Um estrondo: a verdade
em pessoa compareceu
avançando entre os homens,
até o centro do turbilhão de metáforas.
(Paul Celan)
O judeu Paul Celan - o maior poeta do século XX em língua alemã - nasceu em
Czernowitz, como Rose Auslander, Robert Kittner, Alfred Margul Sperber, Alfred
Gong ou o contista Gregor von Rezzori, e fez parte - junto com eles - da
riquíssima safra de intelectuais que dominou o panorama cultural dessa Babel
de entre-guerras em que se transformara a cidade. Austríacos, russos,
poloneses, alemães, romenos, tchecos, ucranianos, judeus de todas essas
nacionalidades, etc.
A família de Celan, que usava o sobrenome (Antschel) e não um anagrama como o
poeta o fazia invertendo as sílabas do sobrenome: (An-tschel/Tschel-an), foi,
nalgum nefasto dia do nefasto ano de 1941, embarcada num transporte para a
Transnitria, essa bucólica região entre os rios Bug e Dniester, conhecida hoje
como a Auschwitz romena, em "homenagem" às atrocidades nela cometidas pelos
nazistas e seus cúmplices romenos.
O não ter ido com eles, essa sensação de culpa por haver sobrevivido -
bastante comum a muitos dos nitzolei shoá (sobreviventes do Holocausto) -
pautou a vida desse enorme símbolo da sensibilidade emocional e da capacidade
intelectual que foi Celan.
Os sobreviventes como ele - sejam poetas ou mecânicos, pianistas ou
carpinteiros - são verdadeiros artesãos da sobrevivência, que com a sua vida e
com a sua força de vontade escreveram e escrevem dia-a-dia o melhor e mais
universal dos poemas, gravando na consciência e na percepção das gerações de
após-guerra, os versos escritos pela memória histórica do povo judeu.
Portanto, valeu a pena, mesmo que não tenha sido mais do que para tal fim, ter
sobrevivido ao inferno nazista.
(19 de maio/2007)
CooJornal
no 529