Monteiro Lobato
dividia as cidades em “com apito” e “sem apito.” Aquelas eram as que
estavam à beira das ferrovias, onde o trem passava apitando, ligando-as ao
restante do país, à vida e ao progresso; estas as que ficavam longe de
tudo, sem ligação com o mundo, marginalizadas. Hoje, com certeza, ele as
dividiria em cidades “com asfalto” e “sem asfalto”, pelas mesmas razões.
Essas lembranças me
ocorreram ao saber que duas cidades onde vivi acabam de ser, afinal,
ligadas por asfalto à rede rodoviária nacional: Anita Garibaldi, a
primeira comarca onde fui Promotor de Justiça, iniciando minha carreira, e
Calmon, onde passei boa parte da infância e juventude. É um fato
importante para essas comunidades e para mim, deixando-as mais acessíveis
e facilitando as visitas.
Nos tempos em que
morei em Calmon a estrada entre Caçador e Porto União, passando por Calmon
e Matos Costa, era péssima e, em alguns trechos, praticamente não existia.
Entre Calmon e Caçador era carroçável, mas no trecho entre Calmon e Matos
Costa se dividia em carreiros lamacentos que se perdiam pelo campo. Só os
“fordecos” e, mais tarde, os “jeeps”, conseguiam passar por ali, ainda
mais durante as chuvaradas de inverno. Uma simples viagem de sessenta
quilômetros, até Porto União, constituía uma aventura que poderia acabar
mal, dependendo da sorte dos viajantes. Depois, à custa de muita
reclamação e pedidos, a estrada foi melhorada e ganhou o pomposo nome de
Estrada da Amizade, mas isso após ter provocado inacreditáveis
padecimentos àquele pobre povo que por ali vivia, abandonado à própria
sorte.
Por essas e outras,
é uma dádiva que Calmon e Matos Costa estejam agora ligadas ao mundo por
uma bela estrada asfaltada. Mas é necessário que ela seja usada com
atenção para não se transformar em palco de tragédias, como costuma
acontecer sempre que uma rodovia chega, conforme testemunhei em outros
lugares. E também precisa ser conservada e respeitada, evitando-se o
excesso de peso dos caminhões e a passagem de veículos que causem danos.
Uma estrada é uma conquista do povo, implica elevado investimento pelos
cofres públicos e merece uma vigilância permanente para que preste bons
serviços a todos e por longos anos.
Parece um sonho, mas
Calmon e Anita Garibaldi agora “estão logo ali...”
(14 de junho/2008)
CooJornal no 585