Bruno Kampel
DESCADASTRAMENTO
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Tomara fosse possível descadastrar do dia-a-dia a ignomínia que rege o
exercício do Poder, como possível é para a maioria dos governos
descadastrar-se do respeito aos direitos humanos, bastando-lhes fazer um
giro de 90 graus para ficarem de costas para o povo.
Tomara fosse possível descadastrar da memória da Humanidade as manchas
negras que o abuso de poder está imprimindo nas entrelinhas da História de
quase todos os povos, como possível é para a maioria dos governos
descadastrar-se das mágicas promessas que incluíram nos seus discursos
eleitoreiros, bastando-lhes apenas dar o dito por não dito.
Tomara fosse possível descadastrar do Poder a corrupção institucionalizada
e a prevaricação, como possível é para a maioria dos governos
descadastrar-se da honestidade de propósitos que juraram respeitar nos
seus programas de governo, bastando-lhes apenas institucionalizar por
decreto a mentira oficial e a fraude argumental.
Tomara fosse possível descadastrar do mapa a todos os políticos
inescrupulosos que pululam pela geografia da realidade, que saltitam pelas
páginas dos partidos, que nos olham desde as manchetes policiais, que
conspiram desde as bancadas parlamentárias, que transitam pelos gabinetes
oficiais e se locupletam pelos ministérios, como possível é para a maioria
dos governos descadastrar aos cidadãos dos seus mais básicos direitos,
bastando-lhes apenas ignorar os princípios básicos da democracia.
Tomara fosse possível evitar que os povos sucumbam vítimas das armadilhas
tendidas pelos manipuladores de sempre, que para hipnotizar gente de
boa-fé usam aromáticas receitas de futuro, preparadas e condimentadas com
muitas lentejoulas que escondem sob o seu falso brilho o sorriso cínico de
uma grande falta de ética e as unhas afiadas de uma enorme dose de
sem-vergonhice, como possível é para a maioria dos governos descadastrar-se
da obrigação de servir à mesa do povo um puro e simples e saboroso prato
feito de boas intenções e condimentado com muito, mas muito respeito pelos
comensais.
Tomara fosse possível extirpar o desânimo e a desesperança e o
desinteresse que comandam o agir, o ser e o estar de quase todos os povos,
como é possível para a maioria dos governos inculcar no povo o desânimo, a
desesperança e o desinteresse.
Tomara tudo isso fosse realmente possível. Tomara.
(12 de abril/2003)
CooJornal
no 310