Bruno Kampel
VIOLÊNCIA TERRORISTA: CAUSA OU EFEITO?
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O nível de violência e desumanidade
dos terroristas é quase sempre um produto do nível de violência e desumanidade
dos governantes.
Ou alguém acredita realmente que existiria terrorismo se tantos governos de
tantos países de tantos continentes não se dedicassem a proteger a uma elite de
apaniguados para que esta possa apropriar-se impunemente de todos os meios de
produção e de todas as fontes do capital e de todas as vantagens pecuniárias
reais e imaginárias, deixando que grande parte de população afunde primeiro na
pobreza e finalmente na miséria?
Ou alguém acredita realmente que existiria terrorismo se os governos e os
parlamentos fossem justos na hora de legislar e na de arrecadar os impostos e na
de destinar aos serviços sociais uma fatia do orçamento suficiente para impedir
que a fome e a desproteção social disseminem as suas metástases letais na
maioria dos lares da maioria dos países da maioria dos continentes?
Ou alguém acredita que existiria terrorismo se as promessas eleitorais (onde há
eleições) fossem cumpridas, e se a Justiça Social fosse obrigatória, e
principalmente, se as intenções dos governantes tivessem como objetivo único e
exclusivo o bem comum?
Ou alguém acredita realmente que existiria terrorismo se fossem respeitados os
direitos nacionais de povos submetidos à soberania estrangeira, já seja por obra
e graça de tratados impingidos pelos vencedores aos vencidos, já seja pela
anexação de facto (manu militari) ou de iure (tratados bilaterais)
de parte de territórios ou de povos com características étnicas, história e
língua diversas da do ocupante e/ou anexante?
Não e não e não. Não existiria o terrorismo na proporção alucinante do presente,
já que toda ação – a curto ou a longo prazo – gera uma reação de igual ou maior
proporção. Proibido ignorar – sob pena de pagar um alto preço - que o terrorismo
precisa desesperadamente motivos reais e razões de peso para poder deitar
raízes, desabrochar e frutificar.
Convém não esquecer que sob os cintos carregados de dinamite dos suicidas, ou na
mochila dos guerrilheiros, ou nas entrelinhas dos discursos apocalípticos dos
porta-vozes do fundamentalismo político e/ou religioso, jazem muitas verdades
indiscutíveis e não menos injustiças intoleráveis, todas elas filhas bastardas
de governos que legislam leis flagrantemente discriminatórias que propiciam e
protegem o abuso ilimitado do poder, que é o pai de todos os terrorismos.
Não podemos nem devemos esquecer que comprar um avião de guerra custa mais do
que construir três mil casas populares, e que o preço de um tanque é similar ao
custo de um hospital rural, e que uma bomba inteligente custa tanto quanto os
remédios necessários para atender a cinco mil doentes sem recursos, e que
enquanto os governos continuem optando por comprar o avião e o tanque e a bomba
inteligente, e não as casas populares, e não o hospital e não os remédios, os
motivos que justificam o terrorismo aos olhos de muitos estarão presentes e
latentes, e nós, os passageiros inocentes do trem da vida, seremos como sempre
os que paguem a conta dos aviões e dos tanques e das bombas cada vez mais
inteligentes, e principalmente, seremos candidatos a engrossar a interminável
lista dos mortos inocentes.
(25 de setembro/2004)
CooJornal
no 387
Bruno Kampel é analista político, poeta e
escritor.
Reside atualmente na Suécia.
bkampel@home.se
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