(6ª Dimensão)
DEFUNTO (Elucubrando): O vizinho que me socorreu está se lixando
se fui ou deixei de ser dramaturgo! E há um par de horas éramos
contemporâneos. Acho que ele nunca foi ao teatro. Bastou-lhe sempre a peça
que a vida prega. Provavelmente, ele vale pelo que consome, e eu, pelo que
materialmente acumulei, casando com mulheres burguesas ou não, escrevendo
e montando peças teatrais, ou especulando negócios rendosos tipo a nova
peça que estava ensaiando: “Brasil, país da corrupção olímpica.”. Para
obter sucesso é preciso arvorar negócios da moda e manter sincronia com os
ditames dos partidos políticos e famílias dominantes. Agora entendo porque
os amigos diziam que eu era coxinha e chorava de barriga cheia!
LAO-TSÉ (Vulto falando, ou sabe-se lá...): “Quanto maior o número de leis,
tanto maior o número de ladrões”.
CARL JUNG (Vulto falando, ou
sabe-se lá...): “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro
desperta.”.
ERNST HEMINGWAY (Vulto falando ou sabe-se lá...): “Sua
perspectiva será muito melhor que a minha.”
DEFUNTO
(Elucubrando...): Sob o ponto de vista do mercado, sou agora um fardo
barroco, mercadoria antiga em processo de consumo final. Daqui a pouco
chegarão os técnicos no trato com a morte, meus dados pessoais e
fisiológicos serão tratados por aplicativos e softwares específicos. De
dramaturgo passarei a mera constelação semiótica criptografada! Vão me
transformar noutra variação de energia a mover-se no tempo e espaço.
Quanto cinismo!
Nesses momentos dramáticos, todos diminuem a louca
corrida da vida, meditam sobre a morte e concluem que falecimento é
tragédia em único ato, ou melhor, em única dimensão. Não entendem ser a
vida peça exclusiva, quase sempre montada às pressas, raramente bem
interpretada, muitas vezes entendida como tragédia sem finalidade.
ARISTÓTELES (Vulto falando ou sabe-se lá....): “A finalidade da
Tragédia é provocar a catarse”.
SERTANEJO (Vulto que – em vida –
morreu faminto): Tragédia é cozinhar calango, ao molho de xiquexique,
beber água de cacimba, esperar a chuva que nunca virá, e morrer ao som da
viola com as cordas retorcidas...
EUCLYDES DA CUNHA (Vulto falando
ou sabe-se lá...): Catarse é deglutir o calango e lamber os beiços!
SÊNECA (Vulto falando ou sabe-se lá...): “Devemos nos cuidar não para
viver muito, mas para viver bastante.”
NIETZSCHE (Vulto falando, ou
sabe-se lá...): “Temos a arte para não morrer da verdade.”.
RUI
BARBOSA (Vulto falando, ou sabe-se lá...): “A morte não extingue,
transforma; não aniquila, renova; não divorcia, aproxima.”.
Extraído do livro "HISTÓRIAS TIPO ASSIM: WHATS-au-au-APP",
selo IMPRIMATUR, Ed. 7Letras.