
17/05/2008
Ano 11 - Número 581

ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
ISENTA E COMPLETA |
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É assim que a boa crítica tem considerado este trabalho biográfico de
Fernando Jorge, aparecido agora em sua 5ª. edição, revista e ampliada,
nesse aprimoramento constante e incansável que o autor costuma imprimir às
suas obras. Refiro-me ao livro “As lutas, a glória e o martírio de Santos
Dumont” (Geração Editorial – S. Paulo – 2007), e que acabo de ler com
intenso prazer. E de fato, a vida do inventor brasileiro, nascido em
Cabangu (MG), foi sempre de uma atividade febril, como se ele estivesse
tomado de inadiável urgência, e assim pontilhada de mil acontecimentos,
cada um deles reconstituído pelo biógrafo à custa de pesquisas
sistemáticas nas quais nada ficou de fora, desde a imensa bibliografia
consultada e a busca em outras fontes, resultando num levantamento como
acredito que não exista igual, ainda que Santos Dumont seja objeto de
inúmeras outras obras do gênero. Como se isso não bastasse, em alentado
apêndice, Fernando Jorge esmiúça e corrige incontáveis erros cometidos por
outros autores sobre fatos da vida e da obra do aviador. Diante disso, a
visão de conjunto, fornecida pelo livro, me parece única e dele o leitor
sai munido das mais minuciosas e completas informações. É uma obra que faz
justiça ao grande Santos Dumont (1873/1932).
Além de sua decisiva contribuição para a dirigibilidade dos balões e de
ter sido o primeiro a voar no mais pesado que o ar, alçando vôo com seus
próprios meios, sem as catapultas que fariam voar até uma locomotiva –
como dizia o público – Santos Dumont se transformou num cidadão do mundo
que fascinava as pessoas. Creio que nenhum brasileiro, com a possível
exceção de Rui Barbosa, conquistou tantos admiradores no Brasil, sem falar
em outros países, em especial a França, em cujos céus realizou suas
arrojadas experiências. Admirado e imitado em tudo, desde a elegância
personalíssima, até nos gestos e costumes. Seu estranho chapéu desabado,
os cabelos repartidos ao meio, os colarinhos duplos e engomados, as calças
curtas e com barras arregaçadas, tudo era objeto de imitação e nesse
sentido o autor colheu depoimentos interessantes. Para completar, ele
estimulava o orgulho nacional, uma vez que “fizera a Europa se curvar
diante do Brasil” como nenhum outro. Misto de cavalheiro e arrojado
aventureiro, de coragem invulgar, tudo nele contribuía para fascinar as
pessoas, em especial a juventude. Ao contrário do que se pensa, sabia
admirar as mulheres e se nunca se casou foi para se sentir livre e
desimpedido nas mais arriscadas empreitadas. Entre seus objetos foi
encontrada a foto da mulher que teria amado em segredo.
Tendo recebido os mais importantes prêmios e as maiores honrarias a que um
brasileiro pudesse aspirar, Santos Dumont manteve sempre os pés no chão e
chegam a ser comoventes as pequenas providências que tomava na conservação
de seus bens, em especial da casa onde havia nascido, na Serra da
Mantiqueira, e de sua última morada, em Petrópolis, hoje transformada em
museu. Rico de família, filho do maior produtor de café do país, jamais
necessitou se preocupar com as coisas prosaicas da subsistência e
realizava suas experiências à própria custa. Mas nem por isso esquecia de
seus ajudantes, mecânicos, empregados, parentes e pessoas pobres, a quem
costumava destinar generosas doações.
Foi sempre um pacifista confesso e desejava que o avião servisse à paz e
ao conforto dos homens, aproximando-os. Mas a utilização de seu invento
como arma mortal e destruidora de vidas inocentes abalou a fundo seus
nervos, levando-o ao fim trágico que a vida, paradoxalmente, lhe reservou.
Suas obras e seus inventos, porém, permaneceram como bens pertencentes à
humanidade e sua figura se destaca na história do homem, às vezes injusta
mas também pontilhada de momentos luminosos como esta biografia de
Fernando Jorge.
(17 de maio/2008)
CooJornal no 581
Enéas Athanázio,
jurista e escritor
e.atha@terra.com.br
Balneário Camboriú - SC
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