07/10/2011
Ano 14 -
Número 756
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"Amigo da Cultura"
ARQUIVO
BRUNO KAMPEL
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Bruno Kampel
SHALOM SHALOM 5772 anos novos judaicos
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Inventamos o Tempo. E então o dividimos, atribuindo nomes a esses pedaços que
não tem nome próprio nem essência. Milênios que carregam histórias que
comentam fatos que geram dogmas que definem o perfil dos habitantes desse
templo que se chama Vida, e no qual a Morte é a única deidade.
Redigimos e planejamos os nossos projetos comuns – a maioria deles bem menos
humanos do que o simples olhar de um cão ao seu dono - pedindo e exigindo tudo
para nós e nada para vós. E dentro dessa bomba de Tempo tecemos antagonismos,
desenhamos prepotências, vomitamos guerras e guerrilhas, parimos discursos que
matam palavra a palavra, e tudo isso em nome do pai e do filho e do espírito
santo e de elokim barukh hu e de Alá uakhbar, e de tantos nomes que inventamos
para apelidar um mesmo dogma, que para isso é que nos hipnotizam desde seus
púlpitos, desde as suas consignas, desde as suas mentiras bem vestidas, com
suas armadilhas divinas, suas verves cativantes, suas verbas sem fronteiras.
E quando 5.772 anos dessa história que circula em nossas veias dizem tanto e
tão pouco, e nada de nada do muito e do nada que aprendemos, é hora de
regenerar um imenso desejo de futuro ao contemplar o imenso vazio do presente.
Sim, falo do Estado de Israel, a pátria genética de um sonho milenário e que
hoje jaz - doente terminal de si mesmo - vítima de um precipício ético que ao
contrário do ante-ontem em que desertos viravam jardins, faz que hoje projetos
humanistas se transformem em fracassos políticos; que realidades possíveis não
passem de ser pura fantasia; que sonhos de Paz sucumbam perante pesadelos de
guerra.
De ano novo em ano novo retrocedemos, renunciando a direitos conquistados,
desprezando os que pensam diferente, demolindo pontes.
Sim, e a despeito de tudo, nós, que somos a sementinha sã, o óvulo que espera
ser fecundado pelo melhor do Humanismo e não pelo mais veloz maratonista do
fanatismo, devemos somar esforços e lutar, com unhas e palavras, com dentes e
discursos, com raiva e serenidade, contra aqueles que sequestraram o passado
que corre nas nossas veias e em nome de falsas premissas, de manuseados
dogmas, tentam transformar a herança que é de todos, em instrumento particular
de destruição.
Sim, Rosh Hashaná nos exige um compromisso de respeitar os valores herdados
geração trás geração, shtetl após shtetl, pioneiro após pioneiro, impedindo
que o sonho irrealizável de Eretz Israel hagdolá (o Grande Israel) acabe por
destruir tudo que foi construido: uma pátria fértil, um chão comum, o império
do Direito sobre os dogmas, e do Parlamento sobre todas as coisas.
Sei que vocês, todos, amigos queridos, companheiros de viagem, são feitos
desse material indelével ao efeito corrosivo que hoje está deslegitimando o
Estado de Israel, e por analogia, disseminando um neo-antissemitismo que – se
não lhe pusermos um freio – acabará por ressuscitar in totum o fantasma do
nazismo.
Pessoalmente não sou nada otimista, mas espero e desejo estar errado. O
importante hoje, agora, quando o novo ano toca a campainha da nossa vida, do
nosso povo, da nossa História, é desejar ardentemente e fazer o impossível
acontecer, para que no jantar de Rosh hashaná de 5.773, esta mensagem pareça
saída de um conto de terror, e mais nada.
Que não nos enganemos. Cada um de nós é o Estado de Israel redivivo.
Shaná tová umetuká!
(07 de outubro/2011)
CooJornal
no 756
Bruno Kampel é analista político, poeta e escritor.
Suécia
bruno.kampel@gmail.com
Blog de Bruno Kampel:
http://brunokampel.blogger.com.br
Blog sobre Israel/Palestina:
http://shalomshalom.blogger.com.br
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