A concessão do premio Nobel da paz (com minúscula) a um dissidente chinês, tem muitas leituras possíveis. Desde a causa justa que ele defende e pela qual foi injustamente punido com pena de prisão, até a defesa dos valores democráticos como melhor forma de convivência. Mas o que mais pesa; o que realmente importa, é a flagrante hipocrisia que motivou e justifica a premiação, pois basta com lembrar o nome do galardonado do ano passado para entender o que estou dizendo.

Sim, o presidente dos Estados Unidos, comandante em chefe na guerra do Afganistão, no Iraque do qual não acabam de sair, e principalmente nessa mancha negra chamada Guantânamo – que sem dúvida são os mais relevantes exemplos de desrespeito à democracia havidos nas últimas décadas - foi galardonado com o mesmo prêmio em 2009. Pode?...

Faz o que eu digo mas não o que eu faço. Essa parece ser a tendência imperante na hora de premiar a uns e não a outros.

Não duvido – como não duvidei quando da premiação de Obama – que muitas pessoas, grupos e/ou organizações, que fazem pela paz mundial muito mais que o dissidente – teriam muito mais direito a receber o prêmio, por mais que a luta do dissidente gere simpatias.


(09 de outubro/2010)
CooJornal n^o 705

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Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Suécia
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