Existem livros cujo conteúdo ultrapassa o próprio título, mesmo porque a
titulação de uma obra é questão difícil e nem sempre se obtém algum que
retrate com fidelidade o que vai nas suas páginas. À primeira vista, “O
cristianismo e o bezerro de ouro”, de Anselmo F. Amaral (Martins Livreiro
Editor – P. Alegre – 2007) pode parecer obra panfletária de nome chamativo e
chocante, mas na realidade isso não acontece. É, na verdade, um manual de
história universal com exposição segura e que submete fatos e personagens ao
crivo de uma crítica penetrante e arguta, em tudo diferente dos manuais
congêneres, mostrando sempre as duas faces da mesma moeda. Para a realização
desse trabalho contribuiu a evidente cultura humanística do Autor e sua
sensibilidade no trato dos acontecimentos que comenta. A copiosa
bibliografia em que lastreia as conclusões revela um pesquisador atento que
vai rebuscar editoras e bibliotecas importantes à procura de livros nem
sempre ao alcance da mão, alguns quase inacessíveis. Entre os autores que
valoriza, deparei com surpresa com o historiador inglês H. G. Wells, pouco
estudado entre nós e pelo qual também tenho simpatia. É a preocupação de um
pesquisador que não se satisfaz com o fácil. Tudo isso contribuiu para fazer
de seu livro um trabalho de leitura agradável, apesar de abordar tantas
vezes temas áridos e espinhosos, levando o leitor a recapitular e aprender.
Palmilhando os caminhos tortuosos da história humana, desde os
primórdios, ele se depara sempre com três fatores que foram constantes e
provocaram indescritíveis sofrimentos, em especial para os mais pobres dos
seres humanos: a guerra, a escravidão e a concentração da terra. Mostra, com
base em fundadas fontes, que a opulência das nações e das minorias
privilegiadas, em qualquer regime, se sustentava à custa da força do braço
escravo, aviltando o trabalho, considerado atividade inferior, e com os
pensadores formulando justificativas para preservar a odiosa situação.
Assim, Varrão dizia o seguinte: “Escravo – instrumento com voz; boi –
instrumento semi-vocal; coisa – instrumento mudo.” Nem mesmo o grande
Aristóteles escapava à regra, afirmando: “O escravo é um utensílio dotado de
vida e um utensílio é um escravo sem vida” (p. 11). Escravos eram os
infelizes assim nascidos e seus descendentes e os vencidos, escravizados nas
constantes guerras de conquista.
As guerras estão entre os maiores
flagelos da humanidade e têm acontecido com tal freqüência que são encaradas
com frieza e naturalidade. Segundo levantamento do Autor, Roma esteve
envolvida em 31 guerras, sem falar na perene opressão armada contra as
próprias massas para conter suas reivindicações (p.35). Quanto à Grécia,
poderia ser descrita como uma sucessão de guerras: 14 conflitos, alguns de
longa duração (p.12). E as guerras acompanham o homem e sua história,
maiores e menores, revoluções, tumultos, embates, golpes, pela Idade Média a
dentro e até os tempos modernos com as maiores carnificinas de que se tem
notícia: as duas guerras mundiais (1914/1918 e 1939/1945). Além das guerras
promovidas pela Inglaterra, pela França, pelos Estados Unidos e outros
países, algumas típicas invasões de nações indefesas e sem reação.
E
permeando tudo, a posse da terra nas mãos de poucos, com exclusão da
maioria, a causa histórica que provocou sempre sangrentos conflitos em todos
os cantos do mundo e ainda hoje não encontrou solução adequada.
Essas
são apenas algumas notas sobre o livro de Anselmo F. Amaral, um chamado à
consciência das pessoas em busca de um mundo de paz em benefício de todos.
São lições que precisam ser aprendidas, expostas por um escritor que se
debruçou sobre a história humana e soube captar os fatos com aquela visão
crítica que permite enxergar com clareza.
(28 de
novembro/2008)
CooJornal no 609--------------------
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Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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