Enéas Athanázio
O RIO DA UNIDADE NACIONAL
Histórias e mistérios do Velho Chico
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Até que enfim conheci de verdade o Velho Chico. Naveguei nas
suas barcas, molhei nele os pés e as mãos, contemplei a imensidão de seu
leito, mergulhei nas suas águas e observei a imensa variedade de embarcações
que singram sua corrente. É claro que, como todo mundo, eu o conhecia de longe
e seu nome me soava familiar. Era como pessoa que a gente encontra vez por
outra, reconhece a fisionomia, mas com quem nunca trocou palavra ou aperto de
mão. Em outras ocasiões eu o cruzara pelas grandes pontes e havia voado por
cima dele, como a maioria dos brasileiros. Agora, porém, as visitas foram mais
amplas e em vários pontos de seu curso. Posso correr o risco de dizer que o
conheço. Estou me referindo, como já deu para perceber, ao rio São Francisco,
carinhosamente apelidado de Velho Chico.
O VELHO CHICO
O São
Francisco, cognominado o rio da unidade nacional, é dos grandes cursos d’água
do país – o terceiro maior – e corre do sul para o norte-nordeste. Nascendo em
São Roque de Minas, na Serra da Canastra, banha os Estados de Minas Gerais,
Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, em cujas divisas escoa no Atlântico. Com
2800km de extensão, recebe 36 afluentes, serve a 15 milhões de pessoas e sua
bacia ocupa 7,2% do território nacional (bem maior que o território
catarinense que não passa de 1,13%). Cruza montanhas, planaltos, planícies,
estreitos, cerrado, agreste e caatinga. Vai de profundidades tenebrosas a
remansos orlados de “coroas” (bancos de areia) e “canyons” de elevada altura.
E, para completar, gera 95% da energia consumida na região, produzida em
grandes usinas, e suas águas dadivosas irrigam várias espécies de plantações.
É um manancial inesgotável de história e folclore, inspirando a música, a
literatura, o cordel, a culinária, a arte e o artesanato popular. Também
inspira polêmicas intermináveis, em especial aquela que se refere à
transposição de suas águas. Em suas margens crescem importantes cidades.
O BODÓDROMO
É na lancha “Santa Maria”, larga e pachorrenta, que
fazemos a travessia. Transporte coletivo, essa e outras lanchas estão sempre
cheias, são alegres e barulhentas, e nelas se vende de tudo, como em
verdadeira feira flutuante. Pregões, cantorias, risos, músicas e conversas
enchem o ambiente enquanto ela singra o grande rio cujos “causos” me ponho a
imaginar. Ah! se o Velho Chico pudesse falar!
Numa das margens, a
pernambucana Petrolina; na outra Juazeiro, a baiana, ligadas pela monumental
ponte Presidente Dutra, por ele inaugurada, com seus dois arcos
inconfundíveis. A pernambucana é plana e espalhada, centro turístico,
artesanal e estudantil. Grande produtora de frutas. Em Juazeiro, antiga e
típica cidade sertaneja, a cozinha na base do peixe é o forte. Nesta ou
naquela impera sempre a alegria de uma gente jovial e acolhedora.
Em
Petrolina, a visita ao Bodódromo é indispensável. É um bairro inteiro tomado
por restaurantes especializados em carne de bode, servida de todas as formas
imagináveis. Na entrada, visível à distância, foi erigida imensa estátua em
homenagem ao caprino que tão bem sabe resistir às agruras do sertão. Num
desses restaurantes, amplo e confortável, nos fartamos de carne assada com
salada sertaneja e macaxeira.
O artesanato de Mestre Quincas e de Ana das
Carrancas, esta falecida no corrente ano, é famoso e corre mundo. As carrancas
de Ana trazem os olhos vazados, numa insólita homenagem ao marido, cego de
nascença. Não muito distante, está a represa do Sobradinho. A
impressionante muralha de concreto formou um mar interior, maior que muito mar
existente pelo mundo a fora, alterando o clima, a umidade do ar, o lençol
freático, a densidade das chuvas. Onde o sol tudo calcinava, o verde se
espalha a perder de vista, venta como à beira-mar, chove a cântaros e produz.
Produz frutas da melhor qualidade, líderes em exportação: uvas, mangas,
abacaxis, bananas – tudo levado com avidez para além das fronteiras. Sem
prejudicar a navegação, com as embarcações subindo e descendo pelas eclusas.
Sobradinho fez o sertão virar mar, como na canção, inundando inacreditável
porção de terra seca, até então imprestável, onde só medravam o xiquexique e o
mandacaru.
PIRAPORA
Pirapora é uma cidade situada à margem
direita do Velho Chico, distante 170km de Montes Claros, terra natal de Darcy
Ribeiro, orgulho de seus habitantes. Não se confunde com a cidade das
romarias, Pirapora do Bom Jesus, às margens do rio Tietê (SP).
