Uma negritude uma tormenta um cinza amargo. Um desespero amordaçado. O eco do
ódio manchando o caminho. Uma reumática verdade ajoelhada. Uma vingança
reciclável. Um fracasso acaso pagão acaso divino acaso um descaso ou apenas
fracasso.
Duas meias verdades. A esperança encarcerada em uma e outra. Uma bomba poliglota
assina a hipoteca do futuro. Um discurso de destruição em massa arrota a versão
Beta do novíssimo testamento. Uns mortos inocentes e outros vivos bem culpados.
Três tigres de pólvora afiam as unhas colaterais enquanto seiscentos e oito
motivos para que a paz seja viável agonizam por decreto sem pena nem glória. Uma
sem-vergonhice indomável. Um Oriente Médio rachado ao meio e dois povos
despedaçados no meio. Uma região três religiões mil esbarrões. Deus não existe
diria o próprio se somasse o sangue em seu nome derramado.
Como sempre, morrem inocentes por sê-lo e governam os culpados por igual motivo.
Em todos os idiomas e em todos os canais sempre haverá quem patrocine uma
guerra, quem glorifique umas mortes, quem viva dos dividendos pagos pelo sangue
alheio. Sempre faltarão vozes que gritem verdades e mãos que aplaudam esses
gritos que dizem verdades.
Assim estão as coisas porque assim o quer o deus que é cada um dos cavaleiros
deste Apocalipse insuportável.
Sangue que te quero sangue, ordena o general da banda interrompendo a cantiga de
roda dos que ainda esperam.
Bêbado de desesperança, tropeço na realidade e antes de cair no chão de mim
mesmo me prometo e me juro que nunca nunca voltarei a beber a primeira manchete
de jornal que anuncie a vitória da insensatez sobre o cordura ou vice-versa.
(24 de setembro/2005)
CooJornal
no 443