Bruno Kampel
SEGREDOS DE ALCOVA |
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Era o verão de 1963, quando muitos
de vocês estavam apenas latentes nos planos de um homem e uma mulher que depois
seriam seus pais.
O lugar era Copacabana, mais exatamente a esquina da Av. Atlântica e a rua
Siqueira Campos.
Sobre essa rua transversal ao mar, no edifício colado ao da esquina da praia,
vivia uma donzela de nome Teresinha. Belíssima na plenitude dos seus 17 anos,
escolheu-me como alvo dos seus sonhos eróticos, e eu, erotizado pelo seu corpo e
seus olhares, não me fiz rogar.
Bom… Sua pele se deixava acariciar agradecida. Suas coxas e o mundo que
escondiam exigiam sem delongas a minha presença, e eu obediente comparecia. Sua
boca, então, era uma armadilha fatal para a minha. Sua língua escrevia poemas no
meu corpo. Suas mãos executavam sinfonias que sempre acabavam num sustenido
grito de alegria.
Tivemo-nos durante todo o verão. Jogamos a ganhar e ganhamos. Era a loucura
carioca falando mais alto nas nossas veias.
Teresinha se entregava quase toda, sem pudor nem freio. O único que não oferecia
e cuidava como se de um tesouro se tratasse, eram os seus peitos – tetitas de
diosa – que guardava para entregá-los virgens a quem no futuro fosse o seu
marido.
De nada valeram as minhas súplicas, porque quanto mais eu os pedia mais ela os
negava.
E foi assim que os seios femininos passaram a ser para mim um fetiche, um objeto
sexual imprescindível, já que durante os mais de 40 anos que passaram voando
desde aquele verão no Rio de Janeiro, todos os seios que toquei e beijei e
acariciei, foram os peitos proibidos da Teresinha da Rua Siqueira Campos de
Copacabana.
. . . . . . . . . .
Nota do rodapé
Nem sequer o simples contato de seu peito sobre o meu foi viável, porque ela
jamais tirou o sutiã, já que até o inocente privilégio de olhá-los o reservava
para o príncipe encantado. E nesses tempos pré-históricos respeitávamos os
desejos das mulheres. Sem tapa na cara e depois o beijo; sem os jogos brutais
dos dias que correm. Éramos ainda escravos do cavalheirismo e do respeito.
Hoje, o sexo está reduzido a um mero orgasmo. Na antigüidade dos anos 60 o que
valia mais era procurar o caminho, e não o encontro do mesmo.
Aproxima-se a galope o dia em que ela o presenteará com uma bela mão eletrônica
que o masturbe, e ele a ela com um grande dedo que a penetre. Usarão o telefone
celular para comunicar-se, e então cada um apertará no botão ON do presente
recebido e copularão até que um deles desligue o telefone, seja porque está
tocando a campainha da porta ou porque a água no fogo está fervendo ou
simplesmente porque chegou a hora do Chat na Internet.
Nota do rodapé do rodapé
Essa velha lembrança fortalece a minha idéia no sentido de que o nosso problema,
e o de quase todos, é que definimos o sexo tal e qual o entendemos
subjetivamente, quando na verdade ele é um compartimento da nossa vida que
aceita múltiplas definições ou explicações. Move montanhas, mas também cai
esgotado; gera felicidade, mas também desilusão; ensina-nos a voar, mas também
nos põe de joelhos.
Com o amor ocorre a mesma coisa, já que não passa de ser uma doença benigna
cujos sintomas mais conhecidos são os calafrios que provoca o só pensar que um
dia se acabe; temores e tremores de todo tipo e intensidade; dependência
psíquica e física em relação ao outro; enormes nós na garganta cada vez que ele
ou ela não chega; angústia quando ele ou ela não está; felicidade quando o
encontro é possível; lágrimas de dor quando o ser amado se afasta, e de alegria
quando volta. Sim, o amor é uma doença nada contagiosa que se cura com uma
simples traição, ou com o cansaço e o dejá vù que a rotina gera, ou com o tédio
que a monotonia usa para desgastar os sentimentos.
O que sim parece provado acima de qualquer suspeita, é que o sexo sem amor é tão
saudável e gratificante para uns e nada saudável nem gratificante para outros,
como o amor sem sexo, e o sexo com amor muito mais desejável e praticável que o
desamor e a abstinência.
Quando chegar o dia do sexo sem sexo com que o futuro nos acena, terá chegado
também o tempo do amor sem amor, e então deus passará a ser um especialista em
mutação genética e clonagem, e o paraíso um belo e sedutor tubo de ensaio.
Eu, enquanto a mãe natura o permita, seguirei os passos dos adoradores do sexo
oposto, e tratarei de agir da forma mais adequada e antiquada que existe: homem
procura mulher e vice-versa. Homem e mulher jogam o jogo que mais gostam, até
que o cansaço os adormeça até o próximo jogo.
(18 de junho/2005)
CooJornal
no 425
Bruno Kampel é analista político, poeta e
escritor.
Reside atualmente na Suécia.
bruno.kampel@gmail.com
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