Relampejam idéias iluminando a imaculada solidão da página em branco.
Retumbam no zênite da memória trovões cheirando a inspiração mal dormida,
impedindo o planejado desembarque de um exército de antônimos e sinônimos
armados até os dentes com afiadas frases de destruição em massa.
Um tsunami de palavras que hiberna no fundo do copo de uísque acorda e tenta
inundar com metáforas inteligentes as entrelinhas do tempo que não passa nem
que a vaca tussa, até que a imaginação finalmente reconhece a sua derrota e
foge espavorida da cena do crime, deixando como prova incriminatória um par de
impressões digitais talhadas na pele de um texto fugaz que o papel conseguiu
capturar enquanto o céu furioso ejaculava relâmpagos que pariam trovões que
discursavam gota a gota receitas infalíveis em prosa e verso.
Terminada a apuração da noite em claro, o resultado final do escrutínio foi de
151 palavras em 6 horas.
Sim, já sei... Parece pouquíssimo, não é?... Pois não é. Umas vezes sessenta
páginas são muito pouco e sessenta letras todo um poema. Noutras, nada é muito
e tudo é nada mais que um puro blablablá. Escrever não é fácil.
(23 de outubro/2006)
CooJornal
no 495