11/07/2009
Ano 12 - Número 640
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
O KILIMANJARO
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Entre os escritos de Ernest Hemingway (1899/1961), um dos escritores mais
lidos, imitados e admirados da moderna literatura, o conto “As Neves do
Kilimanjaro” é dos mais populares, publicado em todos os recantos do
mundo. Esse conto se tornou uma espécie de distintivo da fase africana do
escritor, provavelmente aquela que mais apela à imaginação de leitores que
admiram a vida aventuresca de Hemingway, com tantos acidentes, caçadas e
pescarias, safaris e explorações nas selvas. É interessante observar que,
mesmo tendo nascido nos EUA, quase toda a obra do escritor é ambientada em
outros países.
Mesmo não sendo uma obra-prima, como acentuam os críticos, esse conto é um
monumento que celebra em palavras a montanha africana, sempre recoberta de
neves brilhantes. Destacando-se nítida contra o céu límpido de uma região
tropical, e em cujos pés se sucedem as tragédias e os dramas humanos.
Situada ao norte da Tanzânia, como parte de uma cadeia rochosa, o
imponente Kilimanjaro fica nas proximidades da região sul do Quênia, país
que o escritor adotou como campo de exploração. Retratado com minúcia e
carinho em tantas de suas obras, inclusive no livro póstumo “Verdade ao
Amanhecer”. Creio que foi através do Quênia que ele observou, atingiu e
retratou o mítico monte.
A beleza da montanha nevada tem despertado a inspiração de escritores,
poetas, jornalistas, artistas plásticos e fotógrafos de todo o mundo, além
de atrair excursionistas, aventureiros e admiradores de Hemingway que vão
prestar sua homenagem ao escritor. Transformou-se em rendosa fonte de
atração turística.
Por tudo isso, nestes últimos tempos, tornou-se o Kilimanjaro astro de
grandes reportagens de jornais, revistas, cinema e televisão, confirmando,
mais uma vez, a extraordinária força da literatura. Através dessas
matérias se torna público o desvelo das autoridades da Tanzânia em
cercá-lo de cuidados e atenções especiais. O número de visitantes é
limitado, coibindo-se as depredações e danos ao meio ambiente com pesadas
multas e rigorosa fiscalização dos guias. Mesmo não sendo o mais alto ou
perigoso do mundo, é “certamente o mais inspirador e poético”, como
afirmou a repórter Maria Célia Ramos Bellenzani. Para ela, “qualquer um
pode chegar ao cume, mas é sempre bom ficar atento a alguns cuidados
básicos.” E então descortinar do alto alguns dos panoramas mais belos que
se possa imaginar, acentuando-se o contraste das geleiras num mundo
tropical, e que tanto enterneceram o coração do escritor.
Como nem tudo pode ser perfeito, inquietam-se os ecologistas com o
progressivo derretimento da calota nevada do Kilimanjaro, em conseqüência
do aquecimento global. Temem que em futuro não muito distante o gelo
desapareça, fazendo dele um monte rochoso e inóspito como tantos.
Esperemos que a fúnebre profecia nunca se concretize.
(11 de julho/2009)
CooJornal no 640
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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