Bruno Kampel
TOMOGRAFIA DIGITALIZADA DE UM BECO SEM SAÍDA
CHAMADO BRASIL
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Não
há nenhum projeto de Igualdade sobrevoando as areias de Ipanema, nem exemplos
de Justiça transitando paulistanas avenidas ou habitando faustosíssimas
mansões.
Não há salários dignos nos haveres de quase todos os que ensinam,
ainda que haja muita vontade de aprender em quase todos os que estudam.
Não há nem que seja uma minúscula amostra de esperança nas manchetes dos
jornais escritos e falados, nem consignas e promessas verdadeiras no dizer e
no fazer daqueles que governam ou que sonham com faze-lo.
Não há nada
que não seja melhorável na conduta e nos atos dos que puxam o coreto, nem
proposta nem programa que ajude a trocar os arquitetos da baderna.
Neste
atual estado de coisas do dar e receber da corrupção, e da falsidade dos que
dizem mas não fazem, e do governar mesquinhamente em causa própria, não há
nenhuma chance de um Brasil que erradique tudo isso, nem que neve no Amazonas
ou que o ganso cante um samba.
Não há honestidade nos que gerem os
dinheiros dos que pagam seus impostos, nem naqueles responsáveis de cuidar que
os culpados dos desvios sejam presos e punidos com dureza.
Não, não há.
E isso ocorre porque nós, o tal do povo, povinho, povão, ou como prefiram,
torcedores, contribuintes, clientes, eleitores, pacientes, forças populares,
humanoides, brasileiros, que só queremos viver e conviver em paz sem que nos
mintam, sem que nos embrulhem, sem que nos enganem, sem que nos roubem, sem
que nos manipulem, sem que nos coisifiquem, sem que nos humilhem, sem que nos
condenem a tudo isso e a mais ainda, ante as possíveis opções de que dispomos
para dizer chega a essa triste e injusta senzala em que o Brasil foi
transformado - onde os senhores de escravos sentam no Planalto e adjacências e
nas duas casas do Congresso e nas mais altas instâncias da Justiça - o que
fazemos é voltar a tropeçar na mesma pedra reincidindo nos erros tantas vezes
cometidos, escolhendo políticos historicamente desonestos e calando ante os
conchavos para escolher os juízes do agrado dos senhores da senzala.
Sim, enquanto esse seja o diagnóstico continuaremos a padecer o mesmo mal que
adoenta o Brasil desde os tempos do Império, já que sem a aplicação dos
antídotos mais do que conhecidos e indicados para erradicar essas patologias -
nunca usados até hoje – o Brasil jamais sairá do estado social comatoso em que
se encontra.
Refiro-me à roubalheira institucionalizada e protegida; ao
desrespeito ao espírito da lei por aqueles encarregados de garantir que seja
respeitado; à corrupção vertical de cima para baixo cada vez mais descarada e
ilimitada; à improbidade administrativa como condição indispensável para ser
nomeado e investido no cargo que abre as portas do Tesouro para uso e abuso em
causa própria, e tantas outras que seria redundante menciona-las.
Tenho
certeza de que há muitos pensando que uma vez conhecido o POR QUE desse
flagelo, tenha finalmente chegado a hora de procurar e encontrar e aplicar o
esperado e desejado e inadiável ponto final a essa mais do que cinco vezes
centenária sangria dos impostos que pagamos; a esse saqueio sistemático e sem
limite das reservas monetárias que o país, ou melhor dizendo, que o povo em
carne e osso sofre sem quase piar, vítima que é dos poderosos anestésicos que
o Poder injeta nas veias da Nação, já se trate de uma dose cavalar de
Bolsa-família, ou de um par de sensuais comprimidos da novela das nove, ou de
um jogo amistoso da verde-amarela, ou de outra técnica de hipnose geral de
igual ou pior teor que das antes mencionadas.
É hora de embainhar a
passividade que desde tempos imemoriais comanda a nossa corriqueira forma de
aceitar os fatos, e desembainhar as contas pendentes – que são tantas - com
aqueles que desde as alturas do nirvana do Planalto e sucursais nos fragilizam
como sociedade e nos inviabilizam como sujeitos de Direito.
É hora de
deixar de votar naqueles partidos e pessoas que sabemos serem corruptos
genéticos, ladrões de luvas de pelica e colarinho branco, compradores de votos
e vendedores de falsas promessas de felicidade. Sim, sabemos muito bem sabido
os nomes ou siglas de quase todos.
É hora de abandonar a omissão que
escolhemos como modus vivendi e operandi.
É hora de tomar as rédeas do
nosso destino e caminhar até ele, doa a quem doer, inaugurando de uma vez e
para sempre o Brasil de todos, onde a riqueza conquistada por mérito próprio
seja mais do que bem vinda; onde a pobreza seja pouca porém digna, e a miséria
uma esquecida página da nossa História.
(15 de julho/2016)
CooJornal nº 992
Bruno Kampel é analista político, poeta e escritor.
Suécia
bruno.kampel@gmail.com
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