15/01/2011
Ano 14 - Número 718
ENÉAS ATHANÁZIO
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Enéas Athanázio
OS POETAS ESTÃO ATIVOS
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É surpreendente a quantidade de livros de poesia que recebo. Creio que
três quartos dos que chegam são poéticos. Vêm poemas clássicos,
modernistas, experimentais, concretos, haicais, trovas, cordel e o mais
que se possa imaginar. Românticos, filosóficos, herméticos, simples e
complexos, Poemas para todos os gostos, enfim. Como sempre li que a poesia
floresce mais em épocas de crise, avalio que a crise nacional seja bem
mais profunda do que aparenta. Na composição de seus poemas as pessoas
encontrariam uma forma de fugir da realidade, mergulhando num mundo de
sonho e beleza. Essa avalanche de poesia, no entanto, não é fenômeno
recente e já se verificou em outras épocas. Nos começos do século passado,
por exemplo, tantos foram os poetas emergentes que o severo crítico
Antônio Torres chegou a propor a criação do Gabinete de Extinção de
Poetas, a ser instalado na Secretaria de Segurança Pública, com o evidente
propósito de conter a onda poética avassaladora. É claro que a proposta
não passava de mera provocação, mas transformou o crítico em inimigo
figadal e permanente dos autores de poesia de todo o país – o antipoeta.
Segundo ele, aliás, os poetas são por demais suscetíveis e não aceitam com
facilidade algum reparo às suas obras. Nem todos são assim, mas o fato é
que ando às turras com um poeta capixaba sobre cuja poética me atrevi a
fazer algumas críticas. Mas essa é outra história.
Essas observações se devem ao fato, noticiado com destaque nas páginas
culturais, de que será lançado em breve um volume contendo bilhetes
trocados entre T. S. Eliot e sua segunda mulher, Valerie, durante a vida
conjugal, além de recortes e anotações por ela conservados com desvelo em
velhos cadernos nunca revelados. Considerado pela crítica o mais
importante poeta de língua inglesa do Século XX, Tomas Stearns Eliot
(1888/1965) nasceu nos Estados Unidos (St. Louis, Missouri) mas adotou a
cidadania inglesa e viveu em Londres. Entre suas obras se destacam “Terra
Desolada”, considerada sua obra prima, e “Cats”, que conquistaram
incontáveis admiradores e exerceram larga influência, tanto na poesia como
nas artes em geral, inclusive no Brasil. Foi também autor teatral de
grande sucesso. Segundo o crítico Ivo Barroso, “a apreciação da obra
poética de Eliot se transformou, ao longo do Século XX, em verdadeira
devoção. Nos meios universitários de todo o mundo, perdeu-se a conta das
teses, estudos e ‘papers’ a ele dedicados. Considerava-se sua poesia como
o ponto mais elevado da criatividade humana, só antes alcançado por um
Rilke (outro poeta do espírito).” É curioso observar que ele não desejava
ser biografado, mas a viúva não acatou essa vontade, no que fez muito bem
porque tudo é importante quando se trata de um escritor de tal quilate.
Recebeu o Nobel de Literatura em 1948 e foi diretor da Editora Faber &
Faber até o falecimento.
Mal sucedido no primeiro casamento, o poeta viveu um período negro e
afundou no álcool. Mas ele não suspeitava que sua secretária, Valerie
Fletcher, 38 anos mais jovem, “era obcecada por ele e sua poesia desde os
14 anos de idade”, embora o tratasse de maneira formal e distante.
Acabaram casando em segredo e apesar das diferenças viveram bem até o
falecimento do poeta. A vida conjugal de ambos parece ter sido “uma canção
de amor” e ele recobrou a alegria de viver. Valerie foi sua tábua de
salvação. Com 82 anos de idade, segundo as fontes que possuo, Valerie vive
em Londres, no mesmo apartamento que dividiu com o poeta, embalada pelas
recordações dos bons tempos, cercadas de souvenirs e guardando para a
posteridade os documentos que agora irá exibir em livro dos mais esperados
pelos admiradores do poeta e intérpretes de sua obra. O amor tão tardio
deu ao poeta a tranquilidade e o equilíbrio de que necessitava para
produzir. “Ele obviamente precisava de um casamento feliz. Não morreria
enquanto não o tivesse. Havia dentro dele um garotinho que nunca se
libertara...” – afirmou Valerie em entrevista à BBC após a morte do
marido.
(Fontes: “LB – Revista da Literatura Brasileira”, “Revista E”, “Mais!”).
(15 de janeiro/2011)
CooJornal no 718
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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