Enéas Athanázio
OS POETAS ESTÃO ATIVOS
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É surpreendente a quantidade de livros de poesia que recebo. Creio que
três quartos dos que chegam são poéticos. Vêm poemas clássicos, modernistas,
experimentais, concretos, haicais, trovas, cordel e o mais que se possa
imaginar. Românticos, filosóficos, herméticos, simples e complexos, Poemas
para todos os gostos, enfim. Como sempre li que a poesia floresce mais em
épocas de crise, avalio que a crise nacional seja bem mais profunda do que
aparenta. Na composição de seus poemas as pessoas encontrariam uma forma de
fugir da realidade, mergulhando num mundo de sonho e beleza. Essa avalanche de
poesia, no entanto, não é fenômeno recente e já se verificou em outras épocas.
Nos começos do século passado, por exemplo, tantos foram os poetas emergentes
que o severo crítico Antônio Torres chegou a propor a criação do Gabinete de
Extinção de Poetas, a ser instalado na Secretaria de Segurança Pública, com o
evidente propósito de conter a onda poética avassaladora. É claro que a
proposta não passava de mera provocação, mas transformou o crítico em inimigo
figadal e permanente dos autores de poesia de todo o país – o antipoeta.
Segundo ele, aliás, os poetas são por demais suscetíveis e não aceitam com
facilidade algum reparo às suas obras. Nem todos são assim, mas o fato é que
ando às turras com um poeta capixaba sobre cuja poética me atrevi a fazer
algumas críticas. Mas essa é outra história.
Essas observações se devem
ao fato, noticiado com destaque nas páginas culturais, de que será lançado em
breve um volume contendo bilhetes trocados entre T. S. Eliot e sua segunda
mulher, Valerie, durante a vida conjugal, além de recortes e anotações por ela
conservados com desvelo em velhos cadernos nunca revelados. Considerado pela
crítica o mais importante poeta de língua inglesa do Século XX, Tomas Stearns
Eliot (1888/1965) nasceu nos Estados Unidos (St. Louis, Missouri) mas adotou a
cidadania inglesa e viveu em Londres. Entre suas obras se destacam “Terra
Desolada”, considerada sua obra prima, e “Cats”, que conquistaram incontáveis
admiradores e exerceram larga influência, tanto na poesia como nas artes em
geral, inclusive no Brasil. Foi também autor teatral de grande sucesso.
Segundo o crítico Ivo Barroso, “a apreciação da obra poética de Eliot se
transformou, ao longo do Século XX, em verdadeira devoção. Nos meios
universitários de todo o mundo, perdeu-se a conta das teses, estudos e
‘papers’ a ele dedicados. Considerava-se sua poesia como o ponto mais elevado
da criatividade humana, só antes alcançado por um Rilke (outro poeta do
espírito).” É curioso observar que ele não desejava ser biografado, mas a
viúva não acatou essa vontade, no que fez muito bem porque tudo é importante
quando se trata de um escritor de tal quilate. Recebeu o Nobel de Literatura
em 1948 e foi diretor da Editora Faber & Faber até o falecimento.
Mal
sucedido no primeiro casamento, o poeta viveu um período negro e afundou no
álcool. Mas ele não suspeitava que sua secretária, Valerie Fletcher, 38 anos
mais jovem, “era obcecada por ele e sua poesia desde os 14 anos de idade”,
embora o tratasse de maneira formal e distante. Acabaram casando em segredo e
apesar das diferenças viveram bem até o falecimento do poeta. A vida conjugal
de ambos parece ter sido “uma canção de amor” e ele recobrou a alegria de
viver. Valerie foi sua tábua de salvação. Com 82 anos de idade, segundo as
fontes que possuo, Valerie vive em Londres, no mesmo apartamento que dividiu
com o poeta, embalada pelas recordações dos bons tempos, cercadas de souvenirs
e guardando para a posteridade os documentos que agora irá exibir em livro dos
mais esperados pelos admiradores do poeta e intérpretes de sua obra. O amor
tão tardio deu ao poeta a tranquilidade e o equilíbrio de que necessitava para
produzir. “Ele obviamente precisava de um casamento feliz. Não morreria
enquanto não o tivesse. Havia dentro dele um garotinho que nunca se
libertara...” – afirmou Valerie em entrevista à BBC após a morte do marido.
(Fontes: “LB – Revista da Literatura Brasileira”, “Revista E”, “Mais!”).
(15 de janeiro/2011) RT, CooJornal no 718
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e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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