Talvez você conheça a dor pungente que a metamorfose do amor em desamor produz na sua vítima. Sim, essa dor com nome impublicável que transforma olhares doces em lágrimas de fel e boas intenções em duras traições.

Talvez você tenha provado a solidão em todos os sabores disponíveis, inclusive a solidão a dois que é a mais azeda. Sim, essa solidão que nasce do amor não correspondido e frutifica no desamor sem justa causa.

Talvez você saiba definir nos mínimos detalhes o gosto, a consistência, a profundidade, desse precipício em preto-e-branco onde se espatifam tantas ilusões.

Talvez você tenha sentido o gosto a desgosto que o desquerer, que o semquerer, que o malquerer, costuram nas batidas do coração e imprimem nas páginas da alma.

Talvez você saiba explicar o amargor que o desquerendo e o semquerendo e o malquerendo injetam na consciência e talham na memória

Talvez você tenha blasfemado em nome do desencanto parido por um amor finito, por um amor falido, por um amor finado.

Talvez você alguma vez tenha desprezado a todos os deuses e diabos por não impedirem que o Amor abandonasse a luta e declarasse uma falência fraudulenta.

Talvez você tenha jurado nunca mais repetir essa paixão que transforma corpo em música e alma em verso, e tenha incumprido o juramento.

Talvez você mil vezes tenha prometido não reincidir nesse amar e ser amado, mas mil vezes tenha pago de bom grado o alto preço de tropeçar na mesma pedra.

Se respondeu que sim a algum, a vários ou a todos os “talvez”, então saiba que não está só nessa empreitada.

E se ainda acredita que o Amor é possível e merece ser buscado; e que a Felicidade é alcançável e vale a pena procurá-la, então tenha certeza que estamos no mesmo barco navegando o mesmo rio remando na mesma direção a caminho do mesmo porto.

Sim, acredite... Somos muitos.



(03 de abril/2010)
CooJornal n^o 678

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Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Reside atualmente na Suécia.
bruno.kampel@gmail.com  
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Blog sobre Israel/Palestina: http://shalomshalom.blogger.com.br