Enéas Athanázio
NÓS E A AMAZÔNIA
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Neste meu
contínuo intercâmbio literário recebo livros e publicações de todos os cantos,
inclusive da Amazônia. Lendo estes últimos, venho observando com preocupação
que cresce naquela região, em especial no Pará, um sentimento coletivo hostil
a todos nós - os sulistas. Em alguns textos e manifestações é perceptível a
formação de ódio generalizado contra nós, considerados os causadores maiores
das desgraças que por lá ocorrem, entre elas os desequilíbrios ecológicos que
provocam estiagens nunca vistas e inundações dramáticas. Na raiz desses males,
e de outros decorrentes, estaria a incessante derrubada das florestas, em
ritmo frenético, sem qualquer limite, levada a cabo por gente do sul e do
centro-oeste que para lá acorre em massa. O médico paraense Camillo Viana,
dirigente de uma ONG, escreveu em recente artigo de jornal que “há uma
diferença entre o nordestino, principalmente o cearense, e os centro-sulistas
que vieram agora. Os primeiros realmente preservaram a floresta, os
centro-sulistas não. Eles vieram para arrebentar tudo o que tiver pela
frente.” Essa pregação não é de hoje, mas começa a surtir efeito. Na marcha em
que vão as coisas, é bem possível que sejamos hostilizados naquela região pelo
simples fato de sermos do sul.
O sentimento que fermenta por lá contra
nós é injusto? Sem dúvida é, quando generalizado. Mas, bem observadas as
coisas, veremos que não é destituído de razão. Em minhas andanças por aquela
região, anos atrás, fiquei chocado com o desmatamento realizado sem critério,
como já escrevi aqui. Em muitos lugares queimaram a floresta em pé, nem mesmo
se dando o trabalho de derrubar as árvores, provocando fogueiras gigantescas
que tudo destruíram. Troncos carbonizados permanecem em pé, em largas
extensões, sem aproveitamento e com resultado pífio: as campinas são de más
pastagens e o gado sem qualidade. Pelos nomes que ouvi e li, os autores da
façanha são descendentes ou aparentados dos que devastaram por aqui, muitos
deles bem conhecidos. É claro que atitudes dessa ordem só podem provocar
reações negativas.
Essa devastação violenta sempre tem sido feita em
nome do progresso, palavra mágica que tudo justifica. Mas se olharmos a
História – é para isso que ela serve – aprenderemos uma dolorida lição: a
agressão ao meio ambiente destruiu e pouco construiu. Bem próximo de nós
existe um exemplo chocante: a célebre Companhia Lumber derrubou milhões de
árvores nas regiões de Três Barras e Calmon e não deixou absolutamente nada,
exceto os montes de serragem e os...aleijados de serrarias. Nem uma estrada,
um hospital, uma escola, um melhoramento urbano. Os municípios ali criados,
mais tarde, lutam com todas as dificuldades numa região empobrecida e
descapitalizada porque seu maior recurso econômico – a madeira – foi carreado
para fora e nada deixou atrás de si. Muitos outros exemplos, tanto aqui no
Estado, como na região sul, poderiam ser citados.
Por essas e outras, a
devastação crescente da Amazônia é preocupante pelas consequências e a
fermentação de ódio contra nós é um fator negativo para a integração e a
unidade nacional. Ódio entre regiões da mesma pátria nunca deu bom resultado,
como o panorama mundial recente está farto de demonstrar.
(Revista Rio Total, CooJornal, 20 de janeiro/2007)
Comentários sobre o texto podem ser enviados ao autor, no email
e.atha@terra.com.br
Enéas Athanázio,
escritor catarinense, cidadão honorário do Piauí
Balneário Camboriú - SC
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