Bruno Kampel
ANO NOVO JUDAICO – ROSH HASHANÁ |
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Apesar do tempo, que é cruel e não descansa; da distância que é enorme e
sempre aumenta; e da incomunicação, que é patente como o silêncio mais
gritante, sobra intato o vínculo intangível dos laços emocionais que
viajam pelo espaço como o eco, encurtando as distâncias em vôo rasante, já
que uma afinidade indestrutível impede que as circunstâncias cortem e
devorem o cordão umbilical eletrônico que nos mantém vivos dentro deste
imenso útero cibernético.
Ainda que não sejamos muito amigos das datas históricas nem dos festejos
pátrios ou comemorações religiosas, podemos constatar que esses referentes
muitas vezes servem para reunir as famílias fraturadas pelo passo
inexorável do tempo; para reatar laços de amizade desamarrados pelas mãos
inclementes da distância; para juntar os cacos do que alguma vez fora um
todo harmônico; para o reencontro de emoções perdidas; para aproximar
amigos afastados, tios zangados, pais esquecidos, filhos rebeldes, irmãos
incomunicados, que não por essas circunstâncias são menos queridos; ou
para reviver lembranças dos que já não estão conosco, que não por
pertencerem ao passado estão menos presentes.
Ainda que neste mundo cada vez mais virtualizado e globalizado e
desumanizado pouco ou nada nos conheçamos, e nos faltem as palavras
adequadas para dignificar e traduzir com exatidão os nossos sinceros
desejos de felicidade, não devemos deixar passar esta oportunidade de
reincidir, e abusando dos chips, dos megabites, de seus robustos filhos os
kilobites, e de seus netinhos os pequenos bites, redigir umas poucas
linhas tortas como estas, através das quais transmitir os nossos votos
profundos e sinceros de que o novo ano que agora toca a campainha da porta
da nossa vida traga tranqüilidade e paz interior para todos.
Rosh Hashaná, para os judeus crentes ou menos, para os judeus ateus ou
mais, é uma data cuja simbologia contém uma enorme carga de significados,
e é de se esperar e desejar que eles sirvam para que cada um de nós possa
encontrar as respostas que nos ajudem a crescer sempre, a melhorar mais, a
conviver melhor, e a colher os frutos de nossa lavoura
É hora de terminar esta mensagem...
...olhando pela janela o agonizar de muitas coisas: das horas que morrem,
do dia que sucumbe, do ano que murcha, e respeitando a simetria da vida -
na mesma janela e com os mesmos olhos - contemplando o desabrochar de
tantas outras: das horas que nascem, do dia que emerge, do novo ano que
assume o poder, e da esperança que ressuscita; sim, essa esperança
insistente e persistente que não se rende, apesar de ter motivos de sobra
para não desejar continuar vivendo.
Feliz ano novo! Shaná tová umetuká!
(11 de setembro/2003)
CooJornal
no 331