Ao desembargador que embarga a
verdade e desembarga a mentira:
Vosmicê não me conhece, nem creio que me conhecerá no futuro.
Como introdução, basta dizer que sou um judeu brasileiro de nascimento que a
intolerância fardada centrifugou há muitos anos para longe da sua pátria.
Se bem tenho os pés banhados pelo frio mar Báltico, o meu coração passeia
incessantemente pelas ruas e becos e ruelas e largos e travessas do Rio de
Janeiro, e não nego que a minha herança genética sobrevoa os tetos das
sinagogas de Jerusalém, e minha emoção deita raízes no chão da história do
povo judeu, regado com o sangue de não poucos familiares que morreram nos
campos de concentração e nos fornos crematórios, esses mesmos campos e fornos
cuja existência os anti-semitas de sempre e os revisionistas de hoje tanto
gostam de pôr em dúvida.
Bem, para que saiba e comece a aprender o que já devia conhecer há muito tempo
para que se lhe permitisse galgar até os altos postos da Administração de
Justiça do Brasil, ser brasileiro e judeu é uma belíssima e emocionante soma e
não uma triste divisão, e se necessário – como quando alguma macróbio
desembargador vomita sua diatribe - se transforma numa multiplicação de
valores e princípios, e não numa dicotomia ambivalente como gostam de dizer de
forma tão pouco sutil os anti-semitas como vossência).
Por quê lhe escrevo, então? Porque tenho recebido cópia de algumas mensagens
que judeus brasileiros e não judeus brasileiros remeteram à sua “pessoa” e ao
redator de Carta Capital, que foi o espaço que escolheu para ejacular sua
verborréia – tão indigesta quão estéril.
Uns, o fazem usando uma linguagem amena e minimalista; outros, atacando o
problema com ênfase nos adjetivos desqualificativos em relação ao autor;
alguns, perdendo as estribeiras. Como dizem os que sabem, apenas uma questão
de estilo, porque sejam os missivistas esquerdistas ou direitistas, sionistas
ou religiosos, ateus ou fundamentalistas, poderá encontrar um denominador
comum: o desprezo pelo que se atreveu a dizer (a catilinária anti-semita de
praxe, defendendo o direito de discriminar e punindo o direito de defesa dos
discriminados), e em conseqüência desprezo pela sua própria pessoa, porque
abusou do direito que lhe assiste de dizer o que pensa para dizer o que não se
pode. A Justiça defende a Verdade e não a Infâmia, a Opinião e nunca a
Manipulação, e um desembargador, ainda que aposentado, continua sendo um
desembargador, e por tanto obrigado a defender os princípios de Direito, e não
a maculá-los
Sim, “desembargador do revisionismo histórico”. Sua carta-artigo – digna de
ser escrita na porta de algum banheiro público mas jamais publicada numa
revista que pretende ser um veículo de disseminação da verdade e da
honestidade intelectual – é nada mais e nada menos do que um crime claramente
tipificado na Constituição e no Código Penal Brasileiro. Espero que tenha a
oportunidade de comprová-lo quando chamado a declarar como imputado num delito
de discriminação racial e religiosa, se as autoridades comunitárias judaicas
agirem, e não se omitirem como o fizeram no passado (Georges Bourdoukan em
Caros Amigos, Marilena Felinto na mesma revista, etc.).
Se assim for, recomendo-lhe que contrate advogado, e que lhe passe para
leitura a sentença do caso Siegfried Ellwanger. Parece feita a medida para
pessoas como o deslustrado desembargador. Esperemos e veremos.
Fique ciente que muitos faremos o possível para que o assunto não morra na
praia como no caso Bourdoukan, mas que desta tenha que – quando a Justiça se
pronunciar - engolir palavra por palavra toda a prosopopéia mentirosa que
vomitou nas páginas de Carta Capital. Igual sorte merece o editor da revista,
se não se distanciar publicamente de tais declarações.
Passe mal,
Bruno Kampel
Lembrete, para os que não sabem que é essa Marilena Felinto:
“Está claro que o rabino H. Sobel, ao pedir a instituição da pena de morte no
Brasil, só ousou fazê-lo porque a jovem morta, Liana Friedenbach, pertencia à
comunidade judaica de São Paulo. A hipocrisia do rabino é flagrante: está
claro que ele defende a pena de morte para brasileiros pobres. No seu delírio,
o rabino deve ter achado que aqui é uma espécie de Israel – e que a esmagadora
maioria dos brasileiros, da classe pobre, é uma espécie de Palestina a ser
eliminada da face da terra! Ora, até que ponto se pode chegar?
(Marilena Felinto), em Caros Amigos”
(20 de janeiro/2007)
CooJornal
no 512