05/08/2006
Ano 10 -
Número 488
ENÉAS ATHANÁZIO
ARQUIVO
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Enéas Athanázio
JUCA PATO
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No início do mês de agosto a União Brasileira de Escritores (UBE) fez a
entrega do Troféu Juca Pato ao escritor Luiz Alberto Moniz Bandeira,
eleito Intelectual do Ano de 2006. Esse é um dos maiores prêmios
brasileiros, mantido há 42 anos pela entidade que congrega os escritores e
com o patrocínio do jornal “Folha de S. Paulo.” Doutor em ciência
política, professor emérito da USP e docente de universidades européias, o
eleito é autor de importante obra, avultando o livro “Formação do Império
Americano”, onde analisa a vocação imperial norte-americana e suas
origens.
Escritores brasileiros de primeira linha têm recebido o prêmio ao longo de
sua existência, entre os quais Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre,
Luiz da Câmara Cascudo, Érico Veríssimo e muitos outros.
A UBE é a maior entidade do gênero no Brasil, contando com milhares de
associados em todo o território nacional e seccionais em vários Estados.
Fui fundador da UBE-SC, seu conselheiro, coordenador do jornal,
vice-presidente e, por fim, presidente. Como todas as entidades anteriores
aqui no Estado, a UBE-SC não vingou. Em outros Estados existem seccionais
ativas, como em Goiás, Piauí e Pernambuco. A UBE-RJ é independente e tem o
mesmo status da paulista.
Juca Pato é um personagem criado pelo célebre caricaturista Belmonte
(Benedito Bastos Barreto – 1896/1947) e que aparecia sempre nos jornais
exercitando um humor cáustico a respeito dos fatos de nosso dia-a-dia.
Baixote, calvo, barrigudinho, sempre de fraque e gravata borboleta,
tornou-se temido pelas coisas que dizia. Como bem definiu o crítico Anatol
Rosenfeld, “Juca Pato é o próprio povo que universalmente costuma pagar o
pato e que, no entanto, não perde o bom humor.” É, em suma, o brasileiro,
somos nós que todos os dias pagamos o pato e continuamos rindo e
aparentando alegria, mesmo porque não encontramos saída. Em cada tentativa
de mudança acabamos pagando um pato ainda maior.
E de fato, os mensalões devoram nossas finanças e nós pagamos o pato; os
sanguessugas metem a mão e nós pagamos o pato; outros avançam nos recursos
da previdência e nós pagamos o pato. E por aí vai pelo passado próximo e
remoto e, ao que parece, pelo futuro, “per omnia saecula...”
Mas Juca Pato gozou de imenso prestígio e seu nome batizou célebre bar
paulistano, no centro da Capital, nas proximidades da Praça da República e
dos melhores cinemas da época. Ali se reuniam intelectuais, escritores,
gente de teatro, políticos, jornalistas, aficionados do cinema e
apreciadores de bom papo. Ali se degustava um excelente “pernil” (lanche
que caiu no ostracismo em face de sua gordura), regado a goles de um
“cristal” (chopinho) ou de uma límpida “loira” (cerveja). Ali tudo se
discutia, ainda que a conclusão fosse a mesma: “na realidade sempre se
paga o pato, em todo o mundo e em todos os tempos”, como escreveu
Rosenfeld, seu assíduo freqüentador.
(05 de agosto/2006)
CooJornal no 488
Enéas Athanázio é escritor
e.atha@terra.com.br
Florianópolis - SC
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