11/09/2010
Ano 13 -
Número 701
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"Amigo da Cultura"
ARQUIVO
BRUNO KAMPEL
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Bruno Kampel
A
propósito de armários
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Gostava de mulheres. Não adiantava tentar forçar a natureza. Sabia que na hora
que saísse do armário se armaria um barraco monumental entre a maioria das
pessoas que frequentava, e nos clubes e nos almoços só se falaria disso.
Na verdade não era nada fácil, porque gostar de mulher – por mais que
dissessem o que dissessem sobre o Rio, a modernidade, o século XXI – era quase
que um estigma.
Enquanto se arrumava pensava que por mais que tentasse evitar, essa tendência
ficaria evidente - como estava sendo ultimamente - cada vez que uma mulher
atrativa ficasse perto. Sim, não poderia controlar as faíscas nos olhos nem o
ligeiro rubor nas faces nem o perceptível tremor do lábio superior. Era mais
forte do que qualquer tentativa de neutralizar essas manifestações da libido.
Olhou pela última vez a sua imagem refletida no espelho, e saiu. Dirigiu de
forma automática até o lugar do encontro. Como supunha, os “homens” todos
depilados, cheirando a creme, com corpos bem modelados no ginásio, com bundas
arrebitadas. No grupo ao que se juntou, apenas duas mulheres rompiam a
unanimidade.
Uma delas, a verdade seja dita, era gloriosa. Madura como gostava; loura como
gostava; deliciosamente feminina como gostava. E então perdeu as estribeiras e
decidiu dar o passo definitivo para fora do armário, e num rompante de coragem
que nem sabia que possuía, aproximou-se dela e perguntou sorridente: “oi...
gostaria de dançar?”... ao que ela respondeu primeiro com um sorriso que não
conseguia esconder a sua enorme surpresa, e depois de uns segundos que
pareceram horas - nos quais certamente estaria pesando as consequências da sua
resposta - com um tímido abanar afirmativo da cabeça.
Já na pista, e enquanto davam os primeiros passos sob os olhares estupefatos
daqueles que estavam perto, a loura perguntou: “Já nos conhecemos?”..., e a
resposta foi imediata: acho que não. Me apresento: Meu nome é Bernardo, e sim,
acredite se puder, gosto de mulheres!...
Ela se encostou nele e "sentiu" a prova de que era verdade. Que ele não só
gostava de mulheres, mas que estava gostando dela.
E assim o segredo do Bernardo virou notícia: o homem que gostava de mulher!
Acredite quem quiser.
(11 de setembro/2010)
CooJornal
no 701
Bruno Kampel é analista político, poeta e escritor.
Suécia
bruno.kampel@gmail.com
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