01/11/2022
Ano 25 Número 1.294
ARQUIVO
CARLOS TRIGUEIRO |
Nossa literatura
infantil cresceu. Ganhou prêmios internacionais.
Aprimorou forma e apresentação: capas, projetos
gráficos e ilustrações nada ficam devendo às
publicacões estrangeiras. Diversificou temas, indo
alem dos clássicos brasileiros e do tradicional
repertorio europeu (contos de fadas). Retomou
mitos indígenas, africanos, gregos, árabes e
outros do imaginário universal. No nicho
infanto-juvenil enriqueceu o gênero com biografias
de artistas, pintores, músicos e escritores, e
lançou um novo olhar sobre os sentimentos da
condição humana - inveja, ciúme, ódio, despeito,
egoísmo etc.
Porém, não creio que esses
fatores sejam suficientes para formar bons e novos
leitores. Acho que a literatura proporciona ao
imaginário do pequeno leitor a oportunidade de
interagir com agentes socializantes da vida real
(família, escola, professor, vizinhança,
comunidade religiosa) e com sua própria natureza
psicológica individual. Obviamente, esse processo
de interação é subjetivo e ninguém garante que
formará um amante dos livros.
Quanto ao
espírito crítico, o pequeno leitor brasileiro de
hoje, bem-formado e informado, talvez comece a
avaliar o mundo ao redor, a influência do poder
aquisitivo, do marketing, da moda e da mídia sobre
a vida real, ao perceber que só alguns podem
comprar livros ou ter acesso a eles, enquanto a
maioria não consegue nem uma coisa nem outra.
Sobre o fenômeno Harry Potter, minha opinião é
que passará, assim como passou a febre dos
dinossauros. Vejo o pequeno mago como efeito
instantâneo da globalização no imaginário
infantil, encantado, sim, pela varinha do
marketing regendo gigantescas linhas de produção
industrial. Acho que não atravessará séculos nem
gerações, não repetirá o feito de Ali Babá, Tom
Sawyer, Huck Finn, Oliver Twist, David
Copperfield, Tarzan e, nacionalmente, de nossos
heróis do Sitio do Picapau Amarelo.
(Em Meu
Brechó de Textos, Editora Imprimatur, 2012)
Publicado em O RASCUNHO Nr. 66, Jornal Literário,
2005, Curitiba
RT, 26/04/2013 - Ano 16 - Número 837)
Carlos Trigueiro é escritor
e poeta Pós-graduado em "Disciplinas Bancárias". Prêmio Malba Tahan (1999), categoria contos, da Academia Carioca de Letras/União Brasileira de Escritores para “O Livro dos Ciúmes” (Editora Record), bem como o Prêmio Adonias Filho (2000), categoria romance, para “O Livro dos Desmandamentos” (Editora Bertrand Brasil).
RJ
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