É um dia
lindo, ensolarado, com temperatura amena. A estrada é excelente, nova e bem
conservada. Cruzamos uma região coberta por um cerradão semi-árido, com
vegetação arbustiva e árvores baixas, de troncos retorcidos. Tudo com aspecto
de secura, sem lavouras ou criações. A terra é vermelha. Avistam-se ao longe
imensas plantações de eucaliptos, a única coisa que vinga – segundo a voz do
povo. E, de fato, não existem rios, exceto um riacho de nome Pacuí, de pouca
vazão, e, mais adiante, o rio das Velhas, emblemático curso de água mineiro,
muito presente na história e nas letras. À medida que descemos para o vale
aumenta o calor. Cruzando estes ínvios, é inevitável a lembrança de
Guimarães Rosa e Mário Palmério. Por aqui deve ter cavalgado Riobaldo
Tatarana, jagunço-filósofo, maquinando ideias, sem entender o inexplicável
amor por Diadorim. Por estes inóspitos caminhos há de ter palmilhado o mascate
Xixi-Piriá, com a mala de badulaques às costas, vendendo de fazenda em
fazenda, de povoado em povoado, de rancho em rancho. Talvez até mesmo o Padre
Sommer, valente caçador de onças, também tenha se mostrado por estas bandas
secas e vazias. É um mundo grandioso, amplo e aberto, onde o homem só é um
nada. Como afirmava Riobaldo, o sertão repõe a gente pequenino.
Não
tardamos a entrar em Pirapora. A cidade é grande, asfaltada e limpa. Muito
arborizada, tem uma praça central agradável e movimentada. Seu maior atrativo,
porém, está na Avenida Beira-Rio, que se estende à margem direita do Velho
Chico. Com duas pistas e canteiro central, nela se avistam encorpadas e
folhudas gameleiras, árvores de troncos múltiplos e cipoentos. Guimarães Rosa
a elas se refere, com carinho e saudade. Seriam estas?
Impressionante a
muralha que erigiram à margem do rio, evitando a invasão da cidade pelas águas
em períodos de grandes cheias. Trabalho meticuloso e robusto, usando pedras
enormes, capaz de afrontar a força das correntes raivosas. No momento, porém,
o rio está baixo, as águas correm longe, deixando largo espaço seco até a
barreira, onde entramos. Por ali descemos até o porto, onde está atracado o
navio-gaiola “Benjamim Guimarães”, único remanescente do transporte fluvial de
passageiros naquele trecho. É um barco impressionante, com três andares e
capacidade para 200 passageiros, de fabricação norte-americana (1912). Foi
restaurado e faz viagens turísticas. Visitamos todas suas dependências,
camarotes, cabines, casa-de-máquinas, depósito de lenha, cabine do capitão,
cozinha, lanchonete etc. Verdadeira casa flutuante, com feérica iluminação
noturna, e um poderoso farol na proa. Imponente, singra aquelas águas
remansosas ao sabor da brisa que vem de longe, repleto de passageiros que
armam suas redes em todos os cantos. E sua passagem pelas vilas e povoados
ganha sempre ares de festa.
AS CARRANCAS
Pirapora é a cidade
das carrancas. Ali elas teriam surgido e com elas se implantou a tradição de
colocá-las nas proas das embarcações para afastar os malefícios e espantar os
maus espíritos. A crença se propagou e hoje muita gente as procura para ter em
casa. São esculpidas em madeira, nos mais diversos modelos e tamanhos. A
demanda gerou verdadeira indústria.
Visitamos a Associação dos Artesãos,
onde se reúnem profissionais, homens e mulheres, que se dedicam à confecção de
carrancas e até algumas imagens de santos. São fabricadas em diversos
tamanhos, desde aquelas de um tronco inteiriço até médias, pequenas e
diminutas, conforme o gosto de freguês. É um trabalho impressionante que
consiste em apanhar um toro de madeira bruta e nele esculpir, à custa de
formão e martelo, as magníficas peças que se espalham depois pelo país e até o
exterior. Conta-se que Pablo Neruda tinha uma delas, enorme, em sua casa da
Isla Negra.
Ficamos longo tempo observando aquele trabalho exaustivo,
homens e mulheres reclinados sobre um cepo que em breve será uma obra de arte.
É uma técnica que começa a ser dominada na infância.
Nem preciso dizer que
trouxe várias carrancas pequenas para oferecer aos amigos e uma enorme e que
me deu imenso trabalho.
