21/03/20094
Ano 12 - Número 624
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
VALORES PIAUIENSES
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Escritor e jornalista veterano, Tobias
Pinheiro acaba de publicar mais um de seus livros. Trata-se de “Milagres
da Memória” (Edição do Autor – Rio de Janeiro – 2001), alentado
repositório de orações, ensaios, artigos, crônicas e poemas produzidos
pelo Autor, ao longo dos anos, motivados por sua intensa atividade
literária ou para dar largas às idéias que fervilham em sua cabeça. O
resultado é um livro que reúne páginas memorialísticas ao lado de
posicionamentos a respeito de pessoas e fatos, juízos críticos sobre obras
e autores, episódios e vultos históricos, instituições culturais, seus
projetos e realizações, além de muitos outros temas, sem falar nas
diversas manifestações de sua poética que povoam a obra. A miscelânea de
textos acaba assumindo o viés de uma obra confessional através da qual o
Autor se descortina perante o leitor, como homem e como intelectual. São
memórias escritas de forma traversa, sem planejamento prévio, em
obediência à sucessão dos acontecimentos que vai registrando em peças
literárias, em prosa ou verso. Para quem, como eu, teve poucas
oportunidades de lê-lo, Tobias Pinheiro se expõe diante de mim, flagrado
no físico, no biográfico e no psicológico.
O livro é homogêneo, no sentido da evidente qualidade literária dos
textos, revelando também em erudito de admirável memória. Mas é claro que
alguns trabalhos me tocam mais. Assim acontece, por exemplo, com as
páginas dedicadas a Josué Montello, Ronald de Carvalho, Antônio Justa,
Gonçalves Dias, Geraldo de Menezes, Barbosa Lima Sobrinho, Fernando
Segismundo, “Nos reinos de Pedro I” e “No universo dos trovadores”, que
assumem o caráter de pequenos ensaios, documentados e, quando é o caso,
dosados com bons versos. Também as crônicas merecem destaque, como é o
caso de “O atalho”, curioso fiapo da vida nordestina. Essas preferências
não significam que o restante não mereça atenção; pelo contrário.
Um capítulo, no entanto, me atinge mais fundo porque mexe com o Piauí,
Estado onde ele viveu por muitos anos e pelo qual nutro grande simpatia.
Trata-se de “Desfile de valores piauienses”, conjunto de quatro discursos,
proferidos em diversos eventos, todos realçando intelectuais e fatos da
terra que foi berço de Da Costa e Silva. O primeiro deles foi lido no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, para
festejar os oitenta anos da Academia Piauiense de Letras, da qual é sócio
honorário. O texto faz uma síntese da história da instituição, desde sua
fundação, em 30 de dezembro de 1917, evocando os fundadores e expoentes.
Registra o fato, em geral desconhecido pelo Brasil, de que ela forneceu
nada menos que quatro titulares da Academia Brasileira: Félix Pacheco,
Deolindo Couto, Odylo Costa, filho, e Carlos Castelo Branco. Lembra ainda
algo que até eu desconhecia, apesar de minhas leituras sobre sua vida e
obra, que Monteiro Lobato foi sócio-correspondente da Academia Piauiense.
Relembra em seguida os piauienses que se destacaram em outras atividades e
faz uma sintética abordagem das obras de seus expoentes nas letras. É um
pequeno e bem elaborado curso introdutório ao Estado margeado pelo
Parnaíba.
O segundo é um discurso proferido em Teresina, a “cidade verde”, ainda
alusivo às mesmas comemorações. Nele o autor relembra episódios pitorescos
da história e das letras, guardados graças aos milagres de sua espantosa
memória de “piauizeiro”, como o alcunhou Tito Filho. Também analisa, em
páginas saborosas, os poetas e escritores.
No terceiro discurso, proferido em terras cariocas, ele fala como
representante do Instituto Histórico e Geográfico Piauiense no I Colóquio
dos Institutos Históricos. O texto relembra nomes imerecidamente
esquecidos e está repleto de informações a respeito do Piauí e sua gente.
“Uma cidade se impõe”, texto que fecha o capítulo, é um hino a Teresina, a
“cidade verde”, fundada em 1852, e que “hoje é uma cidade madura”,
colocada entre as que “mais cresceram horizontalmente no Brasil nestes
últimos cinqüenta anos, seguindo a linha adotada pelas cidades
norte-americanas.” Depois de outras considerações, exclama com razão:
“Teresina já se impõe aos olhos dos brasileiros!”
Para concluir, registro a curiosa atração que o Piauí e suas letras
exercem sobre os de longe, levando tantos a estudarem e escreverem a
respeito. Cito como exemplo o caso de Félix Aires e seu “O Piauí na poesia
popular”, enquanto o autor relembra o celebrado livro de Stella Leonardos,
“Piauí rapsodo”, sem dúvida um marco sobre as letras piauienses.
(21 de março/2009)
CooJornal no 624
Enéas Athanázio,
jurista e escritor
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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