18/06/2005
Número - 425

ARQUIVO
BRUNO KAMPEL

 
Bruno Kampel


SEGREDOS DE ALCOVA

 

Era o verão de 1963, quando muitos de vocês estavam apenas latentes nos planos de um homem e uma mulher que depois seriam seus pais.

O lugar era Copacabana, mais exatamente a esquina da Av. Atlântica e a rua Siqueira Campos.

Sobre essa rua transversal ao mar, no edifício colado ao da esquina da praia, vivia uma donzela de nome Teresinha. Belíssima na plenitude dos seus 17 anos, escolheu-me como alvo dos seus sonhos eróticos, e eu, erotizado pelo seu corpo e seus olhares, não me fiz rogar.

Bom… Sua pele se deixava acariciar agradecida. Suas coxas e o mundo que escondiam exigiam sem delongas a minha presença, e eu obediente comparecia. Sua boca, então, era uma armadilha fatal para a minha. Sua língua escrevia poemas no meu corpo. Suas mãos executavam sinfonias que sempre acabavam num sustenido grito de alegria.

Tivemo-nos durante todo o verão. Jogamos a ganhar e ganhamos. Era a loucura carioca falando mais alto nas nossas veias.

Teresinha se entregava quase toda, sem pudor nem freio. O único que não oferecia e cuidava como se de um tesouro se tratasse, eram os seus peitos – tetitas de diosa – que guardava para entregá-los virgens a quem no futuro fosse o seu marido.

De nada valeram as minhas súplicas, porque quanto mais eu os pedia mais ela os negava.

E foi assim que os seios femininos passaram a ser para mim um fetiche, um objeto sexual imprescindível, já que durante os mais de 40 anos que passaram voando desde aquele verão no Rio de Janeiro, todos os seios que toquei e beijei e acariciei, foram os peitos proibidos da Teresinha da Rua Siqueira Campos de Copacabana.

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Nota do rodapé

Nem sequer o simples contato de seu peito sobre o meu foi viável, porque ela jamais tirou o sutiã, já que até o inocente privilégio de olhá-los o reservava para o príncipe encantado. E nesses tempos pré-históricos respeitávamos os desejos das mulheres. Sem tapa na cara e depois o beijo; sem os jogos brutais dos dias que correm. Éramos ainda escravos do cavalheirismo e do respeito.

Hoje, o sexo está reduzido a um mero orgasmo. Na antigüidade dos anos 60 o que valia mais era procurar o caminho, e não o encontro do mesmo.

Aproxima-se a galope o dia em que ela o presenteará com uma bela mão eletrônica que o masturbe, e ele a ela com um grande dedo que a penetre. Usarão o telefone celular para comunicar-se, e então cada um apertará no botão ON do presente recebido e copularão até que um deles desligue o telefone, seja porque está tocando a campainha da porta ou porque a água no fogo está fervendo ou simplesmente porque chegou a hora do Chat na Internet.


Nota do rodapé do rodapé

Essa velha lembrança fortalece a minha idéia no sentido de que o nosso problema, e o de quase todos, é que definimos o sexo tal e qual o entendemos subjetivamente, quando na verdade ele é um compartimento da nossa vida que aceita múltiplas definições ou explicações. Move montanhas, mas também cai esgotado; gera felicidade, mas também desilusão; ensina-nos a voar, mas também nos põe de joelhos.

Com o amor ocorre a mesma coisa, já que não passa de ser uma doença benigna cujos sintomas mais conhecidos são os calafrios que provoca o só pensar que um dia se acabe; temores e tremores de todo tipo e intensidade; dependência psíquica e física em relação ao outro; enormes nós na garganta cada vez que ele ou ela não chega; angústia quando ele ou ela não está; felicidade quando o encontro é possível; lágrimas de dor quando o ser amado se afasta, e de alegria quando volta. Sim, o amor é uma doença nada contagiosa que se cura com uma simples traição, ou com o cansaço e o dejá vù que a rotina gera, ou com o tédio que a monotonia usa para desgastar os sentimentos.

O que sim parece provado acima de qualquer suspeita, é que o sexo sem amor é tão saudável e gratificante para uns e nada saudável nem gratificante para outros, como o amor sem sexo, e o sexo com amor muito mais desejável e praticável que o desamor e a abstinência.

Quando chegar o dia do sexo sem sexo com que o futuro nos acena, terá chegado também o tempo do amor sem amor, e então deus passará a ser um especialista em mutação genética e clonagem, e o paraíso um belo e sedutor tubo de ensaio.

Eu, enquanto a mãe natura o permita, seguirei os passos dos adoradores do sexo oposto, e tratarei de agir da forma mais adequada e antiquada que existe: homem procura mulher e vice-versa. Homem e mulher jogam o jogo que mais gostam, até que o cansaço os adormeça até o próximo jogo.



(18 de junho/2005)
CooJornal no 425


Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Reside atualmente na Suécia.
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