LÉO DO PEIXE
Tratamos então de
procurar uma figura singular da cidade – Léo do Peixe. Esse pescador humilde,
que explora uma banca de peixes na feira, é amante da leitura e entendeu a
importância dela na libertação de um povo. Montou pequena biblioteca, com
livros recebidos em doação, e fundou um clube de leitores ao lado de sua
banca. Arregimentou cerca de 800 sócios que podem retirar livros para leitura
e só receberão outros após a devolução. E assim, com grande esforço, vai
disseminando o hábito da leitura. Discute com os leitores aquilo que leram e
indaga do que aprenderam. É um heroi!
Depois de muito especular e indagar,
encontramos, afinal, sua casa, em bairro modesto e rua sem calçamento. Estava
viajando, realizando pescaria em Goiás, mas fomos recebidos pela esposa e
conhecemos o acervo. Possui boa quantidade de livros, publicações diversas,
documentos etc. Guarda com carinho tudo que surge sobre ele na imprensa. Doei
bom número de livros, meus e de outros catarinenses, para sua coleção. Seu
nome é Leonardo Piedade Diniz, um desses trabalhadores anônimos pela causa da
cultura.
XINGÓ E PIRANHAS
Distante 198km de Aracaju (SE)
situa-se Canindé do São Francisco, onde se encontram a usina e o lago do
Xingó. Fica no alto sertão, na região semi-árida, e a represa formou imenso
lago com “canyons” de beleza e altura impressionantes, com as barrancas
rochosas subindo a prumo como muralhas avermelhadas. Em local elevado, de
frente para a usina, está o “Xingó Parque Hotel”, moderno e confortável, em
cujas salas se veem esculturas enormes de figuras da região, como Padre
Cícero, Lampião, Luiz Gonzaga, Antônio Conselheiro, vaqueiros e cantadores.
Pela manhã, logo cedo, acontece o passeio de catamarã pelo lago, percorrendo
os locais mais interessantes e fazendo uma parada para mergulho nas águas
límpidas e transparentes. A travessia pelos “canyons” é a parte alta da
excursão. Depois é servido almoço num restaurante flutuante cujo prato
principal é o surubim, peixe abundante naquelas águas, com molho de pitu, o
camarão de água doce.
Também valem uma visita o Museu Arqueológico da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) e à própria usina, ambas acompanhadas
por guias. No outro lado da divisa do Estado fica a cidade de Piranhas, em
Alagoas, muito visitada por Lampião e onde ele tinha parentes. Ela conserva,
em bom estado, inúmeras construções em estilo colonial, é bem cuidada e limpa,
situada em local de invejável panorama. Nela existe o Museu do Cangaço,
instalado na antiga estação ferroviária, e com um acervo interessante sobre as
atividades dos cangaceiros. Como sempre, surgem “primos” de Lampião e pessoas
idosas que “foram íntimas”, sempre dispostas a contar causos em troca de algum
dinheiro. Muita coisa na cidade tem o formato de piranha.
No retorno, uma
parada em Poço Redondo, onde se situa a Grota do Angico, local em que Lampião,
Maria Bonita e muitos de seus cabras foram mortos pela polícia. Na entrada há
um monumento alusivo ao fato. Outra parada é numa fazenda típica, isolada em
meio ao sertão, onde se vendem doces de leite, inclusive de cabra. A
vegetação do sertão é impressionante. Mandacaru, xiquexique, palmas e cactos
gigantescos que semelham árvores. A palma espinhenta é das poucas que resiste
à seca. É cultivada para alimentar os animais.
Estes não são os únicos
pontos do rio merecedores de atenção. As nascentes, em São Roque de Minas, na
Serra da Canastra, e a foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, onde está situada
a cidade histórica de Penedo, além de vários outros, também valem uma visita.
A TRANSPOSIÇÃO
A transposição das águas do rio São Francisco é
dos temas mais polêmicos da atualidade nacional, mais ou menos como foi a
construção de Brasília. Previsto de longa data como objetivo nacional, desde
os tempos de D. Pedro II, em 1850, foi protelado por muitos e muitos anos e
provoca discussões sem fim, não faltando nem mesmo as greves de fome. Tem
defensores apaixonados e adversários intransigentes. Alguns afirmam que não
funcionará e outros juram de mãos postas que o resultado será positivo. Só o
tempo poderá responder quem está com a razão, embora existam estudos técnicos
que recomendem a obra, inclusive de organismos internacionais. Não é possível
continuar adiando uma solução para o problema da seca; alguma coisa precisa
ser feita para diminuir o sofrimento daquela gente. A demora na solução só
incrementa a indústria da seca que beneficia conhecidas figuras do cenário
político.
