileiro”, publicação
que me prestou inesquecível homenagem na sede da Associação Nacional de
Escritores (ANE). A segunda aconteceu aqui mesmo, quando tive o prazer de
recebê-lo em minha casa e no meu escritório. Somos, portanto, muito mais amigos
escritos que falados.
Sempre que me lembro de Nilto Maciel, acorrem-me à lembrança os vaqueiros
encourados que vi no Alto Parnaíba, no Piauí, e que vinham dos ínvios do sertão
ressequido receber as mercadorias transportadas pelo barco em que eu me
encontrava. Homens de corpos enxutos, sem uma grama excedente de gordura, com
fisionomias sérias e lacônicos, talvez pelo hábito da solidão nos vastos espaços
desabitados. Ainda que Nilto Maciel, cearense, seja urbano desde criança, tem
tudo dos homens que cavalgam na caatinga, na lida árdua com o gado, afrontando o
semi-árido áspero, semeado de mandacarus, xique-xiques, palmas e variados
vegetais garranchentos e hostis. Com a diferença de que ele, - como escritor e
poeta que é, - cavalga as palavras e reponta uma tropa numerosa de contos,
romances, crônicas, novelas e poemas que vem produzindo ao longo dos anos.
No ano que passou, Nilto deu a público o segundo volume de seus “Contos
Reunidos” (Editora Bestiário – Porto Alegre – 2010), contendo nada menos que 122
histórias curtas, o que representa uma produção admirável e revela riquíssima
imaginação, além de intenso trabalho para sua realização. Escrever com qualidade
literária exige esforço, concentração, solidão e talento. Como dizia Fernando
Pessoa, escrever já é solidão que baste. Este segundo volume, pois, evidencia o
amor e a dedicação desse vaqueiro encourado pela cavalgada das letras.
Nesse mar de contos encontram-se histórias para todos os gostos, algumas mais
curtas e outras mais longas, quase atingindo a extensão das novelas literárias.
Nelas a imaginação não encontra limites, colocando muitas vezes num só e mesmo
plano o real e a imaginário. Surreais, fantásticas, algumas até fantasmagóricas,
são comuns os desfechos inesperados, surpreendentes e mesmo chocantes. Mas tudo
é escrito em linguagem clara, sem reboleios desnecessários, quase sempre em
frases curtas e sibilantes. Algumas têm títulos estranhos e que aguçam a
curiosidade do leitor. Assim acontece, por exemplo, com “As insolentes patas do
cão”, “O mundo estaliano”, “Avisserger megatnoc”, “Masmorrer”, “Pescoço de
girafa na poeira”, “Dez cuecas para a eternidade” etc. Também os personagens são
batizados com nomes muito estranhos: Afonso Baio, Newton Appletree, Quinca
Manco, Luís Lamento e outros mais. Enfim, a leitura dos contos de Nilto Maciel é
uma experiência inovadora e um agradável contato com a boa literatura. Vale a
pena.
Em 1976, com outros escritores, Nilto Maciel criou a revista “O Saco”,
suplemento literário que era vendido dentro de um saco ou envelope de papel. O
periódico teve grande aceitação e foi muito comentado na imprensa da época.
Ainda nos meus tempos de Canoinhas, creio ter sido o primeiro sulista a ver
contos estampados naquelas páginas.
O autor desses “Contos Reunidos” é detentor de grande número de prêmios
literários, entre eles o “Prêmio Cruz e Sousa”, na categoria romance, concedido
pela Fundação Catarinense de Cultura em 1996. Tem participado em numerosas
coletâneas e edita o “blog” cultural “Literatura sem fronteiras.” (Contatos: Rua
Conrado Cabral, 3 6 0 – CEP 60325-440 – Fortaleza/CE).
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Falando em Canoinhas, não é demais lembrar que o amigo Mario Tessari, um dos
integrantes do reduzido grupo literário daquela cidade, lançou o livro
“Momentos” (Editora Unisul – Tubarão – 2004). Trata-se de uma coletânea de
poemas muito bem escritos, instigantes e inspirados. O poeta é um erudito,
cultua a linguagem com fervor, e sabe usar desses ingredientes sem se tornar
pedante ou presunçoso. São poemas cuja leitura provoca satisfação. Meus parabéns
ao velho amigo Mario, hoje vivendo em aprazível sítio, no sul do Estado, em
contato direto com a natureza. Sempre com um olho nas letras.
(20 de maio/2011)
CooJornal no 736
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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