Enéas Athanázio
LITERATURA DE CORDEL
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A
literatura de cordel ganhou tal nome por serem os folhetos com poesias
populares expostos, nas feiras e mercados, acavalados sobre cordões
estendidos, semelhando bandeirolas. Existe aqui no sul geral desconhecimento
do gênero e, às vezes, certa reserva por se tratar de produção eminentemente
popular. O desinteresse, no entanto, não se justifica porque esse gênero
literário veio com as naus cabralinas da Europa, onde já era uma das mais
antigas manifestações poéticas do povo, e aqui entre nós se desenvolveu de
forma admirável, tanto em qualidade como em quantidade, sendo publicados
incontáveis cordéis com poesias de poetas da melhor qualidade. Existe em Porto
Alegre a Academia Gaúcha de Poetas de Cordel, muito ativa, a única de que
tenho conhecimento na região sul.
Os folhetos, em regra, são impressos
em papel jornal nas tipografias tradicionais, às vezes de fundo de quintal.
Segundo a tradição, costumam trazer a capa ilustrada com clichê, gravura ou
xilogravura alusivo ao tema tratado. São em geral do mesmo tamanho e pouco
volumosos, o que os torna baratos e de fácil aquisição. Muitos de seus autores
– cantadores, repentistas e poetas populares – se tornaram celebridades e
viveram sempre dos rendimentos de sua produção poética, além de apresentações
em eventos públicos, declamando ao som de suas violas. Patativa do Assaré,
hoje reconhecido como um dos maiores poetas populares do país pela melhor
crítica, inclusive do exterior, tem parte de sua obra catalogada como
literatura de cordel. Meu amigo Paulo Nunes Batista, homem erudito, acadêmico,
autor de vasta obra, sobreviveu durante anos como cantador de versos em praça
pública. Manoel Monteiro da Silva é dos mais renomados poetas populares,
batalhando há anos pela edificação do “Memorial do Poeta Popular.”
Sobre literatura de cordel existe extensa bibliografia e ela foi objeto do
estudo de pesquisadores de grande renome, entre eles o folclorista Luís da
Câmara Cascudo. Livros teóricos, ensaios, teses, monografias e artigos sobre o
assunto são inumeráveis. Estabeleceu-se uma classificação dos folhetos,
dividindo-os em dezenove categorias, cada qual com suas subdivisões: peleja,
marcos, histórias populares, histórias verídicas, fabulação, gracejos,
religião, profecias, avisos, castigos, política, reportagens, heroísmo,
proezas, miscelânea, profanação, depravação, conselhos e escândalos. A
infinita criatividade dos poetas aborda os mais incríveis temas, atuais e
antigos, nacionais e estrangeiros, com muito humor e sabedoria popular. Às
vezes assume a condição de verdadeiro manifesto. Abundam os chamados “ABCs”,
cantando em versos colocados em ordem alfabética a personalidade ou o assunto
retratado. Rodolfo Coelho Cavalcante (baiano), Hildemar de Araújo Costa
(baiano) e Paulo Nunes Batista (paraibano) me honraram com esse tipo de
cordel. João Bandeira de Caldas (cearense) enviou-me uma carta em forma de
cordel. Folhetos famosos são vendidos em grandes tiragens, suas edições se
sucedem, e aqueles que se tornam raros são procurados pelos colecionadores e
adquirem elevado preço.
José Alves Sobrinho, poeta popular, cantador
durante anos, é um profundo estudioso do assunto. Seu livro “Cantadores,
Repentistas e Poetas Populares” é um manancial de informações sobre o assunto
e merece a leitura dos interessados. (Contatos com o autor: Caixa Postal 10119
– Cep 58109-970 – Campina Grande/PB).
(Revista Rio Total nº
531, CooJornal, 02/06/2007)
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor e Promotor de Justiça catarinense (aposentado), cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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