01/09/2024
Ano 27 Número 1.381
ARQUIVO
CARLOS TRIGUEIRO |
Entrevista à Oleg Almeida publicada nas Revistas digitais:
“EisFluências” (Ano
V, nº XXX, Lisboa/Portugal e Recife/Brasil, agosto/2014), GERMINA/Literatura
(Volume 10, nº 2, agosto/2014, Brasil), RIOTOTAL (Ano 18, nº 913, Nov. 2014,
Brasil) e no BLOG do GALENO, 2014.
OA: Nascido em Manaus, você viveu parte da
infância em Fortaleza, mudando-se a seguir para o Rio de Janeiro, ou seja,
conheceu desde muito cedo o Norte, o Nordeste e o Sudeste do Brasil. É claro
que essas experiências ampliaram a sua visão e compreensão da realidade
brasileira. Elas o ajudaram, igualmente, a formar-se como escritor? Sua
criatividade teve fontes telúricas?
CT: De fato, essas mudanças na
infância e juventude tiveram grande influência na minha visão da realidade
brasileira, e logo compreendi que o Brasil não era um país uniforme, mas, no
meu ponto de vista, sim, vários países – aqui e ali com suas conotações
geográficas, climáticas, sociais, raciais, e de costumes – unidos
fundamentalmente pelo idioma português. Isso teve influência nas minhas
emoções, na minha visão do país e, claro, mais tarde, na minha literatura.
Porém, não creio que a minha expressão criativa tenha apenas fontes telúricas,
já que outras experiências culturais e acadêmicas, bem como muitos anos
vivendo em outros países, também contribuíram.
OA: Quando você estreou
na literatura? Como foram esses primeiros passos no caminho literário: fáceis
ou nem tanto?
CT: Eu já escrevia eventualmente textos de cunho
sociológico e político no JORNAL DO BRASIL, do Rio de Janeiro, mercê de uma
formação acadêmica na FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS que era muito focada nesses
aspectos. Mas a minha estreia na literatura foi com Memórias da Liberdade,
teoricamente um tipo de obra que os escritores escrevem, quase sempre, em fim
de carreira. Todavia, na época, eu vivia em Madri (Espanha) e estava
influenciado pelo livro Confesso que vivi, do Pablo Neruda, que lera e relera.
Quando me dei conta, já estava contando também minhas experiências vividas, e
ainda não completara quarenta anos de idade. É um livro de reminiscências,
principalmente dos meus tempos infantis no Amazonas, Pará, Ceará e começo da
adolescência no Rio de Janeiro. Publicar no Brasil foi difícil. A Editora
faliu antes de editar o livro. Na época, 1985, eu já trabalhava em Macau
(China). Vim ao Brasil em férias, fiz um acordo com o editor e recebi de volta
os meus originais em Tabelião e Cartório. Depois, às minhas expensas,
editei e publiquei Memórias da Liberdade nas gráficas de um amigo e com o selo
da editora falida, porém com a distribuição comercial por minha conta. Doei
trezentos exemplares para a Biblioteca Nacional, contratei um distribuidor
particular e o livro foi razoavelmente distribuído. De outra parte, o
lançamento foi com “pompa e circunstância”, em Macau, naquela época ainda
território chinês sob administração portuguesa, com apoio de jornais,
personalidades culturais lusitanas e chinesas da época. Saíram algumas boas
resenhas em português e chinês nos jornais locais. Tenho ainda alguns recortes
das matérias publicadas, e que hoje estão digitalizadas no meu site literário
www.carlostrigueiro.art.br
OA: Você trabalhou, por décadas, no Banco do
Brasil. Como foi essa etapa de sua vida? As atividades profissionais se
contrapunham ao seu fazer artístico ou, pelo contrário, completavam-no?
CT: Trabalhei 32 anos no Banco do Brasil. Foi uma experiência riquíssima
porque eu viajava por terra, mar e ar, implantando serviços bancários pelo
país. Conheci muito dos interiores brasileiros, isolados, populações
praticamente fora do mapa e também cidades do litoral. Na época, o Banco do
Brasil realizava serviços por conta do Banco Central, recém-criado, e que
ainda não tinha estrutura. Imagine que viajei várias vezes, em
navios-transporte da Marinha de Guerra, levando numerário para as principais
agências distribuidoras da moeda corrente nacional, desde Paranaguá (PR) até
Manaus (AM), de porto em porto, nas capitais e algumas cidades da bacia
amazônica. Essas experiências aliadas à curiosidade natural do escritor foram
importantes mananciais literários.
(Continua...)
Extraído do livro "HISTÓRIAS TIPO ASSIM:
WHATS-au-au-APP", selo IMPRIMATUR, Ed. 7Letras.
Comentários sobre o texto podem ser encaminhados ao autor, no email
carlostrigueiro28@gmail.com
Carlos Trigueiro é escritor
e poeta Pós-graduado em "Disciplinas Bancárias". Prêmio Malba Tahan (1999), categoria contos, da Academia Carioca de Letras/União Brasileira de Escritores para “O Livro dos Ciúmes” (Editora Record), bem como o Prêmio Adonias Filho (2000), categoria romance, para “O Livro dos Desmandamentos” (Editora Bertrand Brasil).
RJ
carlostrigueiro28@gmail.com
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