07/05/2005
Número - 419

ARQUIVO
BRUNO KAMPEL

 
Bruno Kampel



COMBATENDO O TERRORISMO



 

Redes terroristas não se combatem apenas com bombas, porque dessa forma ao contrário de desaparecer elas crescem e se multiplicam.

Basta abrir um livro de História para comprovar que todos os movimentos terroristas que tinham uma raiz nacional ou religiosa (o IRA irlandês é o melhor exemplo) nasceram por geração espontânea e multiplicaram-se na razão direta da adversidade do terreno que pisavam. E reconheçamos que se fosse possível bombardear com sucesso o terrorismo ele não mais existiria, porque bombas não faltam, nem muito menos a vontade de usá-las.

Quanto ao germe do terrorismo islâmico - que é o que mais nos aflige - ele tem diversas origens e não apenas o mau uso do Corão que fazem alguns manipuladores de consciências.

Refiro-me aos reis, sheiks, emires, príncipes, sultões, ditadores, e suas respectivas cortes nababescas, que privatizaram as riquezas do subsolo dos seus reinos ou países, dos seus emirados, sultanatos ou principados, e a renda provinda da venda dessas riquezas minerais não renováveis (centenas de bilhões de dólares nos últimos anos) foi e continua indo parar muito além das fronteiras dos países geradores, e a anos-luz de distância do desejável usufruto dessa riqueza pelos cidadãos, estando depositada principalmente nos bancos americanos (80%) e na Europa (20%).

Esses governantes, sejam eles inescrupulosos sheiks ou emires, príncipes, reis, sultões ou ditadores, são os grandes inimigos do Islã em particular e do gênero humano em geral, e os principais geradores e financiadores do terrorismo maldito que mantém atemorizado a quase todo o mundo.

Se esses capitais desviados para as arcas dos líderes corruptos tivessem sido investidos nos países de origem, o mundo seria certamente muito mais justo e ameno. Mas não, já que as potências ocidentais e a União Soviética antes de desaparecer, usando métodos conhecidos e provados ao longo do século XX, forçavam e forçam a esses governantes a gastarem a maior parte dos orçamentos nacionais em armas por eles fabricadas, e o pouco ou muito que resta é também investido lá ou nos paraísos fiscais, em bens registrados no nome dos sátrapas de turno ou de seus prepostos.

É decisivo então, para iniciar o processo de extinção da lacra do terrorismo, usar não apenas manu militari, porque ela, quando aplicada sem o necessário complemento político o único que consegue é adicionar sal à ferida, mas atacar a fonte do mal, o foco do contágio, as origens dessa doença que mina a saúde de tantos povos, de tantos países e reinos, de não menos emirados, principados e sultanatos, e cujos reflexos se fazem sentir nos ônibus cheios de inocentes que suicidas palestinos fazem explodir em Israel, ou nas torres gêmeas que desmoronam em Manhattan com milhares de inocentes nas suas entranhas, ou na sinagoga que arde em Paris, ou no cemitério judeu que é maculado em Amsterdã.

Por outra parte, proibido esquecer o fato de que se as reivindicações dos grupos terroristas atuantes em qualquer época ou região forem analisadas com a frialdade necessária, constatar-se-á que no fundo, bem lá no fundo da violência assassina que usam, subjaz um motivo real e compreensível que faz com que alguns daqueles que caíram em cativeiro nas mãos desses grupos - em qualquer época ou região - tenham sofrido o que hoje se denomina "a Síndrome de Estocolmo", que nada mais é do que a compreensão por parte do seqüestrado de que senão todas, pelo menos as mais importantes reivindicações desses grupos terroristas são basicamente justas, e o que produz a rejeição absoluta é o modus operandi deles, ou seja, o inadmissível e intolerável uso da violência indiscriminada contra a população civil.

Reconhecer que o fundo da questão é discutível e negociável é o primeiro passo em direção de uma solução, e não uma carte blanche para o uso da violência, seja a praticada por grupos terroristas, seja a oriunda de decisões de governos estáveis e supostamente democráticos, mas muito pelo contrário, um convite à deposição das armas, servindo tal gesto como detonante de um processo que, se levado a sério por todos os envolvidos, fatalmente conduzirá a uma compreensão recíproca das necessidades de cada uma das partes, ponto de partida de um caminho que culmine num grande acordo no qual os poderosos renunciem a uma fatia do grande bolo, e os menos favorecidos saibam usar essa fatia em benefício de todos.

Theodor Herzl, Ben Gurion, Golda Meir e outros muitos como eles, sonharam com um Estado para os judeus. Depois, arregaçaram as mangas e o transformaram em realidade.

O fim do terror e das causas que o geram é hoje também o sonho de muitos. Pois então, mãos à obra!

 

(07 de maio/2005)
CooJornal no 419


Bruno Kampel  é analista político, poeta e escritor.
Reside atualmente na Suécia.
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