09/07/2005
Número - 428

ARQUIVO
BRUNO KAMPEL

 
Bruno Kampel


 NOTIVAGANDO

 

Semeada com retalhos de horizonte, a estrada convida a colher as suas curvas em flor, e no epicentro do vento em contra a felicidade brinca de esconde-esconde nas entrelinhas de todas as promessas.

Estacionada na janela sem paisagem do tintim por tintim, a realidade tatua um epitáfio sobre a epiderme de um curtido desencontro, e em silêncio agoniza sob os restos sem viço de um ramalhete de respostas sem ouvintes.

Uma perplexidade curta e grossa pendura-se na bainha de um intransigente mau agouro, e doidivana sobrevoa a cordilheira vertebral das íngremes ausências, enquanto as hipóteses se rendem sem luta e feitas verbo ejaculam o seu último suspiro .

Prudente, reduzo a velocidade e tento estacionar a aflição entre os lençóis da minha cama, justo a tempo de poder testemunhar o instante em que o despertador se espreguiça e sem delongas assina o atestado de óbito de outra noite mal dormida.




(09 de julho/2005)
CooJornal no 428


Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Reside atualmente na Suécia.
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