Sobre a transposição, tive a oportunidade de assistir a
interessante debate. Em João Pessoa (PB), convidado por amigos, fui conhecer o
“Sebo Cultural Heriberto Coelho”, no centro da cidade. Instalado numa espécie
de galpão desmesuradamente grande e alto, tem livros, livros e livros em
estantes e mais estantes que sobem ao teto. Creio que nunca havia visto
estoque igual. Vende livros usados e novos, quadrinhos, revistas, jornais,
CDs, DVDs, VHS , vinil etc., faz trocas e ainda edita livros. Nas paredes
estão grandes fotos de escritores e nos fundos existe enorme auditório.
Depois de sumária visita ao acervo, aprestamo-nos para ouvir o debate. Os
debatedores foram o deputado federal Marcondes Gadelha, defendendo a medida, e
o professor Jonas Duarte, da Universidade Federal da Paraíba, contrário. O
debate se estendeu até tarde, com cerrada argumentação de ambas as partes e
intensa participação do público. Explicou Gadelha que transpor não significa
encher os outros rios secos com a água do São Francisco, mas controlar o nível
das represas para que elas possam ser usadas durante as secas, enquanto Jonas
sustentava que não há falta de água na região e que o problema está na má
divisão da terra, sendo necessário alterar o modelo econômico e revitalizar o
rio em todo seu curso. Em síntese, acabei concluindo que se trata de discussão
bizantina: ambas as medidas são indispensáveis, isto é, transpor e
revitalizar. Tudo o mais são inextrincáveis logomaquias de uma fraseologia
metafísica – como dizia célebre jurista. Ambos os debatedores revelaram
conhecer a fundo a questão. Meu temor é que a obra faraônica seja iniciada,
enriqueça muita gente e acabe abandonada, como tantas pelo país a fora.
O VELHO CHICO E AS LETRAS
O rio São Francisco é presença
marcante nos anais da cultura nacional. Geógrafos, arqueólogos, historiadores,
cineastas, fotógrafos, jornalistas, cientistas, artistas plásticos, viajantes,
aventureiros e simples curiosos o estudam ou visitam pelos mais diversos
motivos. E os escritores, em especial, têm encontrado no grande rio frequente
motivo de inspiração.
Guimarães Rosas, por exemplo, o acolheu em muitas
páginas de sua ficção. Basta lembrar que foi numa canoa, singrando pelo rio,
que Riobaldo e Diadorim se conheceram, brotando ali o inexplicável e
torturante amor do jagunço e que o acompanharia até o fim de seus dias.
Foi
também naquela região que nasceu Rotílio Manduca que, segundo intérpretes,
teria servido de modelo para o personagem Zé Bebelo, ou José Rebelo Adro
Antunes, cidadão e candidato, de “Grande Sertão: Veredas.” O assombroso
Rotílio Manduca “é um jagunço dos bons, o mais valente entre os valentes,
muito bom no punhal, na faca e com o trabuco... A fama de Rotílio como um
justiceiro correu pelo São Francisco e lhe eram atribuídas duzentas mortes.
Mas Rotílio tinha outra “vida.” Despia seu gibão de couro de sertanejo e
envergava ternos de linho da alta sociedade, a fim de circular livremente no
Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Segundo relato do Prof. Alberto Deodato,
seu amigo, quando Rotílio o visitava no Rio de Janeiro arranjou-se numa rede
atravessada. Não podia ficar em hotel. Não por falta de dinheiro, mas porque
vinha de um tiroteio no São Francisco. Viajou léguas e léguas de batina e
óculos pretos, a cavalo. Trazia enorme apetrecho de disfarce: batina, barba,
bigode, o diabo. Da noite para o dia desaparecia, levando tudo que era seu...
O fraco desse sertanejo era a admiração pelos intelectuais. Nessas visitas
conheceu Manuel Bandeira, Ciro dos Anjos e Ribeiro Couto. Para espanto do
amigo, foi visto almoçando com Medeiros e Albuquerque e ficou amigo do
ministro Ataulpho de Paiva. Frequentava rodas de políticos e intelectuais, lia
os clássicos e fazia versos. Mas seu habitat era o sertão do São Francisco,
jamais poderia romper o cordão umbilical que o prendia à realidade sertaneja.
Ali nasceu e ali encontraria seu fim. Morreu esfaqueado na cidade da Barra,
num navio que balançava sobre as águas do rio de seus sonhos: o Velho Chico.
Assim morreu Rotílio Manduca. Até que renasceu como Zé Bebelo, no “Grande
Sertão: Veredas” (Conforme ensaio de Marco Antônio de Sales Coelho, publicado
na “Revista da AML”).
Assim é o Velho Chico, um manancial inesgotável de
vida, histórias e mistérios, objeto da cobiça estrangeira e da permanente
atenção dos curiosos. Estas notas são uma pálida amostra do que ele pode
oferecer.
(05 de dezembro/2009) RT, CooJornal no 661.
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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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