01/07/2023
Ano 25 Número 1.324
ARQUIVO
CARLOS TRIGUEIRO |
Sou paraibano a expandir
minhas origens potiguares e cearenses. Sendo
expressiva a expansão potiguar, claro, pois o
Rio Grande do Norte faz fronteiras com o
semiárido, os sertões, as campinas e o litoral
da Paraíba. De outro ponto de vista, sei também
dos laços familiares casamenteiros do lado de lá
com os de cá e vice-versa, pontilhando a árvore
genealógica dos Trigueiro, pois houve muitas
uniões e casamentos entre primos, tios e
sobrinhas em diversas gerações.
Apesar de
ouvir meu pai Asteclíades e tios Periandro,
Alfredo e Chico, muitas vezes se referirem aos
Trigueiro da Paraíba, empostando a voz quando
citavam Osvaldo Trigueiro, que chegou a
governador do estado, só fui pisar solo
paraibano aos treze anos de idade, no dia
9.12.1956, vindo de Fortaleza, passando por
Natal, em avião pinga-pinga rumo a Campina
Grande, Recife, Aracaju, Salvador, Vitoria e
desembarque final no Rio de Janeiro.
O
avião, já disse em capítulo anterior, era da
companhia Lóide Aéreo Nacional. Aterrissamos no
aeroporto de Campina Grande por volta da hora do
almoço, num Curtiss-C46-Comando (ou era um
Douglas DC-6?) aeronaves muito utilizadas para
trajetos de curto e médio alcance. A bordo do
avião, também minha mãe Solange e minha irmã
Cleide. Íamos encontrar no Rio de Janeiro a
outra metade da família, meu pai e os irmãos
mais novos, Claudio e Nonô, que deixaram o Ceará
um mês antes em viagem de navio, levando nossos
teréns de mudança.
Sabia, de ouvir os
mais velhos dizerem, que havia autoridades de
sobrenome Trigueiro em vários municípios
paraibanos, mormente em Patos. Alguns a
desempenhar funções de prefeito, de delegado e
de policiais. Nomes de lugares, além da capital
João Pessoa, mesmo naquela época não me eram
estranhos, pois de Cabedelo, Ingá, Patos,
Martins, Guarabira, Cuité, Pombal, Mamanguape,
ouvira historias.
Na mudança do Ceará
para o Rio de Janeiro, também nos acompanhou
minha papagaia, "Rosa”, que embarcara comigo
numa caixa de sapatos (de papelão, com tampa e
furos para a malcriada respirar e soltar
palavrões contra mim e o desconforto do
ambiente). No aeroporto de Campina Grande
arranjamos um canto para a "merenda forrar o
bucho”, até o reembarque na aeronave e nova
parada no Recife, não sem antes dar um tasco de
rapadura para Rosa roer dentro da caixa de
sapatos. Naquele tempo era permitido viajar com
animais pequenos na cabine da aeronave. Quando
adulto, por terra, ar e mar, fui varias vezes a
João Pessoa a trabalho ou vontade de respirar o
ar puro nos beirais das praias paraibanas, além,
claro, de me fartar com as "peixadas à
brasileira”, lagostas fresquinhas e cerveja
gelada.
Carlos Trigueiro é escritor
e poeta Pós-graduado em "Disciplinas Bancárias". Prêmio Malba Tahan (1999), categoria contos, da Academia Carioca de Letras/União Brasileira de Escritores para “O Livro dos Ciúmes” (Editora Record), bem como o Prêmio Adonias Filho (2000), categoria romance, para “O Livro dos Desmandamentos” (Editora Bertrand Brasil).
RJ
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