03/12/2005
Número - 453

ARQUIVO
BRUNO KAMPEL

 
Bruno Kampel



PERES. A GRANDE TRAIÇÃO
 

Não acredito que seja justo dizer que Shimon Peres traiu os seus amigos e companheiros.

Não acredito que seja adequado acusar a Peres de ter “esfaqueado” pelas costas os centenas de milhares de israelenses que votaram nele nas últimas eleições.

Não acredito que seja apropriado acusar Peres de ter traído o programa do seu partido – o qual ajudou a escrever – ou a herança ideológica de Golda, Ben Gurion e Rabin.

Não. Não acredito que seja o melhor a fazer, acusá-lo de algo disso em particular ou de tudo isso em geral.

Creio que sim seja justo, adequado e apropriado, acusar Peres de ter-se traído, renegando o seu próprio passado, rejeitando suas próprias idéias, manchando sua própria dignidade.

Traidor de si mesmo. Disso sim que Peres deve ser acusado. Tomara que ele possa sobreviver a esse “harakiri” ético que acaba de praticar, para que possa ver com os seus próprios olhos senis e sentir com a pouca percepção que os seus muitos anos lhe deixaram intacta, o dano irreparável que provocou a si mesmo, e, certamente, as metástases malignas que essa auto-traição esparramou sobre as páginas da história da sua vida.

Nem condená-lo, nem execrá-lo. Compadecer-se dele e ignorá-lo.

 



(03 de dezembro/2005)
CooJornal no 453


Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Reside atualmente na Suécia.
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