22/01/2011
Ano 14 - Número 719

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"Amigo da Cultura"

 


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BRUNO KAMPEL

 

 

 
Bruno Kampel



CHOVE CHUVAAAAA.... CHOVE SEM PARAR...
 

Esta tragédia que agora se cobra um preço em vidas indigno e abusado, tem um precedente que a explica. Sim, o motivo para tanta morte sem sentido e certamente todas evitáveis, começou quando as contas bancárias dos responsáveis de administrar os dinheiros públicos inundaram-se com a enxurrada de verbas e dotações orçamentárias desviadas, e ninguém apareceu para limpar esses "bueiros" entupidos com toneladas de corrupção e cumplicidade.

Sim. Essas enchentes nasceram quando começaram a brotar barracos, casinhas de barro, conjuntos habitacionais, mansões de luxo, em lugares especialmente frágeis do ponto de vista geológico e da proximidade de rios ou canais, sem que as autoridades mexessem uma só gota do poder que detentam para evitar o que tais construções gritavam aos quatro ventos: que era apenas uma questão de tempo.

O pior – ainda que previsto nas regras que regem o jogo do Poder sem vergonha nem respeito – é que nada de sério se fará, como nada de sério se fez. Que as verbas continuarão a "deslizar" desde os cofres públicos em direção às contas bancárias dos políticos, dos assessores, dos juízes, dos sátrapas locais, e terminarão nas coberturas de frente para mares onde os iates comprados com o dinheiro destinado a tratar as encostas dos morros e canalizar as águas fétidas de esgotos, darão à paisagem um toque primeiromundista, como se do sul da França se tratasse.

E enquanto as formiguinhas cheias de solidariedade e humanidade não param de juntar roupas e brinquedos e utensílios e dinheiro para ajudar a minorar o sofrimento dos danificados, os urubus se organizam para - desde seus cargos bem remunerados, e desde seus mandatos invioláveis - tratar de provocar uma nova enxurrada para que o dinheiro doado pelo povo brasileiro aumente o saldo das suas contas bancárias, reflexo da desumanidade ilimitada que os define.

Sei que não são todos, mas sei que são muitos, os que se aproveitam da dor alheia – e mais do que isso, os que a geram – para praticar com total impunidade o delito de corrupção ativa e passiva que desta vez se saldou com a morte de quase mil pessoas. E o pior, e o que dói, é que nada acontecerá para que esse estado de putrefação ética chegue ao seu fim.

No que me diz respeito, aguardarei a próxima enchente, o próximo deslizamento, a próxima inundação, os próximos enterros, para voltar a chorar palavras de impotência.


(22 de janeiro/2011)
CooJornal no 719


Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Suécia
bruno.kampel@gmail.com  
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