Não acredito que seja justo dizer
que Shimon Peres traiu os seus amigos e companheiros.
Não acredito que seja adequado acusar a Peres de ter “esfaqueado” pelas costas
os centenas de milhares de israelenses que votaram nele nas últimas eleições.
Não acredito que seja apropriado acusar Peres de ter traído o programa do seu
partido – o qual ajudou a escrever – ou a herança ideológica de Golda, Ben
Gurion e Rabin.
Não. Não acredito que seja o melhor a fazer, acusá-lo de algo disso em
particular ou de tudo isso em geral.
Creio que sim seja justo, adequado e apropriado, acusar Peres de ter-se
traído, renegando o seu próprio passado, rejeitando suas próprias idéias,
manchando sua própria dignidade.
Traidor de si mesmo. Disso sim que Peres deve ser acusado. Tomara que ele
possa sobreviver a esse “harakiri” ético que acaba de praticar, para que possa
ver com os seus próprios olhos senis e sentir com a pouca percepção que os
seus muitos anos lhe deixaram intacta, o dano irreparável que provocou a si
mesmo, e, certamente, as metástases malignas que essa auto-traição esparramou
sobre as páginas da história da sua vida.
Nem condená-lo, nem execrá-lo. Compadecer-se dele e ignorá-lo.
(03 de dezembro/2005)
CooJornal
no 453