Diferentemente das doenças físicas, as quais devem ser abordadas pelo médico a
partir dos seus sintomas para poder encontrar um tratamento eficaz, a Política
deve ser julgada de trás para frente, do fim para o princípio, comparando-se o
resultado final com o diagnóstico inicial, ou seja, verificando se o tratamento
aplicado tinha relação com os sintomas e conseguiu acabar com a doença e os seus
efeitos colaterais.
O PT soube detectar com precisão a enfermidade que corroía o conteúdo e o
continente do sistema político brasileiro, e sugeriu no seu programa de governo
um tratamento de choque geral e doloroso para erradicar o mal pela raiz. É por
isso que dá pena, que provoca angústia, que gera dor, que produz desespero e
ódio, constatar que, mesmo antes de aplicar a primeira dose do remédio, o médico
contagiou-se e caiu vítima de igual moléstia.
As lideranças do PT - principalmente Lula - demonstraram o que pelo menos alguns
já sabíamos: que o discurso e as boas intenções não são armas suficientemente
destrutivas na hora de enfrentar-se à adulação pessoal e à corrupção
institucional, pois enquanto a primeira serve para encher e anestesiar o ego dos
destinatários, a última é usada para encher os bolsos das pessoas e dos partidos
que em nome do povo exercem o poder, e em nome desse Poder se locupletam à custa
do povo.
A conseqüência é evidente e não sai das manchetes da realidade: o PT acabou bem
acabado e para todo o sempre, e Lula passará à História como aquele líder
carismático que tendo nas mãos a possibilidade real, concreta, tangível, de
mudar para melhor os destinos do país, deixou que a sua fome atávica e a sua
incultura genérica falassem mais alto, optando por satisfazer carências e sonhos
de pobre, ao invés de aplicar o tratamento que prometera ao povo brasileiro. Os
ternos de seda, os vinhos famosos, os perfumes franceses, os tapetes persas,
puderam mais do que a desnutrição e a miséria que se alastra sem freio por toda
a geografia nacional.
Mais do que pena pelo triste e definitivo fim do sonho que o PT carregava na
mochila, ou pelo irreversível escorregão ético de Lula e seus profetas, sinto
muita, muita raiva, porque constato impotente que o PT, que Lula e seus
ministros, que o governo e seus programas, apagaram a luz no fim do túnel. A
única luz do único túnel.
E agora, José?... Pois é... Tudo como dantes no quartel de Abrantes.
(03 de setembro/2005)
CooJornal
no 440