20/01/2007
Nero - 512

ARQUIVO
BRUNO KAMPEL

 
Bruno Kampel



O DESEMBARGADOR LADRA E OS JUDEUS PASSAMOS.
E PASSAREMOS.
 

 

Ao desembargador que embarga a verdade e desembarga a mentira:

Vosmicê não me conhece, nem creio que me conhecerá no futuro.

Como introdução, basta dizer que sou um judeu brasileiro de nascimento que a intolerância fardada centrifugou há muitos anos para longe da sua pátria.

Se bem tenho os pés banhados pelo frio mar Báltico, o meu coração passeia incessantemente pelas ruas e becos e ruelas e largos e travessas do Rio de Janeiro, e não nego que a minha herança genética sobrevoa os tetos das sinagogas de Jerusalém, e minha emoção deita raízes no chão da história do povo judeu, regado com o sangue de não poucos familiares que morreram nos campos de concentração e nos fornos crematórios, esses mesmos campos e fornos cuja existência os anti-semitas de sempre e os revisionistas de hoje tanto gostam de pôr em dúvida.


Bem, para que saiba e comece a aprender o que já devia conhecer há muito tempo para que se lhe permitisse galgar até os altos postos da Administração de Justiça do Brasil, ser brasileiro e judeu é uma belíssima e emocionante soma e não uma triste divisão, e se necessário – como quando alguma macróbio desembargador vomita sua diatribe - se transforma numa multiplicação de valores e princípios, e não numa dicotomia ambivalente como gostam de dizer de forma tão pouco sutil os anti-semitas como vossência).

Por quê lhe escrevo, então? Porque tenho recebido cópia de algumas mensagens que judeus brasileiros e não judeus brasileiros remeteram à sua “pessoa” e ao redator de Carta Capital, que foi o espaço que escolheu para ejacular sua verborréia – tão indigesta quão estéril.

Uns, o fazem usando uma linguagem amena e minimalista; outros, atacando o problema com ênfase nos adjetivos desqualificativos em relação ao autor; alguns, perdendo as estribeiras. Como dizem os que sabem, apenas uma questão de estilo, porque sejam os missivistas esquerdistas ou direitistas, sionistas ou religiosos, ateus ou fundamentalistas, poderá encontrar um denominador comum: o desprezo pelo que se atreveu a dizer (a catilinária anti-semita de praxe, defendendo o direito de discriminar e punindo o direito de defesa dos discriminados), e em conseqüência desprezo pela sua própria pessoa, porque abusou do direito que lhe assiste de dizer o que pensa para dizer o que não se pode. A Justiça defende a Verdade e não a Infâmia, a Opinião e nunca a Manipulação, e um desembargador, ainda que aposentado, continua sendo um desembargador, e por tanto obrigado a defender os princípios de Direito, e não a maculá-los

Sim, “desembargador do revisionismo histórico”. Sua carta-artigo – digna de ser escrita na porta de algum banheiro público mas jamais publicada numa revista que pretende ser um veículo de disseminação da verdade e da honestidade intelectual – é nada mais e nada menos do que um crime claramente tipificado na Constituição e no Código Penal Brasileiro. Espero que tenha a oportunidade de comprová-lo quando chamado a declarar como imputado num delito de discriminação racial e religiosa, se as autoridades comunitárias judaicas agirem, e não se omitirem como o fizeram no passado (Georges Bourdoukan em Caros Amigos, Marilena Felinto na mesma revista, etc.).

Se assim for, recomendo-lhe que contrate advogado, e que lhe passe para leitura a sentença do caso Siegfried Ellwanger. Parece feita a medida para pessoas como o deslustrado desembargador. Esperemos e veremos.

Fique ciente que muitos faremos o possível para que o assunto não morra na praia como no caso Bourdoukan, mas que desta tenha que – quando a Justiça se pronunciar - engolir palavra por palavra toda a prosopopéia mentirosa que vomitou nas páginas de Carta Capital. Igual sorte merece o editor da revista, se não se distanciar publicamente de tais declarações.

Passe mal,

Bruno Kampel


Lembrete, para os que não sabem que é essa Marilena Felinto:

“Está claro que o rabino H. Sobel, ao pedir a instituição da pena de morte no Brasil, só ousou fazê-lo porque a jovem morta, Liana Friedenbach, pertencia à comunidade judaica de São Paulo. A hipocrisia do rabino é flagrante: está claro que ele defende a pena de morte para brasileiros pobres. No seu delírio, o rabino deve ter achado que aqui é uma espécie de Israel – e que a esmagadora maioria dos brasileiros, da classe pobre, é uma espécie de Palestina a ser eliminada da face da terra! Ora, até que ponto se pode chegar?

(Marilena Felinto), em Caros Amigos”




(20 de janeiro/2007)
CooJornal no 512


Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Reside atualmente na Suécia.
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